Lula reage a ameaças de Trump sobre os Brics e diz que mundo não quer ‘imperador’
Crédito, Ricardo Moraes/Reuters
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- Author, Leandro Prazeres e Mariana Schreiber
- Role, Enviados da BBC News Brasil ao Rio de Janeiro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) rebateu, nesta segunda-feira (7/7), as ameaças e críticas feitas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em suas redes sociais aos Brics e ao Brasil.
“Eu não acho uma coisa muito responsável e séria um presidente da República de um país do tamanho dos EUA ficar ameaçando o mundo através da internet. Não é correto. Ele precisa saber que o mundo mudou. Não queremos imperador”, disse Lula em entrevista coletiva após o encerramento da cúpula dos Brics, no Rio de Janeiro.
A declaração foi uma resposta à ameaça feita por Trump em sua rede social, o Truth Social, no domingo.
“Qualquer país que se aliar às políticas antiamericanas dos Brics será cobrado com uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções a essa política”, escreveu Trump nas redes sociais.
“Somos países soberanos. Se ele achar que ele pode taxar, os países têm o direito de taxar também. Existe a lei da reciprocidade […] As pessoas precisam aprender que respeito é muito bom. A gente gosta de dar e gosta de receber, e é preciso que as pessoas leiam o significado da palavra soberania. Cada país é dono do seu nariz”, disse o petista.
Esta não foi a primeira vez que Trump ameaçou impor sanções a países dos Brics.
Em novembro de 2024, ele prometeu impor tarifas a produtos de países do bloco que aderissem a mecanismos para diminuir o uso do dólar americano em suas transações comerciais.
O uso de moedas locais nas transações financeiras entre os países do bloco foi defendida por Lula durante a entrevista coletiva, mas o tema foi tratado com menos ênfase na declaração final dos Brics, divulgada no domingo, em comparação com a declaração da cúpula realizada na Rússia, em 2024.
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que a delegação brasileira tentou tratar o assunto com mais discrição justamente para evitar um embate direto com Trump.
No ano passado, a lista de membros dos Brics expandiu-se para além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e passou a incluir também Egito, Etiópia, Indonésia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
Defesa de Bolsonaro
Crédito, Yuri Gripas/EPA
Lula também criticou outra manifestação de Trump nas redes sociais, desta vez nesta segundam em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Eu tenho assistido, assim como o mundo, como eles não fizeram nada além de persegui-lo, dia após dia, noite após noite, mês após mês, ano após ano! Ele não é culpado de nada, exceto por ter lutado pelo povo”, disse Trump e suas redes sociais.
Questionado sobre o assunto, Lula disse que teria assuntos mais importantes sobre os quais comentar, mas acabou rebatendo as declarações de Trump.
“Eu não vou comentar essa coisa do Trump e do Bolsonaro. Tenho coisa mais importante para comentar do que isso. Este país tem lei. Este país tem regras e este país tem um dono chamado povo brasileiro. Portanto, dê palpite na sua vida e não na nossa”, disse o presidente.
Há expectativa de que o caso seja julgado efetivamente pela Corte nas próximas semanas.
As declarações de Trump sobre o caso acontecem após o deputado federal licenciado, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), se mudar para os Estados Unidos, em março deste ano, e anunciar que faria uma campanha para expor o que ele vem classificando como “regime de exceção” supostamente em vigor no Brasil.
Mais cedo, Lula já havia se manifestado por meio de nota, afastando qualquer interferência externa no país.
“A defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros. Somos um país soberano”, escreveu o presidente.
Lula diz que não está em ‘mesa de negociação’ chamada pelo STF
O governo decidiu levar o caso ao STF, na esperança de que a Corte revertesse a decisão do Congresso.
Lula, porém, refutou essa solução e disse que conversará nesta semana com o Advogado-Geral da União, Jorge Messias.
“Não estou participando de nenhuma mesa de conciliação. Mandamos uma proposta para o Congresso, e o Congresso resolveu fazer uma coisa, na minha opinião, anticonstitucional, porque decreto é uma prioridade do governo, do Executivo”.
“Houve um PDL [Projeto de Decreto Legislativo] do Congresso Nacional que derrubou [nosso decreto], entramos na Justiça. Não li ainda a decisão do ministro Alexandre de Moraes, mas temos outras decisões de ministros diferentes. Temos decisões do ministro Gilmar [durante o governo] do FHC, temos [mudança no] IOF aprovada pelo governo Bolsonaro”, argumentou Lula.