Por que Trump resolveu adiar as tarifas contra o México
Crédito, Isaac Esquivel/EPA
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- Author, Marina Rossi
- Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quinta-feira (31/7) em sua plataforma, Truth Social, que ele e a presidente do México, Claudia Sheinbaum, chegaram a um acordo para adiar em 90 dias a entrada em vigor das tarifas sobre importações mexicanas.
Trump afirmou também que espera chegar a um acordo comercial com o México dentro desse prazo.
Além disso, segundo o presidente americano, o México concordou em “encerrar imediatamente suas barreiras comerciais não tarifárias”, isto é, medidas para restringir importações sem recorrer a tarifas ou impostos – como restrições quantitativas – sobre produtos americanos.
“Haverá cooperação contínua na fronteira, no que se refere a todos os aspectos da Segurança, incluindo drogas, distribuição de drogas e imigração ilegal para os Estados Unidos”, escreveu Trump.
O republicano também destacou a melhora no relacionamento com a presidente mexicana.
“Cada vez mais, estamos nos conhecendo e nos entendendo”, escreveu Trump.
Os dois líderes conversaram por telefone na manhã desta quinta.
“Tivemos uma conversa muito boa com o presidente dos EUA, Donald Trump. Evitamos o aumento de tarifas anunciado para amanhã e garantimos 90 dias para construir um acordo de longo prazo por meio do diálogo”, escreveu Sheinbaum em sua conta no X.
O anúncio ocorre faltando poucas horas para a meia-noite de 1° de agosto, quando as novas tarifas entrariam em vigor.
No início de julho, Trump avia anunciado tarifa de 30% sobre as exportações mexicanas para os EUA. Segundo carta publicada pelo americano no dia 11 de julho, a taxação era “para lidar com a crise do fentanil da nossa nação, que é causada, em parte, pela falha do México em deter os cartéis, que são compostos pelas pessoas mais desprezíveis que já caminharam sobre a Terra, de despejarem essas drogas em nosso país”.
No entanto, o acordo mais recente entre os EUA e o México chegou a uma “tarifa de 25% para fentanil, tarifa de 25% para carros e tarifa de 50% para aço, alumínio e cobre”, segundo nova publicação de Trump.
A mudança vem na esteira de uma série de acordos internacionais e anúncios de alterações em tarifas para diversos países.
Na quarta-feira, às vésperas do início das tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros, Trump assinou um decreto formalizando a taxação, mas a partir de 6 de agosto – e não mais 1º de agosto – e com uma série de exceções.
Na lista de 694 produtos isentos estão o petróleo, diversos minérios, aviões e peças, polpas e suco de laranja, diversos produtos químicos, fertilizantes e gases naturais.
A lista foi divulgada depois de reuniões entre empresários, membros do governo e do Congresso brasileiro com seus homólogos americanos. No entanto, não houve um encontro ou telefonema entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Trump para tratar do assunto.
Poucas horas antes de formalizar a taxação, os Estados Unidos sancionaram o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, por meio da Lei Magnitsky, uma das mais severas disponíveis para Washington punir estrangeiros que considera autores de graves violações de direitos humanos e práticas de corrupção.
As tarifas americanas contra o Brasil foram anunciadas no início de julho em uma carta em que Trump dizia que sua decisão era uma resposta à perseguição que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria sofrendo no Brasil. Para Trump, o processo criminal que Bolsonaro enfrenta no Supremo, acusado de liderar uma tentativa de golpe de Estado, é uma “caça às bruxas”.
A secretária de Imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou nesta quinta que novos acordos ainda poderão ser feitos até o prazo final, 1° de agosto.
Até o momento, sete países e a União Europeia assinaram acordos comerciais com o governo Trump:
- Reino Unido – Após chegar a um acordo em março, a tarifa para as exportações do Reino Unido será fixada em 10%. O Reino Unido está autorizado a exportar 100 mil carros para os EUA com uma tarifa de 10%, em oposição à tarifa de 25% anunciada em março.
- União Europeia – Uma tarifa de 15% será imposta à maioria dos produtos – metade da taxa de 30% que havia sido ameaçada anteriormente.
- Japão – Uma tarifa de 15% será imposta a todos os produtos japoneses, abaixo dos 25% que haviam sido ameaçados.
- Filipinas – As exportações das Filipinas serão taxadas em 19%, abaixo dos 20% anteriores.
- China – No final de maio, os EUA anunciaram que reduziriam a tarifa imposta à China de 145% para 30%.
- Vietnã – Antes de fechar um acordo, os EUA anunciaram uma tarifa de 46%, agora reduzida para 20%.
- Indonésia: Em 15 de julho, foi firmado um acordo para reduzir a tarifa de 32% para 19%.
- Coreia do Sul: A tarifa após o acordo passou de 25% para 15%.
Embora cada país tenha uma maneria de lidar com as tarifas, cada um sentirá os efeitos de maneiras diferentes.
Na União Europeia, Alemanha, Irlanda e Itália estão particularmente expostas devido à natureza de suas parcerias com os EUA.
No caso da Alemanha, os EUA representam 13% de suas exportações, no valor de 34 bilhões de euros (R$ 217,6 bilhões).
Hildegard Müller, presidente da Associação Alemã da Indústria Automotiva, disse que as novas tarifas seriam um fardo oneroso.
Já a Irlanda tem maior dependência dos EUA como mercado de exportação. O país produz e exporta produtos farmacêuticos no valor de 50 bilhões de dólares (R$ 280 bilhões) por ano.
Na Itália, os setores agrícola, farmacêutico e automotivo sofrerão mais. O PIB pode sofrer uma queda de 0,2% como resultado da taxa de 15%, de acordo com o Instituto Italiano de Estudos Políticos Internacionais.
Com reportagem de: Ione Wells, Laura Gozzi, Bernd Debusmann Jr e Natalie Sherman e edição de Lisa Lambert e Brajesh Upadhyay.