Telegram: como fundador Pavel Durov, pai de mais de 100 filhos, planeja dividir herança
Crédito, Getty Images
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- Author, Peter Hoskins
- Role, Repórter de negócios da BBC News
O fundador do aplicativo de mensagens Telegram, Pavel Durov, diz que os mais de 100 filhos que ele teve compartilharão sua fortuna estimada em US$ 13,9 bilhões (pouco mais de R$ 76 bilhões).
“Eles são todos meus filhos e todos terão os mesmos direitos! Não quero que eles se separem depois da minha morte”, disse Durov à revista política francesa Le Point.
Durov afirmou que é “oficialmente pai” de seis crianças com três parceiras diferentes, mas a clínica “onde comecei a doar esperma há quinze anos para ajudar um amigo, me disse que mais de 100 bebês foram concebidos dessa forma em 12 países”.
O magnata russo da tecnologia autoexilado também disse à revista que seus filhos não deverão ter acesso à herança por 30 anos.
“Quero que eles vivam como pessoas normais, se desenvolvam sozinhos, aprendam a confiar em si mesmos, sejam capazes de criar, não dependam de uma conta bancária”, disse ele.
A BBC procurou Durov para comentar as declarações à revista francesa.
Aos 40 anos, ele disse que já escreveu um testamento porque seu trabalho “envolve riscos — defender as liberdades gera muitos inimigos, inclusive em Estados poderosos”.
O aplicativo fundado pelo bilionário, o Telegram, conhecido por seu foco em privacidade e mensagens criptografadas, tem mais de um bilhão de usuários ativos mensais.
No Brasil, o Telegram chegou a ser suspenso duas vezes pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, em 2022 e 2023.
O primeiro bloqueio ocorreu após o STF determinar que o Telegram precisaria indicar um representante legal no país e excluir canais que estavam divulgando dados de um inquérito sigiloso da Justiça brasileira.
Graves acusações na França
Durov também abordou as acusações criminais que enfrenta na França, onde foi preso no ano passado após ser acusado de não moderar adequadamente o aplicativo para reduzir usos criminosos.
Ele negou não ter cooperado com a polícia em relação a tráfico de drogas, conteúdo de abuso sexual infantil e fraude. O Telegram já havia negado ter moderação insuficiente.
Na entrevista ao Le Point, Durov descreveu as acusações como “totalmente absurdas”.
“Só porque os criminosos usam nosso serviço de mensagens, entre muitos outros, não faz com que aqueles que o administram sejam criminosos”, acrescentou.
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Nascido na Rússia, Durov agora mora em Dubai, onde o Telegram está sediado. Ele tem dupla cidadania da França e dos Emirados Árabes Unidos.
Fundador da rede social russa VKontakte, o magnata disse em 2014 que foi demitido da empresa após recusar pedidos do Kremlin para censurar postagens.
Ele fundou o Telegram em 2013 e o aplicativo continua popular na Rússia.
O Telegram permite grupos de até 200 mil membros, o que, segundo críticos, facilita a disseminação de informações falsas e o compartilhamento de conteúdo conspirador, neonazista, pedófilo ou relacionado ao terrorismo.
No Reino Unido, o aplicativo sofreu escrutínio por hospedar canais de direita radical que foram fundamentais na organização de ataques racistas violentos a mesquitas em cidades inglesas em agosto de 2024.
O Telegram removeu alguns grupos, mas, em geral, seu sistema de moderação de conteúdo extremista e ilegal é significativamente mais fraco do que o de outras redes sociais e aplicativos de mensagens, de acordo com especialistas em segurança cibernética.
No Brasil, o aplicativo se tornou popular entre grupos da direita bolsonarista, tendo sido usado, segundo especialistas em ambientes virtuais, para disseminar notícias falsas durante a pandemia e articular os protestos violentos em Brasília em janeiro de 2023.