Prisão de Bolsonaro: ecisão de Moraes desafia Trump, diz jornal britânico
Crédito, Reuters
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- Author, Daniel Gallas
- Role, Da BBC News Brasil em Londres
A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes de decretar a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro “desafia a exigência de Donald Trump” de que o Brasil coloque fim ao julgamento do ex-presidente brasileiro, segundo reportagem do jornal britânico Financial Times desta terça-feira (5/8).
O jornal lembra que a decisão de Moraes foi tomada depois que o presidente dos Estados Unidos impôs, na semana passada, tarifas comerciais pesadas contra o Brasil, exigindo que os processos criminais contra Bolsonaro sejam encerrados.
“A mais recente ação contra Bolsonaro, que costuma ser chamado de ‘Trump dos Trópicos’, provavelmente aumentará as tensões em meio a uma crise nas relações entre as duas democracias mais populosas das Américas”, diz o texto do Financial Times.
“Moraes é uma figura odiada pelo movimento de direita brasileiro, e as autoridades americanas impuseram sanções financeiras a ele na semana passada, sob a Lei Magnitsky, por supostas violações de direitos humanos.”
O Financial Times também destaca que Bolsonaro “pode passar o resto da vida na prisão se for considerado culpado de conspirar com aliados, incluindo militares, para permanecer ilegalmente no poder após não conseguir ser reeleito em 2022. Bolsonaro nega qualquer irregularidade”.
Os visitantes autorizados não poderão usar celular, fazer fotos ou gravar vídeos, assim como o ex-presidente, que também está proibido de usar o celular “diretamente ou por intermédio de terceiros”.
O mandado de busca e apreensão de aparelhos celulares do ex-presidente foi cumprido no fim da tarde em Brasília, segundo informou a Polícia Federal.
A defesa de Bolsonaro afirmou ter sido “surpreendida” com o decreto da prisão domiciliar, já que o ex-presidente “não descumpriu qualquer medida”.
Por meio de nota, os advogados afirmaram que Bolsonaro não estava proibido de dar entrevistas ou fazer discursos públicos.
“A frase ‘boa tarde, Copacabana. Boa tarde meu Brasil. Um abraço a todos. É pela nossa liberdade. Estamos juntos’, não pode ser compreendida como descumprimento de medida cautelar, nem como ato criminoso.”
O governo de Donald Trump emitiu nota condenando a decisão e afirmando que se trata de uma “ameaça à democracia”. O Escritório de Assuntos do Hemisfério Ocidental, parte do Departamento de Estado, afirmou que os EUA “responsabilizarão todos aqueles que auxiliarem e forem cúmplices da conduta” de Moraes.
A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro foi destaque em diversos veículos de imprensa pelo mundo.
O jornal The New York Times, um dos principais veículos americanos, afirmou que as medidas de Moraes “ameaçam agravar a maior crise diplomática em décadas entre os Estados Unidos e o Brasil” — uma referência à decisão de Donald Trump de “defender Bolsonaro e impor tarifas de 50% sobre alguns produtos do Brasil, a maior economia da América Latina, a menos que o processo contra o ex-presidente fosse arquivado”.
O britânico The Guardian pontuou que a ordem de prisão domiciliar faz parte de um processo em curso no STF, no qual Bolsonaro é acusado de liderar uma conspiração para anular os resultados das eleições de 2022.
O jornal também cita a escalada de tensão entre Brasil e EUA e a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro do STF. O The Guardian destacou que a prisão domiciliar foi “imediatamente condenada pelos EUA”.