Tarifas de Trump: por que ameaça de taxar Rússia em 100% representa ‘reviravolta dramática’
Crédito, Reuters
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- Author, Thais Carrança
- Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta segunda-feira (14/7) estar “muito insatisfeito” com a Rússia em relação à guerra na Ucrânia e ameaçou introduzir tarifas secundárias de 100% contra o país se nenhum acordo de cessar-fogo for alcançado em 50 dias.
“Vamos aplicar tarifas muito severas se não chegarmos a um acordo em 50 dias”, disse Trump.
O republicano também anunciou planos para entregar armas de “primeira linha” à Ucrânia, por intermédio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
As declarações foram feitas durante encontro entre Trump e o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, no Salão Oval da Casa Branca. O vice-presidente americano J.D. Vance e o secretário de Estado, Marco Rubio, também estavam presentes.
Durante a campanha eleitoral Trump afirmou repetidamente que encerraria a guerra entre Rússia e Ucrânia nas primeiras 24 horas de seu segundo mandato, mas a promessa nunca se concretizou.
Em abril, após admitir que as negociações de paz se mostravam mais difíceis do que o esperado, Trump chegou a afirmar que estava brincando ao dizer que terminaria a guerra em 24 horas.
No Salão Oval, o secretário-geral da Otan afirmou que Trump tomou a decisão anunciada nesta segunda-feira para que a Ucrânia possa manter suas defesas contra a Rússia e informou que os europeus pagarão pelas armas americanas.
Os países do bloco têm sido pressionados por Trump a ampliar seu orçamento de defesa, reduzindo a dependência de recursos dos EUA.
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Durante o encontro, Trump elogiou acordos recentes em que os países da Otan concordaram em aumentar suas contribuições para gastos com defesa e segurança, de 2% do PIB de cada país para 5% até 2035.
Após as declarações de Trump, o índice da bolsa de valores de Moscou subiu com força.
Segundo analistas, o movimento talvez fosse um sinal de alívio, diante da expectativa de investidores de que Trump pudesse anunciar medidas ainda mais severas.
Antes do anúncio, rumores circulavam indicando que as tarifas secundárias contra a Rússia poderiam chegar a 500%.
Questionado sobre esses rumores, Trump afirmou que o número não importa a partir de um certo ponto e que taxas de 100% servirão ao propósito.
Ele disse ainda que as tarifas secundárias podem ser impostas contra a Rússia sem a aprovação da Câmara ou do Senado.
Em sua coletiva de imprensa diária, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, evitou criticar Washington diretamente após Trump afirmar que enviaria armamentos “sofisticados” à Ucrânia e disse que é “muito importante” que as negociações continuem.
Quando questionado sobre as expectativas do Kremlin em relação à viagem do enviado presidencial dos EUA, Keith Kellogg, à Ucrânia, Peskov disse: “Em primeiro lugar, são Kellogg e seus interlocutores ucranianos que devem ter expectativas.”
“Para nós, é muito importante que Kellogg, como representante de Trump, continue os esforços de mediação como parte do acordo russo-ucraniano.”
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Uma ‘reviravolta dramática’
Os anúncios desta segunda-feira representam uma “reviravolta dramática” na política externa para um presidente que havia prometido uma paz rápida e parecia ver a Ucrânia, e não a Rússia, como o principal obstáculo, avalia Anthony Zurcher, correspondente da BBC News na América do Norte.
Em abril, Trump questionou publicamente se o presidente russo estaria sinceramente interessado em encerrar a guerra na Ucrânia, enquanto Vladimir Putin dava continuidade a uma campanha de bombardeios que incluía atingir estruturas civis, lembra Zurcher.
Quase três meses depois, parece que o presidente americano finalmente perdeu a paciência.
“Embora Trump não tenha deixado claro sob qual autoridade instituiria as novas sanções, o Congresso parece pronto para promulgar uma nova legislação que lhe daria novas maneiras de penalizar a intransigência russa”, avalia o correspondente da BBC News.
“A ação com relação à Rússia testará mais uma vez a vontade do presidente e a lealdade daqueles que levaram a sério sua retórica de ‘América em primeiro lugar'”, afirma Zurcher.
Frank Gardner, correspondente da BBC News especializado em segurança, observa que, à primeira vista, os anúncios de hoje da Casa Branca parecem extremamente encorajadores para a Ucrânia.
Mas ele lembra que ultimatos de Trump à Rússia para um cessar-fogo já foram feitos antes e as expectativas foram sempre frustradas.
“Desta vez pode ser diferente. Donald Trump está, pelo menos em público, expressando sua frustração com Vladimir Putin”, afirma Gardner
“Mas 50 dias dão ao Kremlin bastante margem de manobra. Tempo, em outras palavras, para apresentar uma contraproposta que impeça as sanções ameaçadas.”
“No ritmo atual de ataque, 50 dias também, teoricamente, dão à Rússia tempo para lançar até mais 25 mil drones e mísseis contra a Ucrânia durante seus bombardeios noturnos.”
Com Brandon Livesay, Adam Durbin, Charlotte Gallagher e Vitaliy Shevchenko