‘O Agente Secreto’ e mais 11 filmes elogiados em Cannes que você precisa assistir
- Author, Rebecca Laurence, Hugh Montgomery e Nicholas Barber
- Role, BBC Culture
Confira a seguir a lista selecionada pela BBC Culture destes e de outros filmes do festival que você não pode deixar de assistir:
Crédito, Divulgação/Festival de Cinema de Cannes
1. Die, My Love
Com a força de estrelas como Jennifer Lawrence e Robert Pattinson, e as credenciais de arte da aclamada cineasta escocesa Lynne Ramsay (Morvern Callar, Precisamos Falar Sobre o Kevin), Die, My Love era um dos títulos mais aguardados no Festival de Cinema de Cannes, onde foi vendido para a Mubi por US$ 24 milhões.
Adaptado de um romance de 2017 de Ariana Harwicz, Lawrence e Pattinson interpretam um casal apaixonado cujo relacionamento se desfaz após uma mudança para o campo e o nascimento do filho, e se concentra no colapso mental da personagem de Lawrence.
No entanto, em um evento do festival, Ramsay criticou a interpretação que os jornalistas fizeram do filme como sendo puramente sobre depressão pós-parto, dizendo que, na verdade, era “sobre o colapso de um relacionamento, do amor e do sexo depois de ter um bebê. E também sobre um bloqueio criativo”.
Os críticos elogiaram especialmente o elenco, que inclui Sissy Spacek, LaKeith Stanfield e Nick Nolte — o filme se destaca pela atuação natural, sensual e bem-humorada de Lawrence.
“O que Lawrence faz em Die, My Love é tão delicadamente texturizado, mesmo com sua expressão ousada e sua raiva ardente, que nos deixa sem adjetivos”, escreveu Stephanie Zacharek na revista Time, enquanto Nicholas Barber, da BBC, a considera “melhor do que nunca”. (RL)
Crédito, Divulgação/Festival de Cinema de Cannes
2. Sound of Falling
Até mesmo para os padrões de Cannes, Sound of Falling é uma obra de arte extraordinariamente ambiciosa, ricamente texturizada e bela. O segundo longa-metragem de Mascha Schilinski se passa em torno da mesma casa de fazenda na Alemanha, mas abrange quatro períodos de tempo diferentes.
Vemos os mesmos personagens como crianças pequenas e como idosos; ouvimos os traumas que ecoam por meio das gerações. Pode ser desafiador entender como todos estão conectados uns aos outros e, em alguns aspectos, Sound of Falling lembra mais um romance do que um filme padrão.
Mas Schilinski cria efeitos envolventes e assustadores que só são possíveis na tela do cinema.
“Cinema é uma palavra muito pequena para descrever o que este épico extenso, porém intimista, alcança com seu brilho etéreo e perturbador”, afirmou Damon Wise no site Deadline. “Esqueça Cannes, esqueça a competição, esqueça até mesmo o ano inteiro — Sound of Falling é atemporal.” (NB).
Crédito, Divulgação/Festival de Cinema de Cannes
3. Pillion
É possível que nenhum filme tenha tido uma premissa mais marcante este ano do que esse longa-metragem britânico exibido na mostra Un Certain Regard: um romance gay BDSM (sigla em inglês para submissão, dominação, sadismo e masoquismo), com o astro de Hollywood Alexander Skarsgård no papel de Ray, um motociclista “dominador”, vestido de couro, que vive nos subúrbios de Londres e encontra um parceiro “submisso” na forma do adorável inspetor de estacionamento Colin, interpretado por Harry Melling, astro de Harry Potter.
Mas o filme em si não é uma mera provocação — e, sim, uma análise perspicaz e louvavelmente complexa sobre esse tipo de relacionamento. Inicialmente, quando o inexperiente e nerd Colin é apresentado a um mundo totalmente novo de transgressão sexual, o filme parece ocupar o território clássico da comédia britânica em seu tom peculiar e caricato, apesar do tema ousado.
Mas também se torna mais sombrio à medida que avança, levando o público a refletir se a interpretação de papéis degradante é puro abuso emocional; os acontecimentos chegam ao clímax com uma cena de almoço eletrizante e excruciante, na qual a mãe de Colin (Lesley Sharp) confronta Ray sobre o tratamento que ele dá ao filho.
Alguns críticos, como David Rooney, da revista The Hollywood Reporter, consideraram o filme “inesperadamente doce”, embora, para mim, tenha sido muito mais perturbador do que isso — um sinal, talvez, de que pode dividir opiniões quando for lançado para o público em geral. (HM)
Crédito, Divulgação/Festival de Cinema de Cannes
4. Eddington
Um thriller de comédia selvagem e caótico de Ari Aster, diretor de Hereditário e Midsommar, Eddington é protagonizado por Joaquin Phoenix no papel de um xerife atrapalhado de uma cidade pequena que se imagina o herói da sua história, mas que pode ser apenas o vilão desonesto e detestável.
O cenário é o Novo México em 2020. Aster zomba da maneira como os americanos reagiram à pandemia de covid-19, aos protestos do movimento Black Lives Matter e a outros eventos que definiram aquele ano estranho, tornando este um dos únicos grandes filmes dos EUA a lidar com tantas questões políticas contemporâneas que geram polarização.
Pedro Pascal, Emma Stone e Austin Butler estrelam o que Sophie Monks Kaufman, do jornal Independent, chamou de “o filme mais engraçado de Aster até hoje”. O “perspicaz” Eddington “oferece uma perspectiva que mostra que o Velho Oeste ainda existe offline e online”, ela escreve, “e um olhar atento para as pessoas que crescem em uma paisagem arenosa, cercada por montanhas e solitária”. (NB)
Crédito, Divulgação/Festival de Cinema de Cannes
5. O Agente Secreto
Com duas horas e 40 minutos, O Agente Secreto leva um bom tempo para se desenrolar, antes de uma perseguição final emocionante e sangrenta, e um desfecho pungente que ecoa Ainda Estou Aqui em sua reflexão sobre o legado desse período turbulento na história do Brasil.
O simpático protagonista, Marcelo, é interpretado por Wagner Moura, em uma atuação carismática.
Em sua crítica no jornal britânico The Guardian, na qual concedeu cinco estrelas ao filme, Peter Bradshaw escreveu: “O Agente Secreto não tem os imperativos de um thriller convencional, e esperar por isso vai causar impaciência. É mais romanesco em sua maneira de ser: um filme de personalidade, uma vitrine para a atuação complexa e empática de Moura, mas também a plataforma para uma produção cinematográfica emocionante e corajosa.” (RL)
Crédito, Divulgação/Festival de Cinema de Cannes
6. Sentimental Value
A Pior Pessoa do Mundo, de Joaquin Trier, foi um sucesso em Cannes em 2021, e acabou sendo indicado a dois Oscars. Agora, o diretor norueguês está de volta com outra comédia dramática perspicaz ambientada em Oslo, com a mesma estrela, Renate Reinsve. Em Sentimental Value, ela interpreta uma famosa atriz de teatro e televisão.
O pai dela, detestável e egocêntrico, interpretado por Stellan Skarsgard, é um diretor de cinema de peso, mas há 15 anos não consegue arrecadar dinheiro para um novo projeto.
Será que é por isso que ele escreveu um roteiro especialmente para a filha famosa? Ou será que o filme proposto é um esforço sincero para resolver os problemas entre eles?
“À primeira vista, o filme pode tocar no tema familiar de como os artistas se inspiram em suas próprias vidas”, observou Tim Grierson na revista Screen International, “mas Renate Reinsve e Stellan Skarsgard trazem uma ternura incrível a uma história que, em última análise, é sobre o que pais e filhos nunca dizem uns aos outros.” (NB)
Crédito, Divulgação/Festival de Cinema de Cannes
7. Sirat
Apesar de todos os projetos com grandes nomes envolvidos, uma das verdadeiras alegrias de Cannes é quando filmes que chegaram ao festival como relativamente desconhecidos terminam como grandes temas de debate, graças à sua ousadia e brilhantismo.
Este foi o caso este ano de Sirat, o primeiro filme do diretor espanhol Oliver Laxe na competição principal, que deixou as pessoas igualmente extasiadas e estressadas, ao mesmo tempo em que tiveram dificuldade para explicar do que se trata.
Mas vamos lá: começando em uma rave no deserto marroquino, cuja crescente falta de clareza dá o tom distorcido, o filme se concentra em um pai à procura da filha desaparecida.
Quando as forças militares chegam para acabar com a festa, um elemento apocalíptico é introduzido na história, antes que ela se transforme em um comovente filme de viagem pela estrada, quando pai e filho se juntam a um alegre bando de hedonistas dirigindo pelas montanhas a caminho de outro evento.
Mas, então, uma série de reviravoltas chocantes muda tudo, transformando o filme em um drama existencial, com ares de humor ácido, que é meio Mad Max, meio Samuel Beckett — ou, como Jessica Kiang, da Variety, chamou de “uma visão brilhantemente bizarra e cult da psicologia humana testada até seus limites”.
Com sonoplastia com toques de techno e uma cinematografia inspiradora da paisagem árida do norte da África, este também é, vale ressaltar, o épico mais arrebatador dos participantes deste ano — e isso, combinado com seu elemento de choque, pode muito bem fazer com que seja um filme que vai dar o que falar fora do circuito de festivais. (HM)
Crédito, Divulgação/Festival de Cinema de Cannes
8. The Chronology of Water
Desde que alçou o estrelato com Crepúsculo, Kristen Stewart tem feito escolhas inteligentes e desafiadoras em sua carreira, evitando, em grande parte, os grandes sucessos de bilheteria, e optando por projetos independentes ousados e criativos.
Portanto, não é de surpreender que seu primeiro filme atrás das câmeras tenha se mostrado uma obra tão profunda, explorando a feminilidade e o trauma, apresentando a atriz como uma cineasta de visão real.
Baseado em um livro de memórias da escritora Lidia Yuknavitch — interpretada por Imogen Poots —, o filme conta a história pungente da sua luta para processar a dor por meio da arte, abordando sua infância abusiva, batalhas com drogas e um bebê natimorto de partir o coração, entre outras coisas.
Só que, como o título indica, nada está na ordem narrativa tradicional: em vez disso, Stewart tenta mergulhar na consciência de Yuknavitch por meio de uma colagem fragmentada de imagens e momentos da vida.
Como escreveu David Fear na revista Rolling Stone, o resultado é “radical, contundente e agressivo em sua honestidade” — mesmo que, às vezes, você deseje que Stewart permita algumas cenas mais convencionais, para apreciar melhor as fortes atuações coadjuvantes, em particular, incluindo Thora Birch como a irmã de Yuknavitc, e Jim Belushi como seu mentor, Ken Kesey, autor de Um Estranho no Ninho.
Mas seu poder mais impressionista significa que é o tipo de filme que permanece e nos assombra muito tempo depois dos créditos finais — e, por essa razão, assim como pela popularidade da sua diretora, pode muito bem conquistar uma base de fãs já devotos. (HM)
Crédito, Divulgação/Festival de Cinema de Cannes
9. Urchin
Um dos temas do festival deste ano foram os filmes bem recebidos feitos por atores que estavam tentando ser diretores e roteiristas.
Ao lado de Scarlett Johansson e Kristen Stewart, Harris Dickinson (Babygirl) fez sua estreia atrás das câmeras com Urchin, um drama afiado e maliciosamente cômico sobre um jovem de classe média (Frank Dillane) que é viciado em drogas e sem-teto há anos.
É um filme ousado, pois não tenta fazer com que seu protagonista seja popular, nem explica como alguém de origem abastada acabou nas ruas.
Dickinson é impressionante quando aparece em algumas cenas, mas Urchin sugere que ele poderia atuar tanto como diretor quanto como ator de agora em diante.
Seus papéis anteriores “parecem ter funcionado como uma escola informal de cinema”, diz David Rooney na revista The Hollywood Reporter, “capacitando ele para abordar um assunto bastante complexo de forma ponderada, distinta e claramente extraída de um estudo minucioso de um mundo altamente específico”. (NB)
Crédito, Divulgação/Festival de Cinema de Cannes
10. My Father’s Shadow
Cannes pode certamente ser a principal plataforma para o cinema mundial como um todo, mas nem todas as partes do globo estão igualmente representadas — e certamente é um choque que a edição deste ano tenha sido a primeira a receber um filme nigeriano em sua seleção oficial.
Mas, certamente, depois do impacto que My Father’s Shadow teve no festival, é de se esperar que muito mais filmes nigerianos sigam seus passos nos próximos anos.
O longa-metragem de estreia de Akinola Davies Jr. foi acolhido com clamor universal, oferecendo uma bela representação pungente da memória da infância, ambientada em um ponto crucial da história do país no início dos anos 1990.
O foco está em dois meninos, que são levados pelo pai, Folarin (Ṣọpẹ́ Dìrísù) —frequentemente ausente, mas amado — em uma viagem a Lagos, capital da Nigéria, no mesmo dia em que está marcada a primeira eleição presidencial democrática do país em 10 anos.
O que se segue é um retrato vibrante, ricamente texturizado e, por fim, fortemente melancólico de um pai com os filhos que aproveitam um tempo precioso juntos em meio a uma sociedade no limite.
Tim Robey, crítico do jornal britânico The Telegraph, concedeu cinco estrelas à produção: “O filme é magicamente ágil, abrangendo tanta vida de forma tão incisiva em um dia. Ele sonha com um futuro — para o país e para a família — e lamenta a usurpação do que poderia ter sido.” (HM)
Crédito, Divulgação/Festival de Cinema de Cannes
11. Nouvelle Vague
O tributo de Richard Linklater ao autor Jean-Luc Godard é uma espiada nos bastidores da produção de Acossado (À bout de souffle), clássico policial de Godard de 1960.
Uma carta de amor ao cinema francês, ao grupo de escritores da revista Cahiers du Cinéma e à revolucionária “Nouvelle Vague” dos anos 1960, o filme de Linklater poderia ter sido feito sob medida para o Festival de Cinema de Cannes — ele até apresenta algumas piadas internas de Cannes que provocaram sorrisos complacentes nas exibições.
O filme de Linklater é uma produção leve, mas executada com maestria — desde o elenco extraordinário (Guillaume Marbeck como Godard, Aubry Dullin como Jean-Paul Belmondo e Zoey Deutch como Jean Seberg estão perfeitos) até a trilha sonora propulsora e jazzística.
“Uma obra de amor e um produto de considerável habilidade…”, escreveu Ben Croll no site The Wrap. “[Nouvelle Vague é] mais do que uma declaração de amor ao movimento francês; o filme também é uma vitrine discreta para um cineasta raramente aclamado (ou, neste quesito, homenageado) por sua sofisticação técnica.” (RL)
Crédito, Divulgação/Festival de Cinema de Cannes
12. It Was Just an Accident
Esqueça Tom Cruise. No que diz respeito aos cinéfilos, um dos maiores acontecimentos de Cannes foi a presença de Jafar Panahi. No passado, o regime do Irã proibiu o aclamado diretor de fazer filmes e de viajar, por isso foi motivo de grande comemoração o fato de ele ter podido ir ao festival e apresentar um filme novo — que conquistou a Palma de Ouro.
It Was Just an Accident é um thriller de vingança caricato sobre um grupo de cidadãos comuns que pensam ter encontrado o interrogador que os torturou quando estavam na prisão, mas que não têm certeza de que estão com o homem certo.
O filme é alimentado pela revolta em relação à brutalidade da ditadura do Irã, mas é milagrosamente humano e engraçado também. Peter Bradshaw, do jornal britânico The Guardian, disse: “É outro filme sério e cômico impressionante de uma das figuras mais distintas e corajosas do cinema mundial”. (NB)