Tucker Carlson: quem é o controverso direitista que entrevista alguns dos maiores rivais dos EUA?
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O jornalista americano Tucker Carlson construiu uma carreira com base em opiniões contundentes e entrevistas com grandes nomes. Ele foi o primeiro jornalista ocidental a entrevistar o presidente russo, Vladimir Putin, após a invasão de seu país à Ucrânia em fevereiro de 2022, e agora chamou a atenção do mundo mais uma vez ao entrevistar o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian.
Em sua primeira entrevista à imprensa americana desde o fim da guerra entre Irã e Israel — publicada online e nas redes sociais nesta segunda-feira (7/7) —, Pezeshkian afirmou que Israel tentou assassiná-lo.
“Eles tentaram, mas não conseguiram”, declarou Pezeshkian, antes da reunião do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, com o presidente dos EUA, Donald Trump, em Washington.
Carlson perguntou se o Irã estava aberto à diplomacia e se estava disposto a abrir mão do seu programa nuclear em troca da paz.
Pezeshkian respondeu que o Irã não começou a guerra e não queria que ela continuasse.
“Netanyahu, desde 1984, criou essa falsa mentalidade de que o Irã busca uma bomba nuclear e (…) colocou isso na cabeça de todos os presidentes dos EUA desde então”, ele afirmou.
“Mas a verdade é que nunca buscamos desenvolver uma bomba nuclear, nem no passado, nem no presente, nem no futuro.”
Pezeshkian disse que o Irã estava pronto para retomar as negociações sobre o programa nuclear do país, mas que as instalações haviam sido gravemente danificadas pelos ataques e que o acesso não era possível no momento.
A entrevista, conduzida por intermédio de um intérprete, coloca os holofotes de volta sobre Carlson.
Aqui está o que sabemos sobre o homem que já foi um dos apresentadores de maior audiência da televisão americana — e que agora é um outsider no setor.
Jornalismo e mídia
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Filho de um artista e de uma jornalista itinerante, Tucker Carlson nasceu na Califórnia, em 1969.
Sua mãe, herdeira de uma família abastada de San Francisco, abandonou a família quando Tucker tinha seis anos, e seu pai tinha “um estilo de criação muito distante”, de acordo com o biógrafo de Carlson, Chadwick Moore.
Carlson se formou em história no Trinity College em Hartford, Connecticut, em 1991.
Ele entrou para o mundo da imprensa na década de 1990, escrevendo para várias publicações importantes, incluindo as revistas New York Magazine, Esquire e The New Republic.
E trabalhou como comentarista na rede CNN no início dos anos 2000, antes de ingressar na MSNBC para apresentar um programa noturno.
Foi lá que Carlson aguçou suas posições conservadoras, se tornando cada vez mais crítico em relação à imigração — que ele às vezes chamava de “invasão” —, e se consolidando como uma voz para a ala nativista do Partido Republicano.
Ele teve uma participação muito criticada no reality show americano Dancing With The Stars em 2006.
Em 2010, com seu antigo colega de quarto na universidade, Neil Patel, fundou o site de notícias conservador The Daily Caller, visto como uma alternativa aos sites de esquerda, como o Huffington Post.
Em 2016, estava pronto para o horário nobre, lançando o programa Tucker Carlson Tonight apenas alguns dias após Donald Trump ser eleito presidente pela primeira vez.
O episódio de estreia atraiu quase 4 milhões de espectadores. Mas o apresentador teve uma oportunidade ainda maior no ano seguinte, quando a Fox News demitiu Bill O’Reilly, seu apresentador mais popular na época.
Havia uma vaga para a próxima estrela da rede, e Carlson não perdeu tempo.
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Com Trump na Casa Branca, ele surfou na onda de indignação populista que impulsionou a vitória política do republicano. Sua popularidade disparou, e seu programa frequentemente ditava a agenda dos conservadores e, por tabela, do Partido Republicano.
Ao mesmo tempo em que se tornou um programa obrigatório para a direita política, Carlson também foi alvo de críticas por parte de verificadores de fatos e ativistas, que o acusaram de promover argumentos racistas e nacionalistas. Entre eles, está a chamada teoria da conspiração da “grande substituição”, que alega que um grupo de pessoas está conspirando para mudar a demografia dos países ocidentais.
Em um episódio, ele defendeu a invasão do Canadá pelos EUA. Em outro, chamou o sistema métrico (que não é utilizado pelos EUA) de “jugo da tirania”.
Ele também especulou que a cura para a queda de testosterona nos homens americanos seria banhar seus testículos em luz vermelha.
E, em várias ocasiões, usou sua posição na Fox para defender Putin, o presidente da Rússia.
Suas declarações controversas não passaram despercebidas pela Fox, que viu várias grandes empresas retirarem anúncios em protesto. Mas, na maior parte do tempo, a emissora o deixou à vontade.
Nesse meio tempo, sua iniciativa, The Daily Caller — que prometia enfatizar reportagens originais, em vez de opinião — foi criticada por publicar alegações não comprovadas contra políticos democratas, e promover estereótipos racistas e sexistas.
Carlson cortou relações com o site em 2020.
Recomeço
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A popularidade de Carlson disparou durante os primeiros anos de Trump na Presidência, até 2021.
Até que, em abril de 2023, sua passagem pela Fox chegou a um fim repentino.
A emissora não deu nenhum motivo formal para sua demissão, mas a saída de Carlson ocorreu poucos dias depois que a Fox News pagou US$ 787 milhões (R$ 4,3 bi) à Dominion Voting Systems em um acordo judicial por alegações eleitorais falsas.
O processo revelou, entre outras coisas, que Carlson ridicularizou as alegações de fraude eleitoral de Trump em mensagens privadas enquanto as apoiava publicamente no ar.
Após algumas semanas de silêncio, Carlson anunciou que começaria um novo programa na rede social X, antigo Twitter.
“Os fatos foram omitidos de propósito, junto à proporção e perspectiva. Vocês estão sendo manipulados”, disse ele no anúncio.
Em dezembro daquele ano, foi lançado um serviço de streaming pago, a Tucker Carlson Network, que Carlson classificou como livre de influência corporativa.
Entrevistas famosas
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Ele se tornou o primeiro jornalista ocidental a entrevistar o presidente russo, Vladimir Putin, desde que seu país invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022.
Putin discorreu longamente sobre as origens do Estado russo no século 9 e alegou que a Polônia havia colaborado com Hitler.
Ele afirmou, de forma controversa, que a Ucrânia era “um Estado artificial” criado pela liderança soviética na década de 1920 e que havia recebido terras sobre as quais não tinha direito histórico.
Putin não foi nada cortês em relação à entrevista e zombou de Carlson, alegando que ele havia tentado, sem sucesso, entrar para a CIA, a agência de inteligência americana.
“A organização à qual você queria se juntar naquela época, pelo que entendi. Talvez devêssemos agradecer a Deus por não terem deixado você entrar”, brincou o presidente russo.
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Em julho de 2023, ele publicou uma entrevista de duas horas e meia com Andrew Tate, o influenciador britânico-americano acusado na Romênia de estupro, tráfico humano e formação de um grupo de crime organizado para explorar sexualmente mulheres. Tate também enfrenta processos civis no Reino Unido e nos EUA.
Carlson também publicou um bate-papo com o ator Kevin Spacey, cuja carreira foi interrompida em 2017 após uma série de alegações de comportamento inadequado.
Em junho deste ano, antes de os EUA entrarem na guerra entre Irã e Israel bombardeando as instalações nucleares iranianas, Carlson entrevistou o senador republicano Ted Cruz, questionando-o sobre fatos básicos sobre o Irã.
Carlson — um cético declarado em relação à intervenção militar — questionou a premissa de entrar em uma guerra com o Irã.
Uma das partes mais polêmicas da entrevista ocorreu quando Carlson perguntou a Cruz qual era a população do Irã. Cruz respondeu que não tinha certeza.
“Você não sabe qual é a população do país que pretende derrubar?”, perguntou Carlson.
Os ataques dos EUA às instalações nucleares do Irã em junho foram lançados enquanto Israel e o Irã continuavam a se atacar mutuamente, após uma rivalidade regional de longa data.
Carlson disse que também tentou entrevistar Netanyahu, mas sem sucesso.