‘Superman’: crítico da BBC opina sobre novo filme de Super-Homem
Crédito, Jessica Miglio
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- Author, Nicholas Barber
- Role, BBC Culture
Superman não é apenas um novo filme, nem mesmo o primeiro de uma possível série de filmes. Ele marca o lançamento de todo um novo universo cinemático.
Os últimos lançamentos da DC envolvendo super-heróis tiveram um desfecho desonroso em 2023.
O estúdio lançou quatro filmes naquele ano: Shazam! Fúria dos Deuses, The Flash, Besouro Azul e Aquaman 2: O Reino Perdido. E não houve continuação.
O chamado “Universo Estendido” da DC foi simplesmente destruído. Ou seja, o cineasta Zack Snyder (responsável por muitos dos filmes da DC) não poderá mais produzir seus épicos apocalípticos estrelados por Henry Cavill como o Super-Homem e Ben Affleck como Batman.
No seu lugar, James Gunn — que dirigiu a trilogia Guardiões da Galáxia (2014-2023) para a Marvel — foi encarregado de supervisionar os super-heróis da DC na tela grande e pequena, além de escrever o roteiro e dirigir o primeiro filme da franquia reinicializada.
Você pode imaginar o tamanho da pressão que Gunn sofreu. O Super-Homem já salvou o mundo incontáveis vezes ao longo das décadas. Mas, agora, ele tem sobre seus ombros o destino de um universo inteiro .
Gunn pode até ter sentido essa pressão, mas não há sinais dela no filme recém-lançado.
Ele não formou as bases do novo universo da DC com cuidado e delicadeza, nem mesmo se esforçou para criar uma história do Super-Homem que fosse bem recebida pela maior parte possível do público. Muito pelo contrário, na verdade.
Tomado pela esquisitice geek que definiu o último filme de Gunn na DC, O Esquadrão Suicida (2021), para não mencionar as comédias de terror de baixo orçamento que ele fez antes de voltar sua atenção aos super-heróis, Superman é uma curiosidade que parece ter sido produzida por Gunn para sua própria diversão.
Resta saber se o filme também irá divertir o público presente nos cinemas.
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A ideia mais surpreendente de Gunn foi começar sua história não no início, mas em algum ponto intermediário, como se fosse o terceiro ou quarto filme da série.
Quando vemos pela primeira vez o Super-Homem, convenientemente interpretado pelo belo e sadio David Corenswet, ele já protege Metrópolis dos supervilões há três anos.
Ele já está namorando sua colega do jornal Daily Planet, a determinada Lois Lane (Rachel Brosnahan), e já é odiado por um bilionário careca e fanático chamado Lex Luthor (Nicholas Hoult).
O mais incomum para um filme inicial da franquia Superman é que ele não é o único super-humano do planeta — ou “meta-humano”, para usar o jargão do universo atual.
Outros personagens importantes da DC — como a Mulher Maravilha, Batman, The Flash e Aquaman — aparentemente ficaram reservados para seus próprios filmes. Mas o Super-Homem é, ao mesmo tempo, auxiliado e atrapalhado pela Gangue da Justiça, formada pelo arrogante Lanterna Verde (Nathan Fillion), pelo frio e imperturbável Senhor Incrível (Edi Gathegi) e pela sombria Mulher-Gavião (Isabela Merced).
A abordagem é divertida. A maioria de nós conhece bem a história original do Super-Homem, que nasceu no planeta Krypton e foi criado em uma fazenda no Estado americano do Kansas. Por isso, é revigorante pular toda aquela parte da história e ir direto para os super-heróis.
Também é engraçado ver Gunn reunindo todas as ideias mais malucas da DC Comics.
Os filmes do Super-Homem feitos por Snyder eram sempre sombrios, cheios de angústia e simbolismos bíblicos. Mas este traz Krypto, o fofo Supercão branco, e o círculo de assistentes robóticos do herói vestindo capas, que ele chama apropriadamente de “Robôs do Super-Homem”.
Mas é um risco ter um diretor e roteirista que também é um dos donos do estúdio. A estranha abordagem da narrativa do Super-Homem adotada por Gunn logo parece ficar cansativa e autoindulgente.
Quando chegamos à metade do filme, já observamos clones e óculos hipnóticos, um universo de bolso e um sósia de Godzilla que solta fogo, além de uma milícia denominada Planet Watch e um enorme globo ocular flutuante, chamado de “demônio dimensional”.
Àquela altura, já ouvimos comentários sobre desinformação nas redes sociais e debates sobre o impacto geopolítico dos meta-humanos. Sorrimos ao vermos o conteúdo mais parecido com os quadrinhos já incluído em um filme do Super-Homem e fizemos careta ao presenciarmos um perturbador assassinato a sangue-frio.
Em vez de mostrar o esforço de Gunn para tentar lançar uma longa série de filmes de super-heróis, Superman sugere que o diretor receava ser dispensado logo após a primeira produção. Por isso, ele decidiu abarrotar o filme com tudo o que ele pudesse imaginar.
Muita rapidez
Sua ambição nerd arrancará risadas dos fãs de quadrinhos. E também o seu senso de humor distorcido.
É preciso ter ousadia para produzir um grande filme de Hollywood, ao custo de zilhões de dólares, que mais parece um excêntrico filme B de ficção científica.
Mas Superman desenvolve seu estranho roteiro e seus conceitos extravagantes de forma muito rápida para que eles tenham impacto.
Arranha-céus desabam, monstros invadem Metrópolis e as pessoas viajam entre diferentes universos. Mas a pressa de Gunn não permite incutir nesses momentos um pouco do encanto de Superman: O Filme (1978) — e não importa quantas vezes ele inclua a clássica trilha sonora de John Williams.
Por isso, nenhum desses eventos parece ter importância. E seus efeitos visuais de vídeo game aumentam a sensação de que nada na tela parece ter significado.
O sugestivo slogan de Superman: O Filme era “você vai acreditar que o homem pode voar”. E, quase 50 anos depois, o slogan deste Superman simplista e inconsistente poderia ser “você não vai acreditar em nada”.
É pena que Gunn não tenha dado mais tempo para respirar na sua história. É particularmente lamentável que ele não tenha dedicado mais tempo para nos mostrar que o Super-Homem é realmente o paradigma que seus admiradores insistem em defender.
Corenswet foi bem escolhido para o papel principal. Ele tem todo o charme americano, tanto como o Super-Homem quanto como seu pacífico alter ego, Clark Kent.
Mas o público é forçado a acreditar sem questionar que ele é um cavalheiro altruísta, que ajuda seus amigos e aprecia a companhia de Lois Lane, sem ver nada disso no filme.
Na verdade, Corenswet interpreta o herói como um menino crescido, estranhamente de cabeça quente, que não consegue manter uma conversa com sua namorada sem se irritar e gritar com ela.
Será possível que Gunn tenha exagerado tanto, que se esqueceu de incluir cenas que mostrassem o lado mais nobre e gentil do Super-Homem?
Em um filme que gira em torno de cães voadores e bebês demônios verdes brilhantes, o elemento mais bizarro é um Homem de Ferro com tanto descontrole emocional.
Ficha técnica
Elenco: David Corenswet, Rachel Brosnahan, Nicholas Hoult e Isabela Merced.
Superman está em cartaz nos cinemas brasileiros desde o dia 10 de julho.