Virginia Giuffre: quem era a mulher que acusou Jeffrey Epstein e o príncipe Andrew de abuso sexual
Crédito, Reuters
- Author, Redação
- Role, BBC News Mundo
Atenção: a reportagem a seguir pode trazer detalhes sensíveis para algumas pessoas.
A família dela confirmou no sábado (26/4) que a causa da morte foi suicídio.
Mãe de três filhos, ela foi encontrada morta na quinta-feira (24/4) em uma fazenda localizada na Austrália.
A polícia informou que ela estava em casa e que, embora a investigação esteja em andamento, não há indícios de circunstâncias suspeitas no caso.
Giuffre foi uma das principais vozes a acusar de Epstein e a ex-parceira dele, Ghislaine Maxwell. Ambos foram condenados por crimes sexuais.
Epstein cometeu suicídio em agosto de 2019 enquanto estava na prisão e aguardava um novo julgamento.
Giuffre também acusou o príncipe Andrew da Inglaterra de abuso sexual — uma acusação que ele nega veementemente.
Em um comunicado divulgado na sexta-feira (25/4), a família de Giuffre a descreveu como uma “guerreira feroz na luta contra o abuso sexual” e observou que “o peso do abuso se tornou insuportável”.
Eles acrescentaram que ela perdeu a vida em consequência de uma vida marcada pelo abuso sexual e pelo tráfico de pessoas.
Giuffre morava na região australiana de North Perth com o marido, Robert — embora relatos recentes indiquem que o casal havia se separado após 22 anos de casamento.
Três semanas antes, ela havia postado no Instagram que sofrera um grave acidente de carro.
Uma infância ‘roubada’
Virginia Giuffre, cujo nome de batismo era Virginia Roberts, nasceu em 1983 no estado da Califórnia, nos Estados Unidos.
Mais tarde, sua família se mudou para a Flórida.
Aos 7 anos, ela disse que foi abusada sexualmente por um amigo da família e teve a “infância rapidamente roubada”.
Crédito, Getty Images
“Eu já estava tão prejudicada mentalmente em uma idade tão jovem que fugi”, disse ela ao programa Panorama da BBC, numa entrevista em 2019.
Durante a infância, Giuffre passou por vários lares adotivos.
Aos 14 anos, já vivia nas ruas, onde, segundo ela, só encontrava “fome, dor e mais abusos”.
No ano 2000, enquanto tentava reconstruir a vida, ela conheceu a socialite britânica Ghislaine Maxwell.
Giuffre trabalhava como atendente num resort de Mar-a-Lago que pertencia a Donald Trump quando Maxwell ofereceu uma entrevista para que ela se tornasse massoterapeuta.
“Corri para o meu pai, que trabalhava nas quadras de tênis de Mar-a-Lago. Ele sabia que eu estava tentando consertar a minha vida, e foi por isso que me arranjou aquele emprego. Eu disse a ele: ‘Você não vai acreditar'”, ela lembrou.
Quando Giuffre chegou à casa de Epstein, ela disse que ele estava deitado nu e Maxwell forneceu instruções sobre como massageá-lo.
“Naquela época, eles fizeram perguntas sobre quem eu era”, lembra ela.
“Eles pareciam pessoas legais, então confiei neles e disse que tive uma vida muito difícil até então: que fui fugitiva, abusada sexual e fisicamente… Essa foi a pior coisa que eu poderia ter dito, porque agora eles sabiam o quão vulnerável eu era”, disse ela à BBC.
O que Giuffre esperava ser uma entrevista de emprego se transformou no início de anos de abuso, segundo o relato dela.
Crédito, Getty Images
Maxwell foi considerada culpada por recrutar e traficar mulheres jovens para serem abusadas por Epstein. Ela aguarda a sentença do caso.
Embora o nome de Giuffre tenha sido mencionado repetidamente durante o julgamento, ela não foi uma das quatro mulheres que testemunharam no tribunal.
Maxwell negou tê-la agredido sexualmente.
Em 2015, Giuffre entrou com uma ação por difamação contra Maxwell, após ser acusada de mentir.
O caso foi posteriormente encerrado com um acordo extrajudicial.
Acusações contra o príncipe Andrew
Giuffre afirmou ainda que deixou de ser abusada por Epstein para ser “passada de um lado para o outro como uma bandeja de frutas” entre poderosos, enquanto viajava pelo mundo em jatos particulares.
Ela afirmou que em 2001, quando tinha 17 anos, Epstein a levou para Londres, no Reino Unido, e a apresentou ao príncipe Andrew.
Uma fotografia famosa, que segundo ela foi tirada naquela noite, mostra o príncipe com o braço em volta de Giuffre.
Na mesma imagem, Maxwell sorri ao fundo.
Crédito, Virginia Roberts
Depois de ir a uma boate, Giuffre afirmou que Maxwell disse que ela “tinha que fazer com Andrew o que havia feito com Epstein”.
“Foi um momento muito assustador na minha vida… Eu não estava acorrentada, mas essas pessoas poderosas eram minhas correntes”, afirmou ela à BBC.
Em seu processo civil, Giuffre alegou que o príncipe a agrediu sexualmente em três ocasiões: na casa de Maxwell em Londres naquela noite e, mais tarde, nas propriedades de Epstein em Manhattan e em Little St. James, nas Ilhas Virgens Americanas.
O príncipe Andrew, segundo filho da rainha Elizabeth 2ª, disse em uma entrevista de 2019 ao programa BBC Newsnight que não se lembrava de ter conhecido Giuffre.
Ele também negou que eles tenham feito sexo nos EUA ou no Reino Unido.
A fuga
Giuffre disse ao jornal Miami Herald que, em 2003, Epstein havia perdido o interesse porque ela era “velha demais” para ele.
Ela alegou que o convenceu a pagar por seu treinamento para se tornar uma massagista profissional e que ele custeou um curso para ela na Tailândia.
Em troca, esperava-se que ela trouxesse uma garota tailandesa para os Estados Unidos.
No entanto, Giuffre conheceu um homem durante a viagem, apaixonou-se, e casou-se com ele dez dias depois.
O casal mudou-se para a Austrália com o objetivo de começar uma família.
Recentemente, ela morava em uma casa grande na costa de Perth com o marido e os três filhos.
Giuffre fundou uma organização sem fins lucrativos dedicada a “educar e defender as vítimas do tráfico”.
Após a condenação de Maxwell, Giuffre disse à revista New York Magazine: “Isso definitivamente não acabou.”
“Há muito mais pessoas envolvidas”, afirmou ela.
**Caso seja ou conheça alguém que apresente sinais de alerta relacionados ao suicídio, ou caso você tenha perdido uma pessoa querida para o suicídio, confira alguns locais para pedir ajuda:
– Em casos de emergência, outra recomendação de especialistas é ligar para os Bombeiros (telefone 193) ou para a Polícia Militar (telefone 190);
– Outra opção é ligar para o SAMU, pelo telefone 192;
– Na rede pública local, é possível buscar ajuda também nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Pronto Atendimento (UPA) 24h;
– Confira também o Mapa da Saúde Mental, que ajuda a encontrar atendimento em saúde mental gratuito em todo o Brasil.