Lula diz que Trump não é ‘imperador do mundo’, e Casa Branca responde
Crédito, Andre Borges/EPA/Shutterstock
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- Author, Rute Pina
- Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
Em meio à escalada de tensões diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta quinta-feira (17/7), que o presidente americano Donald Trump “não foi eleito para ser imperador do mundo”.
À emissora americana, Lula afirmou que, se Trump fosse brasileiro, “ele também seria julgado” por sua participação nos eventos do Capitólio e, caso tivesse violado a Constituição, “ele também estaria preso”.
Trump classificou o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu por tentativa de golpe, como uma “caça às bruxas”.
A mensagem foi enviada em carta da semana passada, a mesma que impôs a o tarifaço para os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto.
“Quando vi a carta [com o anúncio das tarifas], eu achei que fosse fake news”, disse Lula. “Para mim foi uma surpresa não só o valor da tarifa, mas como foi anunciado. Ele [Trump] está quebrando todo e qualquer protocolo, toda e qualquer liturgia que deve existir no relacionamento entre dois chefes de Estado.”
Lula também disse que não quer ser “refém dos Estados Unidos” e destacou que o Brasil está disposto a negociar, mas não vai aceitar imposições.
“O Brasil gosta de negociar em paz. É assim que eu ajo, e acho que é assim que todos os presidentes deveriam agir. E penso o mesmo sobre o presidente Trump, que o Brasil é um aliado histórico dos EUA. O Brasil valoriza as relações econômicas que tem com os EUA, mas o Brasil não aceitará nada imposto a ele de outro país. Aceitamos negociação, e não imposição”, disse.
Crédito, Reprodução/X/@amanpour
Lula também afirmou que não vê Trump como um “político de extrema direita”, mas como um chefe de Estado.
“Eu não sou um presidente progressista, eu sou o presidente do Brasil. Eu não vejo o Trump como presidente de direita, eu vejo como presidente dos Estados Unidos. Ele foi eleito. Tem o respaldo do povo americano. Então, a melhor coisa é sentar numa mesa para conversar. Até agora, ele tem demonstrado que não tem interesse, porque acha que pode fazer as tarifas que quiser.”
O presidente disse que não há intenção de romper laços com os EUA. “Ninguém quer romper com os Estados Unidos, ninguém quer prescindir dos Estados Unidos. O que queremos é não ser refém dos Estados Unidos.”
Segundo ele, o Brasil já vem diversificando seus parceiros comerciais e defendeu o fortalecimento do Brics e maior liberdade nas transações entre os países do bloco.
“Representamos 40% do comércio internacional e 25% do PIB mundial. O BRICS não foi criado para brigar com o Norte, mas para discutir de forma pacífica e igualitária os seus problemas.”
Casa branca reage às declarações
As declarações de Lula provocaram uma reação imediata do governo americano.
Horas depois da entrevista ir ao ar, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, rebateu as críticas do presidente brasileiro. A jornalistas, ela disse que Trump não quer ser o “imperador do mundo”, como disse Lula, mas que é um líder forte com influência global.
“O presidente certamente não está tentando ser o imperador do mundo. Ele é um presidente forte dos Estados Unidos da América e também é o líder do mundo livre”, disse Leavitt.
“Vimos uma grande mudança em todo o globo por causa da liderança firme deste presidente.”
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Leavitt também criticou o Brasil por práticas ambientais e pela proteção à propriedade intelectual, afirmando que “as regulações digitais do Brasil e a fraca proteção à propriedade intelectual prejudicam empresas americanas” e colocam os produtores e agricultores dos EUA em desvantagem competitiva.
Questionada sobre a carta de Trump anunciando tarifas de 50% sobre produtos brasileiros importados pelos EUA, ela afirmou que as medidas visam proteger os interesses do povo americano.
Tributação das big techs
Também nesta quinta, durante discurso na abertura do 60º Congresso da UNE (Conune), em Goiânia, Lula afirmou que o Brasil passará a cobrar impostos das empresas de tecnologia dos Estados Unidos.
Sem detalhar como a medida será aplicada, ele disse que “o Brasil vai julgar e vai cobrar imposto das empresas digitais norte-americanas”.
O objetivo da investigação é analisar se políticas brasileiras na área de comércio seriam “irracionais ou discriminatórias” e se “oneram ou restringem o comércio dos EUA”, segundo um comunicado do Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês), uma agência do governo federal.
No evento da UNE, Lula também voltou a defender o multilateralismo e criticou a postura do presidente norte-americano nas negociações internacionais.
“Eu tenho certeza que o presidente norte-americano jamais negociou 10% do que eu já negociei na minha vida. Então, se tem uma coisa que eu sei na vida, é negociar”, afirmou.