Quem é Vancer Boelter, americano preso por matar deputada democrata e o marido dela
Crédito, Gabinete do xerife do condado de Ramsey
A polícia do Estado americano de Minnesota prendeu no domingo (15/6) o acusado de ter matado uma deputada estadual do Partido Democrata e seu marido, segundo relatou a CBS News, parceira da BBC nos Estados Unidos.
Trata-se de Vance Luther Boelter, de 57 anos, que era procurado pelas autoridades pelo assassinato, no sábado, da deputada estadual democrata Melissa Hortman e de seu marido, Mark.
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O senador estadual John Hoffman e sua esposa, Yvette, conseguiram sobreviver ao ataque.
Em uma publicação no Facebook, o gabinete do xerife do Condado de Ramsey divulgou uma foto do suspeito e escreveu: “O rosto do mal. Após um trabalho policial incansável e determinado, o assassino agora está sob custódia”.
“Graças à dedicação de várias agências que atuaram em conjunto e ao apoio da comunidade, a justiça está um passo mais próxima”, acrescentou.
Mas afinal, quem era Boelter antes de, supostamente, cometer esses crimes tão graves?
Crédito, Departamento de Segurança Pública de Minnesota/EPA-EFE/Shutterstock
Eleitor de Trump e atuante no setor de segurança
Embora os eleitores em Minnesota não precisem declarar sua filiação partidária no momento do registro, e documentos estaduais revisados pela imprensa local o classificassem como “sem preferência partidária”, Boelter demonstrava tendências políticas relativamente claras.
Segundo a CNN, ele se registrou para votar como republicano nos anos 2000 e, de acordo com seu amigo David Carlson, era simpatizante do governo de Donald Trump e firmemente contrário a direitos como o aborto e às pautas da comunidade LGBT.
Carlson conversou com jornalistas na noite de sábado e afirmou que Boelter, de 57 anos, vinha enfrentando sérios problemas financeiros e de saúde mental.
“Ele simplesmente desistiu da vida por algum motivo”, disse Carlson, segundo o jornal The New York Times.
Amigo de longa data, Carlson costumava alugar um quarto para Boelter — foi lá que ele teria passado a noite anterior aos crimes pelos quais foi preso.
Na sexta-feira à noite, Boelter enviou uma mensagem de texto ao amigo indicando que poderia morrer em breve.
“Não quero dizer mais nada nem envolver vocês de forma alguma, porque vocês não sabem de nada disso. Mas amo muito vocês e lamento todos os problemas que isso causou”, teria escrito Boelter, em mensagem lida por Carlson à imprensa.
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Segundo a imprensa local, Boelter trabalhou durante décadas na indústria alimentícia e, posteriormente, participou de projetos agrícolas na África Central.
Ele e sua esposa também figuravam como diretores de uma empresa de segurança privada chamada Pretorian Guard Security Services, que supostamente teria lhe permitido ter acesso a fardas semelhantes às utilizadas pela polícia, facilitando a aproximação com as vítimas.
Os investigadores afirmam que Boelter estava disfarçado de policial quando cometeu os ataques, e utilizava um veículo que se assemelhava a uma viatura, equipado com luzes de emergência.
No site da empresa de segurança, segundo a CNN, Boelter se gabava de dispor de “veículos tipo policial” e afirmava: “Conduzimos a mesma marca e modelo de veículos usados por muitos departamentos de polícia nos EUA. Atualmente dirigimos veículos utilitários Ford Explorer”.
No mesmo site eram detalhadas as supostas experiências de Boelter em segurança em zonas de conflito fora dos Estados Unidos, incluindo Europa Oriental, África, América do Norte e Oriente Médio — como Cisjordânia, sul do Líbano e Faixa de Gaza.
Ainda não há clareza sobre sua ligação com as vítimas. O que se sabe é que Boelter havia trabalhado em um conselho econômico estadual com o senador John A. Hoffman, que sobreviveu ao ataque.
Boelter foi nomeado membro do Conselho de Desenvolvimento do Trabalho do Governador de Minnesota em 2016 pelo então governador democrata Mark Dayton, sendo reconduzido ao cargo pelo governador Tim Walz, também democrata.
Segundo pessoas familiarizadas com o funcionamento do conselho, não está claro se Boelter conhecia ou teve contato direto com o senador Hoffman.
Pregações na África e trabalho funerário
De acordo com colegas de Boelter ouvidos pela imprensa local, mais recentemente ele teria se envolvido com a indústria funerária.
Em um vídeo publicado online, Boelter afirmou que trabalhava seis dias por semana para duas empresas funerárias na região de Minneapolis, trabalho no qual — segundo ele — colaborava às vezes com policiais e investigadores forenses.
Segundo o New York Times, registros estaduais e seu perfil no LinkedIn indicam que ele também foi gerente de uma loja de conveniência em Minneapolis e, anteriormente, gerente de um posto de gasolina em St. Paul.
No LinkedIn, Boelter também dizia ser diretor executivo de uma empresa chamada Red Lion Group, sediada na República Democrática do Congo.
Como cristão evangélico, Boelter fez diversas pregações em igrejas daquele país.
Em alguns sermões disponíveis na internet, ele conta como Jesus transformou sua vida na adolescência e o abençoou com cinco filhos. Em uma dessas mensagens, também revela sua visão sobre temas como homossexualidade e pessoas trans.
“Há pessoas, especialmente nos Estados Unidos, que não sabem qual é o seu sexo”, disse. “Não conhecem sua orientação sexual, estão confusas. O inimigo se infiltrou profundamente em suas mentes e almas”, declarou.
Boelter e sua esposa lideravam uma organização cristã chamada Ministérios de Revoformação. Segundo uma versão arquivada do site do grupo, Boelter teria sido ordenado ministro em 1993.
Nessa mesma página, afirma-se que ele viajou para zonas violentas e “buscou militantes islâmicos para compartilhar o evangelho e dizer-lhes que a violência não era a resposta”.
A operação policial
Antes de prender Boelter no domingo, a polícia informou ter encontrado um carro abandonado no condado de Sibley, a cerca de 80 quilômetros da cena do crime.
A descoberta do sedã preto foi comunicada aos moradores locais por mensagem de texto. “Suspeito à solta. Mantenham as portas trancadas e os veículos seguros.”
Um chapéu de caubói, semelhante ao que se acredita que Boelter usava, foi encontrado nas proximidades.
A polícia também informou no domingo que a esposa de Boelter foi detida em uma blitz de trânsito, junto com três familiares, em um carro na cidade de Onamia — a mais de 160 quilômetros da casa da família, na comunidade rural de Green Isle — na manhã de sábado.
Jenny Boelter foi liberada, devido à sua cooperação com as autoridades, segundo declarou Drew Evans, da Agência de Detenção Criminal de Minnesota, em uma coletiva de imprensa no domingo à noite.
O agressor atirou primeiro contra os Hoffman em sua casa em Champlin, por volta das 2h (hora local) de sábado, segundo as autoridades.
Pouco depois, Hortman e seu marido, Mark, foram assassinados a tiros em sua residência em Brooklyn Park, a 13 quilômetros de distância.
Policiais chegaram à casa dos Hortman e trocaram tiros com o suspeito por volta das 3h35 (hora local).
O suspeito conseguiu fugir, abandonando o carro, conforme relataram as autoridades.
‘Tivemos muita sorte de estar vivos’
Yvette Hoffman afirmou que ela e seu marido tiveram “muita sorte de estar vivos” após serem atingidos por 17 tiros.
John e Yvette Hoffman foram alvejados em sua casa na madrugada de sábado, mas sobreviveram.
Yvette declarou que ela e o marido, John, estavam “devastados” com a morte dos Hortman.
Boelter usava uma máscara de látex e se passou por um agente da lei para atirar nas vítimas em suas casas, nos subúrbios de Minneapolis, antes de fugir a pé.
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A declaração de Hoffman foi compartilhada no Instagram pela senadora de Minnesota, Amy Klobuchar.
“John está passando por várias cirurgias e, a cada hora, está mais perto de estar fora de perigo”, escreveu Hoffman.
“Ele foi atingido por 9 tiros. Eu levei 8, e ambos tivemos muita sorte de estar vivos”, afirmou.
“Estamos arrasados e devastados com a perda de Melissa e Mark. Não temos palavras. Nunca há espaço para esse tipo de ódio político”, acrescentou.
Uma publicação no Facebook, feita por alguém que se identificou como sobrinho de Hoffman, dizia que ela se jogou sobre a filha durante a tentativa de assassinato, “usando o próprio corpo como escudo para salvar sua vida”.
Segundo o jornal Minnesota Star Tribune, a filha, Hope, tem pouco mais de 20 anos e nasceu com espinha bífida — condição que, segundo o pai, o motivou a se envolver na política estadual.
A cidade de Brooklyn Park permaneceu em silêncio na manhã de domingo, enquanto o bairro enfrentava a realidade de um suposto assassinato político à sua porta.
Uma viatura policial estava estacionada em frente à casa dos Hortman, e uma fita amarela de isolamento cercava a propriedade.
Taha Abuisnaineh, que mora do outro lado da rua, disse que ele e a esposa conheciam a família havia mais de 20 anos.
“Eles eram ótimos vizinhos em um bairro muito tranquilo”, disse à BBC. “Nunca se vê atividade policial por aqui. Estamos muito chocados.”
Outros dois moradores próximos, que pediram para não serem identificados, disseram que a comunidade suburbana está em estado de choque.
“Meu vizinho do lado ouviu os tiros”, contou um deles. “Temos trocado mensagens desde então.”
Ela e o marido também relataram que recebiam um cartão de Natal dos Hortman todos os anos.
“Que grande perda para Minnesota”, concluiu.