Quando sai o novo papa? Quem são os favoritos? Ele pode ser brasileiro? Em 6 pontos, tudo sobre o conclave no Vaticano
Crédito, Reuters
- Author, Daniel Gallas e João da Mata
- Role, Enviados da BBC News Brasil ao Vaticano
Este é o terceiro conclave deste século — depois do de 2005, que elegeu Bento 16, e do 2013, que elegeu Francisco.
Confira abaixo o que vai acontecer no Vaticano esta semana.
1. Como funciona o conclave?
No entanto, o cargo invariavelmente fica com um dos altos funcionários da Igreja Católica, os cardeais.
Existem 252 cardeais em todo o mundo, que normalmente também são bispos. Somente pessoas com menos de 80 anos podem votar em um novo papa.
Atualmente há 135 cardeais com condições para eleger o novo papa.
Quando um novo papa precisa ser escolhido, todos os cardeais são convocados ao Vaticano, em Roma, para o conclave papal. Este é um processo eleitoral que se mantém praticamente inalterado há cerca de 800 anos.
2. Quais os horários e dias das votações?
Na quarta-feira (7/5), primeiro dia do conclave, os cardeais celebram uma missa na Basílica de São Pedro. Em seguida, reúnem-se na Capela Sistina do Vaticano. Lá, é dada a ordem extra omnes (latim para “todos fora”) às 16h30 (11h30 no horário de Brasília).
Os cardeais eleitores têm a opção de realizar uma votação inicial na Capela Sistina no primeiro dia do conclave, mas ela não é obrigatória. O resultado dessa votação — caso ela seja realizada — é anunciado por volta das 19h (14h no horário de Brasília) com a tradicional fumaça preta ou branca.
A partir do segundo dia, são realizadas duas votações todas as manhãs e duas votações todas as tardes na capela, até que se chegue a dois terços dos votos para um candidato.
Nas votações, cada cardeal eleitor escreve o nome do seu candidato preferido nas cédulas de votação sob as palavras Eligio in Summum Pontificem, que em latim significa “Eu elejo como Sumo Pontífice”.
Para manter as votações em segredo, os cardeais são instruídos a não usar sua caligrafia habitual.
Ao final de cada votação, as cédulas são queimadas junto com uma tinta que ajuda a produzir uma fumaça branca ou preta. No caso de a votação ser inconclusiva, a fumaça preta é vista da chaminé da Capela. Quando os cardeais escolhem um novo papa, a fumaça é branca — acompanhada de sinos que ecoam pelo Vaticano.
A previsão é que as fumaças sejam vistas nos seguintes horário: 10h30 (5h30 em Brasília), 12h (7h em Brasília), 17h30 (12h30 em Brasília) e 19h (14h em Brasília).
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Se não houver votação decisiva até o final da sexta-feira, o sábado é dedicado à oração e contemplação, sem realização de votação. O processo prossegue normalmente após esse período, com quatro votações por dia.
O conclave pode durar vários dias, ou às vezes semanas. Caso ainda haja indefinição, os cardeais podem decidir manter apenas os dois mais votados como candidatos. Ainda assim é necessário haver dois terços dos votos para o vencedor.
3. Quem são os favoritos?
A eleição do papa é uma das mais imprevisíveis do mundo — e é comum que cardeais apontados como favoritos acabem ignorados. Existe até um ditado entre os católicos: “Quem entra papa, sai cardeal”. Ou seja, quem chega ao conclave como favorito acaba não sendo eleito.
Muitos lembram que o cardeal argentino Jorge Bergoglio não estava em nenhuma das listas de favoritos em 2013 — e acabou sendo escolhido como papa Francisco.
- Pietro Parolin (Itália): Cardeal italiano de fala mansa, Pietro Parolin foi secretário de Estado do Vaticano sob o pontificado de Francisco — ou seja, o principal conselheiro do papa. O cargo também o coloca à frente da Cúria Romana, a administração central da Igreja.
- Luis Antonio Gokim Tagle (Filipinas): o filipino tem décadas de experiência pastoral — ou seja, liderou a Igreja diretamente entre o povo, e não como diplomata do Vaticano ou especialista em Direito Canônico. Ele poderia se tornar o primeiro papa asiático.
- Fridolin Ambongo Besungu (Congo): É bastante possível que o próximo papa venha da África, onde a Igreja Católica continua ganhando milhões de fiéis. Um dos principais nomes é o cardeal Ambongo, da República Democrática do Congo (RDC).
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- Peter Kodwo Appiah Turkson (Gana): Se for escolhido, o influente cardeal Turkson será o primeiro papa africano em 1,5 mil anos. Primeiro ganês a ser nomeado cardeal, Turkson já era cotado como papável no conclave de 2013. Na época, chegou a ser o favorito nas casas de apostas.
- Peter Erdo (Hungria): Do ponto de vista ideológico, o atual arcebispo de Budapeste, capital húngara, seria uma escolha muito mais conservadora do que foi o último pontificado.
- Angelo Scola (Itália): Apenas cardeais com menos de 80 anos podem votar no conclave, mas Angelo Scola, de 83 anos, ainda pode ser eleito. O ex-arcebispo de Milão era um dos favoritos em 2013, quando Francisco foi escolhido.
- Reinhard Marx (Alemanha): O principal clérigo católico da Alemanha também é bastante próximo dos bastidores do Vaticano. Ele defende uma abordagem mais acolhedora em relação a pessoas homossexuais ou transgênero no ensino da Igreja Católica.
- Marc Ouellet (Canadá): O cardeal Ouellet já foi visto duas vezes como um possível candidato ao papado, em 2005 e 2013. Como outro octogenário, ele não poderá participar diretamente do conclave, o que pode dificultar suas chances.
- Robert Prevost (EUA): Será que o papado poderia ir, pela primeira vez, para um americano? Prevost não é visto apenas como um americano, mas também como alguém que presidiu a Pontifícia Comissão para a América Latina. É considerado um reformista, mas, aos 69 anos, pode ser visto como jovem demais para o papado.
- Robert Sarah (Guiné): Muito querido pelos conservadores na Igreja, o cardeal Sarah é conhecido por sua firme adesão à doutrina e à liturgia tradicional, sendo frequentemente visto como opositor das inclinações reformistas do papa Francisco.
- Pierbattista Pizzaballa (Itália): Ordenado na Itália aos 25 anos, Pizzaballa mudou-se para Jerusalém no mês seguinte e vive lá desde então. Sua idade relativamente jovem e a pouca experiência como cardeal podem pesar contra ele.
- Michael Czerny (Canadá): O cardeal Czerny foi nomeado cardeal pelo papa Francisco e, assim como ele, é jesuíta — uma das principais ordens da Igreja Católica, conhecida por seu trabalho missionário e de caridade em todo o mundo.
4. Quando será anunciado o novo papa?
Assim que um cardeal é eleito papa, ele precisa aceitar formalmente o cargo de papa perante o Colégio dos Cardeais e declarar seu nome papal.
As cédulas da eleição são queimadas com uma tinta que produz uma fumaça branca. Essa fumaça é vista na Praça São Pedro e os sinos do Vaticano badalam, anunciando a escolha.
Entre a fumaça aparecer e o nome do novo papa ser anunciado ao mundo, pode haver um intervalo de cerca de uma hora.
Neste período, dentro do conclave, o novo papa é levado à chamada “Sala das Lágrimas”, uma antecâmara na Capela Sistina, onde coloca as vestes papais e acessórios como a batina branca, uma capa (chamada mozeta) e um solidéu branco.
A sala ganhou esse apelido em homenagem aos relatos de papas anteriores que, sentindo o peso do momento, foram às lágrimas após sua eleição.
Em uma sacada da Basílica de São Pedro com vista para a praça, o cardeal francês Dominique Mamberti anuncia em latim: “Habemus Papam” (“temos um papa”). Ele volta para o interior da Basílica, e instantes depois o novo papa se apresenta a centenas de fiéis do mundo todo.
5. Quanto tempo dura o conclave?
Não há data definida para o conclave acabar. Já houve três conclaves que duraram mais de dois anos — mas isso aconteceu entre os séculos 13 e 15.
Em tempos modernos os conclaves foram bem mais curtos.
Entre os últimos dez conclaves, nenhum deles durou mais que cinco dias. Quatro deles duraram apenas dois dias — inclusive os dois mais recentes, que resultaram na eleição de Bento 16 e Francisco.
Confira abaixo a duração dos últimos 10 conclaves:
- 2013: papa Francisco — 2 dias; entre 12 e 13 de março
- 2005: papa Bento 16 — 2 dias; entre 18 e 19 de abril
- 1978 (outubro): papa João Paulo 2º — 3 dias; entre 14 e 16 de outubro
- 1978 (agosto): papa João Paulo 1º — 2 dias; entre 25 e 26 de agosto
- 1963: papa Paulo 6º — 3 dias; entre 19 e 21 de junho
- 1958: papa João 23 — 4 dias; entre 25 e 28 de outubro
- 1939: papa Pio 12 — 2 dias; entre 1 e 2 de março
- 1922: papa Pio 11 — 5 dias; entre 2 e 6 de fevereiro
- 1914: papa Bento 15 — 4 dias; entre 31 de agosto e 3 de setembro
- 1903: papa Pio 10 — 5 dias; entre 31 de julho e 4 de agosto
6. O papa pode ser brasileiro? De que país ele será?
O papa pode ser de qualquer país, inclusive do Brasil.
Dos 135 cardeais que podem participar do conclave, sete são brasileiros:
- Sérgio da Rocha, Primaz do Brasil e arcebispo de Salvador, 65 anos.
- Jaime Spengler, presidente da CNBB e arcebispo de Porto Alegre, 64 anos.
- Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, 75 anos.
- Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, 74 anos.
- Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília, 57 anos.
- João Braz de Aviz, arcebispo emérito de Brasília, 77 anos.
- Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, 74 anos.
O último da lista, o cardeal Leonardo Ulrich Steiner, recentemente apareceu em uma lista de favoritos da agência de notícias Reuters.
Sobre o conclave, Jaime Spegler disse à BBC News Brasil que “não se trata de encontrar um sucessor para Francisco. O que se busca é um sucessor para Pedro [apóstolo de Jesus, considerado pela Igreja como o primeiro papa]”.
Há muita especulação sobre a nacionalidade do próximo papa. Pela primeira vez, mais de 70 países estarão representados no conclave. Em 2013, eram 48 países. Isso faz parte de uma estratégia do papa Francisco de pulverizar as nomeações, o que retirou um pouco de espaço da Europa e deu maior proeminência à Ásia.