Saúde mental na adolescência: quando procurar ajuda e o que os pais podem fazer
Crédito, Getty Images
“Eu não sabia o que estava acontecendo e meus pais também não”, diz a jovem de 15 anos. “Era assustador. Os ataques ocorriam sem aviso. Piorou e comecei a tê-los em público.”
Lucy começou a faltar muito à escola e parou de socializar. Ela diz que era difícil para seus pais vê-la sofrendo. “Não sabíamos o que fazer ou para onde ir.”
Por seis meses, ela tentou controlar sua ansiedade sozinha, mas eventualmente a família decidiu pagar por terapia cognitivo-comportamental.
Lucy diz que fez uma grande diferença. Embora ela ainda tenha ataques de pânico, eles são muito menos frequentes e ela voltou a frequentar a escola e a fazer as coisas de que gosta.
A história de Lucy está longe de ser única. Uma em cada cinco crianças e jovens de 8 a 25 anos tem um provável transtorno de saúde mental, segundo dados do sistema público de saúde do Reino Unido.
Por que os problemas são tão comuns
A adolescência é quando os problemas se tornam cada vez mais comuns, à medida que os jovens enfrentam os desafios do crescimento, o estresse das provas, as amizades e os relacionamentos.
Existem também razões biológicas que tornam os problemas de saúde emocional mais prováveis, afirma Andrea Danese, especialista em psiquiatria na infância e adolescência do King’s College London.
“O cérebro dos adolescentes não se desenvolve de uma só vez. A parte que processa as emoções amadurece mais cedo do que a parte responsável pelo autocontrole e pelo bom senso. Isso significa que os jovens podem sentir as coisas com muita intensidade antes de desenvolverem plenamente a capacidade de lidar com esses sentimentos, o que ajuda a explicar alguns dos altos e baixos emocionais que os pais frequentemente observam.”
O auge, diz, é a adolescência, quando as reações emocionais são ainda mais intensificadas por hormônios e alterações no relógio biológico interno, que afetam os padrões de sono.
Quando e como ajudar
Então, o que constitui desafios emocionais normais – e quando os adolescentes e seus pais devem se preocupar e considerar a busca por ajuda profissional?
Danese afirma entender por que muitos acham isso difícil de avaliar. E considera os seguintes traços emocionais normais em adolescentes:
- Irritabilidade e mau humor periódicos;
- Isolamento social ocasional ou desejo de privacidade;
- Ansiedade quanto à aceitação social ou desempenho acadêmico;
- Experimentação com identidade e independência;
- Reações emocionais que parecem desproporcionais.
Desde que tudo isso não interfira muito nas atividades diárias, os pais devem se sentir capazes de apoiar seus filhos, afirma.
Os problemas mais comuns que os adolescentes enfrentam são mau humor e ansiedade. Para mau humor, diz Danese, manter rotinas saudáveis em relação à alimentação, sono, atividade física e contato com amigos e familiares é importante, assim como planejar atividades que seu filho goste, como passeios ou praticar um esporte.
“E ajude-o a identificar, analisar e experimentar soluções para problemas que possam ter surgido”, acrescenta.
Para a ansiedade, técnicas de calma são úteis, afirma. Isso pode incluir exercícios de respiração, aterramento, nos quais você se concentra no ambiente ao seu redor e no que pode ver, tocar e cheirar, e atividades de atenção plena.
“É importante evitar a armadilha de fornecer segurança desnecessária”, diz Danese.
Em vez disso, além de ensinar técnicas de calma, os pais devem discutir e testar situações temidas. “Para reduzir as preocupações, pode ser útil anotá-las ou falar sobre elas em um ‘momento de preocupação’ especial, uma vez por dia.”
Construindo resiliência
Stevie Goulding, que administra a linha de apoio aos pais da instituição de caridade britânica Young Minds, afirma que a ansiedade é o problema sobre o qual eles mais recebem ligações.
“Muitas crianças têm crises de ansiedade e até ataques de pânico. É difícil para os pais. Eles podem facilmente se ver sem confiança e sem discernimento sobre o que fazer. Recebemos muitas ligações de pais nessa situação. Quando veem seus filhos com dificuldades, isso pode fazê-los questionar a si mesmos e simplesmente não saber a quem recorrer.
“O principal conselho que damos aos pais é que se comuniquem com seus filhos. Dêem-lhes permissão para falar sobre o que os está incomodando – e, se não quiserem falar com eles, perguntem se há outra pessoa com quem eles preferem conversar.”
Goulding também recomenda conversar com a escola do seu filho, pois eles também podem ter percebido os problemas.
Mas ela acrescenta: “As crianças precisam de espaço – evite a tentação de se apressar e tentar resolver as coisas. Apenas reflitam sobre o que eles estão dizendo e ouçam.”
Crédito, Getty Images
A psicóloga da infância Sandi Mann concorda, e afirma que os pais têm uma tentação compreensível de querer resolver qualquer problema que seus filhos estejam enfrentando, quando essa não é necessariamente a melhor solução.
Ela afirma que, em vez disso, os pais devem ajudar a ensinar e desenvolver a resiliência em seus filhos. Ela recomenda aos pais:
- Expliquem que contratempos acontecem com todos, dando exemplos de coisas que deram errado em suas vidas;
- Aceite os erros;
- Capacite-os a tomar suas próprias decisões, enfatizando que eles são em grande parte responsáveis por sua própria felicidade;
- Desafie suas crenças, especialmente o pensamento preconceituoso e a catastrofização.
“Acho que às vezes podemos criar a impressão de que crianças e jovens não são capazes de resolver seus próprios problemas quando os apressamos para buscar ajuda ou recorremos a medicamentos.”
Sinais de que ajuda profissional é necessária
Mas Mann e Danese enfatizam que os pais não devem hesitar em pedir apoio profissional quando necessário.
“Não há nada do que se envergonhar”, diz Mann. “Só precisamos saber quando tentar resolver os problemas e quando buscar ajuda.”
- Ambos destacam comportamentos semelhantes que devem servir de gatilho para os pais buscarem ajuda. Eles incluem:
- Automutilação e pensamentos suicidas;
- Mudanças extremas na alimentação ou no sono;
- Mudanças drásticas de personalidade e expressões de desesperança;
- Interferência significativa no funcionamento diário, como ir à escola ou socializar;
- Afastamento prolongado de atividades que antes eram prazerosas.
Elaine Lockhart, presidente do corpo docente da criança e do adolescente do Royal College of Psychiatrists, afirma que os pais devem se sentir à vontade para abordar o tema da saúde mental com seus filhos e pedir ajuda.
“Sabemos que muitas crianças enfrentam dificuldades. A ideia de que os anos escolares são os melhores da vida é uma falácia.”
Mas saber a quem recorrer não é fácil, principalmente se você não puder pagar por terapia particular.
As pessoas também podem entrar em contato com organizações e instituições de caridade locais que podem fornecer apoio.
“As próprias escolas também podem ajudar, algumas oferecem serviços de aconselhamento e apoio”, diz Lockhart.
“Mas acho que os pais podem subestimar o papel que podem desempenhar, mesmo que seus filhos estejam aguardando apoio ou realmente fazendo terapia ou tratamento. O lar é onde eles passarão a maior parte do tempo – então os pais são uma parte importante da solução.”