Morte de Juliana Marins no Monte Rinjani: 6 perguntas cruciais sobre caso
Crédito, ARQUIVO PESSOAL
Uma semana após a morte da publicitária Juliana Marins, de 26 anos, em uma queda em um vulcão na Indonésia, familiares e autoridade seguem tentando entender alguns detalhes que explicam o acidente.
Confira abaixo algumas das perguntas cruciais sobre o caso.
1. Como ocorreu a queda?
Antes disso, ela fazia a subida do monte Rinjani acompanhada por um guia e um grupo. Por volta das 4h, Juliana reclamou de cansaço e ficou para trás, a pedido do guia. Ao retornar para buscar Juliana, o guia viu que ela havia caído no precipício.
Ele relata que ficou cerca de 30 minutos longe de Juliana. Ela só foi avistada novamente às 6h08 já caída, mas com vida.
A terra no vulcão é muito escorregadia. Imagens de drones de turistas feitas cerca de 3 horas depois do sumiço de Juliana mostravam que ela estava sentada na encosta, em uma posição muito íngreme — com risco de deslizar ainda mais para baixo. As imagens mostravam que Juliana estava se mexendo e chega a olhar para o alto.
2. Quanto tempo Juliana foi deixada sozinha, sem o guia?
Não está claro quanto tempo Juliana ficou sozinha, sem o guia.
Quando a brasileira relatou cansaço, o guia pediu que ela parasse para descansar enquanto ele seguiria com o grupo. Depois de descansar, o combinado é que ela deveria seguir a trilha sozinha para alcançar o grupo, segundo disse o guia ao jornal O Globo.
Estranhando a demora de Juliana, o guia teria voltado e percebido que ela havia caído em um precipício por cerca de 200 a 300 metros.
O guia deu sua versão dos fatos ao jornal O Globo: “Na verdade, eu não a deixei, mas esperei três minutos [de caminhada] na frente dela. Depois de uns 15 ou 30 minutos, a Juliana não apareceu. Procurei por ela no último local de descanso, mas não a encontrei. Eu disse que a esperaria à frente. Eu disse para ela descansar. Percebi [que ela havia caído] quando vi a luz de uma lanterna em um barranco a uns 150 metros de profundidade e ouvi a voz da Juliana pedindo socorro. Eu disse que iria ajudá-la. Tentei desesperadamente dizer a Juliana para esperar por ajuda.”
Manoel Marins, pai de Juliana, diz que o guia deixou Juliana sozinha por volta das 4h (no horário local) e só a avistou novamente às 6h08, quando avisou, por mensagem de vídeo, seu chefe sobre a queda.
Crédito, @resgatejulianamarins
“Juliana falou para o guia: ‘estou cansada’. O guia falou: ‘senta aqui, fica sentada’. E o guia nos disse que ele se afastou de onde Juliana estava para ir fumar”, disse ele em entrevista à TV Globo.
“Os culpados, no meu entendimento, são o guia, que deixou Juliana sozinha para fumar, 40 ou 50 minutos, tirou os olhos dela. A empresa que vende os passeios, porque esses passeios são vendidos em banquinha como sendo trilhas fáceis de fazer. Mas o primeiro culpado, que eu considero o culpado maior, é o coordenador do parque. Ele demorou a acionar a Defesa Civil”, disse Manoel Marins em entrevista à TV Globo.
O chefe do Parque Nacional do Monte Rinjani (TNGR), Yarman Wasur, afirmou que o processo de evacuação foi realizado de acordo com os procedimentos padrões e negou as críticas de que o processo tenha sido lento.
“Formamos uma equipe imediatamente. O processo de formar uma equipe, preparar equipamentos e outros itens leva tempo. Esta equipe precisa ser profissional, pois envolve a segurança também da equipe de evacuação.”
Yarman afirmou que dezenas de socorristas foram mobilizados para a evacuação. O número chegou a cerca de 50 pessoas na terça-feira (25/06).
Ele explicou que o clima extremo e a topografia do local foram os maiores obstáculos para a evacuação.
“Rinjani é um local extremo, com topografia extrema, e o clima aqui muda muito o tempo todo. Isso é o que impede que a equipe de evacuação seja otimizada”, disse Yarman.
Mas não explicou por que teria demorado para acionar a Defesa Civil.
3. Por que a agência de buscas e resgates só foi chamada muitas horas após queda?
O guia de Juliana disse ter ligado para a sua empresa para avisar sobre o acidente e pedir que eles acionassem o resgate. A empresa, por sua vez, acionou a administração do parque do monte Rinjani.
Segundo depoimento do pai de Juliana, o parque acionou a uma brigada de primeiros socorros, que iniciou a subida por volta das 8h30. Mas a subida até a montanha leva pelo menos seis horas, e a equipe só conseguiu chegar ao local às 14h — cerca de dez horas depois do desaparecimento inicial de Juliana.
“Ele (o guia) fez um vídeo para o chefe dele. Então, ele aciona o chefe, que aciona o parque, que, em vez de acionar a Basarnas (agência de resgate), aciona essa primeira brigada do parque”, contou Manuel Marins à TV Globo.
O pai de Juliana diz que essa primeira equipe de resgate estava despreparada.
“O único equipamento que eles tinham era uma corda. Jogaram a corda na direção da Juliana. Depois, no desespero, o guia amarrou a corda na cintura e tentou descer sem ancoragem”, disse.
Crédito, Basarnas
Segundo ele, a agência de buscas e resgate só foi acionada mais tarde e chegou ao local por volta das 19h.
O chefe do Parque Nacional do Monte Rinjani (TNGR), Yarman Wasur, argumentou que, pelas informações iniciais obtidas, a vítima caiu em um barranco a cerca de 200 metros de profundidade.
No entanto, quando a equipe foi até o local e pilotou o drone, a vítima não estava mais visível no ponto estimado inicialmente.
“Depois que nossa equipe verificou o terreno, descobriu-se que ela não estava mais lá, havia se movido, caído daquele jeito”, disse ele.
Isso, disse Yarman, fez com que a equipe de resgate perdesse o rastro da vítima. “Nossa equipe passou a noite procurando. Ela estava perdida lá.”
Além disso, disse ele, as condições climáticas incertas e a topografia extrema fizeram com que o processo de evacuação demorasse dias. Algumas tentativas de resgate foram interrompidas por isso.
4. Quantas quedas Juliana sofreu — e qual foi o tombo fatal?
Juliana foi localizada por drones em pelo menos 3 locais diferentes.
Na primeira vez, no sábado dia 21, quando houve o acidente, ela havia caído cerca de 200 metros. As imagens mostram ela sentada e se mexendo.
Na segunda-feira, dia 23, novas imagens mostram ela caída a 400 metros do penhasco. Nessas imagens, ela está imóvel.
Na terça-feira, dia 24, seu corpo está a 600 metros. Foi deste ponto que seu corpo foi içado sem vida no dia seguinte.
5. Quando Juliana morreu?
Não existe um consenso sobre o dia e o horário da morte de Juliana.
Vídeos gravados na segunda-feira (23) mostravam Juliana imóvel — o que levou a especulações de que ela já estivesse morta nesse dia.
Já a Basarnas (a agência de buscas e resgates da Indonésia) confirmou na noite de terça-feira que Juliana já estava morta.
“De acordo com meus cálculos, a vítima morreu na quarta-feira, 25 de junho, entre 1h e 13h (horário local)”, disse à BBC News Indonésia.
“De fato, é diferente da declaração da Basarnas. Há uma diferença de cerca de seis horas em relação ao horário declarado pela Basarnas. Isso se baseia nos dados de cálculo do médico”, disse Alit à BBC News Indonésia.
Ele acrescentou: “É importante lembrar que fatores ambientais, como temperatura e umidade, afetam as alterações post-mortem. Pode haver diferenças.”
E destacou que é difícil determinar a hora exata da morte devido a vários fatores, incluindo a transferência do corpo da Ilha de Lombok, onde se localiza o Monte Rinjani, para Bali dentro de um freezer — uma viagem que levou várias horas.
Crédito, Getty Images
“No entanto, com base em sinais observáveis, estima-se que a morte tenha ocorrido logo após os ferimentos”, disse o médico.
Ele acrescentou que não havia sinais de hipotermia, pois não havia ferimentos tipicamente associados à condição, como lesões nas pontas dos dedos.
Juliana morreu por conta de um trauma contundente, resultando em danos a órgãos internos e hemorragia. O legista acredita que ela morreu cerca de 20 minutos depois desses danos.
A família de Juliana Marins entrou na Justiça no Brasil com um processo em que pede uma nova autópsia no corpo da jovem.
6. De quem é a responsabilidade pela segurança no Monte Rinjani?
A família de Juliana Marins acusa as equipes de resgate do país de “negligência grave”.
“Se a equipe tivesse conseguido chegar até ela no tempo estimado de 7 horas, Juliana ainda estaria viva. Juliana merecia mais”, disse a família no perfil do Instagram @resgatejulianamarins.
“Agora buscaremos justiça para ela, porque é isso que ela merece.”
O pai de Juliana culpa o guia e o coordenador do parque pelo acidente: “Os culpados, no meu entendimento, são o guia, que deixou Juliana sozinha para fumar, 40 ou 50 minutos, tirou os olhos dela”, disse ele à TV Globo. “Mas o primeiro culpado, que eu considero o culpado maior, é o coordenador do Parque. Ele demorou a acionar a Defesa Civil.”
Para Royal Sembahulun, presidente do Fórum de Turismo do Círculo Rinjani, os guias de campo são os maiores responsáveis pela segurança dos escaladores.
“Incidentes podem acontecer com qualquer pessoa. No entanto, se um acidente ocorrer devido à negligência da pessoa que o acompanha em campo, o guia deve ser o principal responsabilizado. Portanto, no gerenciamento de escalada, o guia deve ser capaz de controlar seu grupo para todos que caminhem juntos, de forma que seja mais fácil controlá-los”, disse Royal à BBC News Indonésia.
O guia em campo também é a pessoa que deve entrar em contato imediatamente com o operador turístico e o Parque Nacional em caso de emergência, segundo outro especialista ouvido pela BBC.
Empresas, guias e turistas que não cumprem com requisitos de segurança podem ser sancionados por tempo indeterminado pelo Parque Nacional do Monte Rinjani.
Muitos questionaram a responsabilidade do parque nacional do monte Rinjani, já que outros incidentes semelhantes já aconteceram no local.
O chefe do parque nacional do monte Rinjani, Yarman Wasur, afirmou que implementou uma série de medidas de segurança, como a instalação de cordas e escadas de segurança em diversos locais vulneráveis.
Crédito, @resgatejulianamarins
Além disso, sua equipe também instalou cerca de oito câmeras de vigilância e elaborou procedimentos operacionais padrão.
Os regulamentos mais recentes do parque foram revisados em 24 de março de 2025. As regras tratam de escaladores, organizadores de trilhas, guias, carregadores e reservas de ingressos.
“Um dos procedimentos padrões no monte Rinjani é que seis escaladores externos usem um guia e dois carregadores. E isso foi feito”, disse ele.
Yarman também afirmou que seu grupo providenciou dois postos de emergência no Posto Plawangan 1 e próximo ao lago.
No entanto, afirmou que seu grupo realizará uma avaliação completa após o incidente, desde a instalação de infraestrutura de segurança até o aumento do efetivo em pontos vulneráveis.