‘Tarifa de Trump não afeta em nada apoio de Jair Bolsonaro entre eleitores fiéis’, diz pesquisadora
Crédito, Getty Images
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- Author, Julia Braun
- Role, Da BBC News Brasil em Londres
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“Bolsonaristas se dizem patriotas, mas militam contra os interesses do próprio país”, diz uma campanha lançada pelo PT nas redes sociais.
Em uma cerimônia oficial do governo em Salvador, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que o grupo político ligado a Bolsonaro é “traidor da pátria”. A gestão Lula também tem divulgado peças publicitárias com ênfase no tema da soberania.
Mas para Rosana Pinheiro-Machado, diretora do Laboratório de Economia Digital e Política Extrema (DeepLab), da University College Dublin, na Irlanda, a aplicação da tarifa e o discurso crítico em relação à atuação das lideranças bolsonaristas na questão não têm impacto significativo na base mais fiel de apoiadores do ex-presidente.
“Não existe mudança na base bolsonarista”, diz a antropóloga, que pesquisa temas como a radicalização política no Brasil e as redes sociais.
“Pelo contrário, a grande narrativa [que circula entre os bolsonaristas] é a de que o governo está causando estragos e prejudicando laços econômicos com os Estados Unidos.”
Segundo Pinheiro-Machado, os apoiadores mais fiéis do ex-presidente e seus aliados leem os acontecimentos “com as suas próprias lentes”, de forma que o discurso sobre a existência de uma contradição entre o apoio às medidas de Trump e o patriotismo bolsonarista não convence.
As ideias que mais ressoam com a base de eleitores de Jair Bolsonaro são as expostas pelo próprio ex-presidente, diz a pesquisadora.
Em sua conta no X, Bolsonaro afirmou que a anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023 é o caminho para barrar o aumento das tarifas impostas pelos EUA.
“A medida [de Trump] é resultado direto do afastamento do Brasil dos seus compromissos históricos com a liberdade, o Estado de Direito e os valores que sempre sustentaram nossa relação com o mundo livre. Isso jamais teria acontecido sob o meu governo”, escreveu o ex-mandatário.
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Além disso, Trump também justifica o aumento de tarifa argumentando que o Brasil adota barreiras comerciais (tarifárias e não tarifárias) elevadas contra os EUA, o que estaria desequilibrando o comércio entre os dois países.
O governo brasileiro refuta essa argumentação, já que a balança comercial tem sido favorável aos Estados Unidos. O lado americano acumulou saldo positivo de US$ 43 bilhões nos últimos dez anos, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Sem ‘ganhos eleitorais significativos’
Alguns analistas também acreditam que o cenário político brasileiro poderia repetir o de outros países que sofreram ameaças tarifárias do governo Trump nos últimos meses e viram os partidos conservadores aliados dos Estados Unidos perder força – algo que já está sendo chamado de “efeito Trump”.
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Em um relatório distribuído a clientes no início de julho, o banco BTG Pactual destacou que a disputa tarifária pode fortalecer Lula nas eleições de 2026.
“A base de apoio do governo no Congresso sugere que a medida pode fortalecer politicamente o presidente Lula, intensificando o confronto com seu principal adversário, especialmente após referências diretas do presidente Trump ao ex-presidente Jair Bolsonaro”, afirmou a equipe do BTG, liderada pelo economista Carlos Sequeira.
“O PT recebeu a notícia com entusiasmo, classificando a ação de Trump como uma violação da soberania brasileira e posicionando Lula como o líder apto a defender o país diante do que considera uma decisão arbitrária”, observaram os analistas no relatório.
A equipe do BTG destacou ainda que analistas políticos acreditam que essa nova narrativa pode impulsionar a popularidade de Lula e reposicionar seu discurso com vistas às eleições de 2026.
Em entrevista ao Jornal da Record nesta quinta-feira, Lula não descartou a possibilidade de tentar a reeleição. “Vai depender no momento certo de discutir. Tem muitos partidos políticos para a gente conversar.”
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Mas para Rosana Pinheiro-Machado, o tema não tem força suficiente para trazer ganhos eleitorais significativos para o governo Lula, que viu sua popularidade ser impactada por outras questões econômicas, como a proposta de aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e a revogação da nova regra da Receita Federal sobre monitoramento das transações na modalidade Pix.
“Há uma parte da população que vê o governo Lula como um governo taxador, que quer tarifar especialmente os pequenos empreendedores”, diz a pesquisadora. “E o governo está tendo dificuldade de penetrar a sua narrativa sobre a taxação aos mais ricos entre as classes C e D.”
Segundo a professora da University College Dublin, a discussão sobre taxação de exportações não afeta tanto o cotidiano dos brasileiros quanto mudanças no Pix ou no IOF.
“Pode até haver uma disputa nas redes entre as campanhas, mas não vejo o tema saindo dali e penetrando na vida das pessoas de fato.”
Pinheiro-Machado afirma ainda que a associação entre o bolsonarismo e os ataques à soberania nacional, feita pelo governo e pelo próprio PT, tem efeito positivo entre os eleitores mais à esquerda.
“Mas a pauta nacionalismo é ainda hoje uma pauta bolsonarista. Reconectar o campo progressiva com as discussões sobre soberania nacional será um trabalho longo [para o governo].”