Tarifas de Trump ao Brasil: a reação do agronegócio, amigo de Bolsonaro
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“É momento de cautela, diplomacia afiada e presença ativa do Brasil na mesa de negociações”, diz a nota da bancada ruralista. “A diplomacia é o caminho mais estratégico para a retomada das tratativas.”
Presidida pelo deputado Pedro Lupion (PP-PR), a FPA disse que a medida de Trump “representa um alerta ao equilíbrio das relações comerciais e políticas entre os dois países” e que “produz reflexos diretos e atingem o agronegócio nacional, com impactos no câmbio, no consequente aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras”.
Lupion, que tem no currículo ter defendido a anistia do ex-presidente Jair Bolsonaro, repostou em suas redes sociais uma mensagem do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), publicada na noite de quarta-feira (9/7).
“Não adianta se esconder atrás do Bolsonaro. A responsabilidade é de quem governa. Narrativas não resolverão o problema”, diz a mensagem de Tarcísio publicada pelo líder da bancada ruralista.
A BBC News Brasil procurou a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que ainda não havia se pronunciado sobre o tema até a publicação desta reportagem.
A CNA é presidida por João Martins, que defendeu a reeleição de Jair Bolsonaro em 2022. Em outubro daquele ano, num evento que contava com a presença de Bolsonaro e do candidato a vice, Walter Braga Neto, Martins disse a uma plateia de ruralistas que não havia espaço no Brasil para “o retorno de um candidato que foi processado e preso como ladrão”.
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Foi por meio de uma carta que Trump anunciou que as exportações brasileiras sofrerão uma taxação adicional de 50% a partir do dia 1º de agosto.
Em tom duro, a carta diz que a decisão é uma resposta à perseguição que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria sofrendo no Brasil, devido ao processo criminal que enfrenta no Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de liderar uma tentativa de golpe de Estado.
Além disso, Trump também justifica o aumento de tarifa argumentando que o Brasil adota barreiras comerciais (tarifárias e não tarifárias) elevadas contra os EUA, o que estaria desequilibrando o comércio entre os dois países.
O governo brasileiro refuta essa argumentação, já que a balança comercial tem sido favorável aos Estados Unidos. O lado americano acumulou saldo positivo de US$ 43 bilhões nos últimos dez anos, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China.
Entre os produtos mais exportados aos EUA de maneira geral, segundo a Agência Brasil, estão o açúcar, o café, o suco de laranja e a carne.
Na carta, Trump ameaça elevar ainda mais a tarifa sobre produtos brasileiros, se o país responder como uma tributação maior sobre importações americanas.
“Se por qualquer motivo você decidir aumentar suas tarifas, então qualquer que seja o número que você escolher para aumentá-las, ele será adicionado aos 50% que cobramos”, diz a carta a Lula.
No início da noite de quarta, o presidente brasileiro se manifestou dizendo que o Brasil é um país soberano com instituições independentes e “que não aceitará ser tutelado por ninguém”.
“O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais”, disse Lula nas redes sociais.
Lula afirmou ainda que qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida de acordo com a Lei de Reciprocidade Econômica, lei em vigor desde abril que autoriza o governo a retaliar países ou blocos que imponham barreiras comerciais a produtos brasileiros.
Nesta reportagem, a BBC News Brasil mostra como a decisão de Trump de taxar Brasil em apoio a Bolsonaro pode beneficiar Lula.
Especialistas em política internacional e brasileira lembram que interferências externas em assuntos domésticos costumam fortalecer sentimentos nacionalistas.
Por outro lado, alguns ponderam que a forte polarização política do país pode limitar esse efeito junto a apoiadores mais fiéis ao bolsonarismo.