janeiro 22, 2025

‘Legislação faz com que os criminosos não temam mais o Estado’, diz Castro sobre óleo usado para dificultar operação no Complexo do Alemão

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O governador Cláudio Castro voltou a criticar a ADPF ao comentar sobre a operação realizada na manhã desta quarta-feira no Complexo do Alemão. Após a polícia informar que investigará o vazamento de informações sobre a ação, Castro afirmou que a obrigação de notificar diversos órgãos antes de operações policiais compromete o sigilo das investigações. O governador também declarou que os criminosos estão cada vez mais ousados e perderam o medo do Estado. Antes da ação, criminosos montaram barricadas e espalharam óleo em algumas ruas, o que fez com que um caveirão derrapasse. Durante a operação, um policial militar do Batalhão de Operações Especiais (Bope) ficou ferido e três suspeitos morreram.

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Ao falar sobre a operação, o governador Cláudio Castro garantiu que o Estado reparará os danos causados aos veículos atingidos pelo caveirão e criticou legislações como a ADPF, que, segundo ele, incentivam a ousadia dos criminosos e enfraquecem a segurança pública.

— A polícia já identificou e já falou com as pessoas. Todos os carros atingidos pelo caveirão serão consertados. O Estado vai arcar com 100% do prejuízo dos proprietários. Não é justo que essas famílias tenham esse gasto. É importante lembrar que foi uma operação muito bem-sucedida hoje. O caveirão entrou para salvar um policial que havia sido alvejado. Aquela cena mostra, mais uma vez, o que venho dizendo: a legislação está fazendo com que os criminosos não temam mais o Estado — disparou.

Segundo ele, a ADPF está causando um impacto “muito negativo” na segurança pública do Rio. O governador ainda afirmou que “a legislação é um convite para a criminalidade”.

— A legislação está tornando os criminosos mais ousados a cada dia. Colocam óleo na pista para o caveirão não subir. Isso precisa ser analisado pelas autoridades, principalmente as relacionadas à segurança pública, para entenderem os efeitos colaterais que essas legislações estão provocando. Não é a ideia original, mas essas leis causam um impacto muito negativo. Cada dia mais, essa legislação é um convite para a criminalidade — disse o governador.

Castro também criticou a exigência de informar múltiplos órgãos sobre operações policiais, como previsto na ADPF. Ele argumenta que essa obrigação compromete o sigilo das ações.

— Não tem como não ter vazamento tendo que avisar dez ou 15 órgãos, impossível. Enquanto a polícia tiver que avisar todo mundo o dia que a equipe vai entrar, acabou. Mais um filho da ADPF — afirmou Castro.

Operação contra caixinha do CV

Todos os alvos da operação foram denunciados pelo Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP, à Justiça pelos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro, relacionados ao tráfico de drogas e à ocultação de valores ilícitos em mais de 4.888 operações financeiras, totalizando R$ 21.521.290,38.

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Além do Alemão, foram cumpridos mandados em Bangu, Jacarepaguá, Engenho da Rainha, Ramos, Copacabana, Cordovil, Santo Cristo, no município de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e no Instituto Penal Vicente Piragibe, no Complexo Penitenciário de Gericinó. Também há mandados sendo cumpridos nos estados da Bahia e da Paraíba.

Até o fim da manhã haviam sido apreendidos sete fuzis, uma submetralhadora, uma pistola, sete granadas, 12 carregadores e munição no Alemão.

De acordo com o Gaeco a “Caixinha do CV” sustenta as atividades criminosas da organização criminosa. O sistema funciona como uma “franquia”: chefes de pontos de venda de drogas nas comunidades dominadas pela facção pagam uma mensalidade e, em troca, têm acesso à marca da organização — podem usar a sigla CV —, aos fornecedores de entorpecentes, recebem suporte logístico e apoio bélico.

Ainda segundo a denúncia do Gaeco, os valores arrecadados têm dois destinos. Em primeiro lugar, vão para os chefes do grupo criminoso, que se aproveitam deles e se tornam “barões do tráfico”, que constroem mansões nas comunidades do Rio. Em segundo, o dinheiro é usado para formar um fundo financeiro da facção.

Esse fundo teria quatro funções, aponta o Gaeco: compra de arma, munição e drogas; concessão de empréstimos e investimento em tomada de território e/ou recomposição financeira; pagamento de pensão a integrante presos; e pagamento de propinas a agentes públicos.

Movimentação do dinheiro

A investigação identificou que, para movimentar o dinheiro, são feitos depósitos e saques abaixo de R$ 10 mil e em dinheiro, são realizadas transferências sucessivas e de formas fracionadas. Há também evidência de que são usadas “contas de passagem”, com movimentação passageira de valores e saques em dinheiro para pulverizar as quantias. Assim, o dinheiro é lavado e a identificação da cadeia de transmissão e do beneficiário é dificultada.

Com base nesses dados, a polícia descobriu que o dinheiro a ser lavado partia da “Caixinha do CV”, administrada, 2019, pelo traficante Carlos Henrique dos Santos, o Carlinhos Cocaína, já morto. Ele era integrante da cúpula da facção e comandava o tráfico na Cidade de Deus.

O dinheiro arrecadado é usado pelos chefes do tráfico para bancar uma vida de ostentação e luxo. E, também, para formar um fundo financeiro do CV. Esse fundo teria quatro funções, aponta o Gaeco: compra de arma, munição e drogas; concessão de empréstimos e investimento em tomada de território e/ou recomposição financeira; pagamento de pensão a integrante presos; e pagamento de propinas a agentes públicos.

Início das investigações

As investigações sobre a “Caixinha do CV” começaram em 21 de maio de 2019, com a prisão em flagrante de Elton da Conceição, conhecido como “PQD da CDD”, na Cidade de Deus, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio. Na ocasião, foram apreendidos armas, munição e documentos que revelaram um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro operado pelo Comando Vermelho. Entre os materiais recolhidos, estavam comprovantes de depósitos bancários, que permitiram rastrear movimentações financeiras ilícitas para financiar as atividades da facção criminosa.

A primeira fase da operação, deflagrada em 2020, foi concentrada na identificação do fluxo financeiro vinculado ao CV. Essa etapa resultou no indiciamento de 84 pessoas e na apreensão de documentos que detalhavam o funcionamento da “Caixinha”, o fundo financeiro que sustenta a organização criminosa.

Com base nas evidências, foram autorizadas as quebras de sigilo fiscal e bancário dos investigados, o que fez com que os investigadores tivessem acesso detalhado às movimentações financeiras suspeitas. Essas análises foram realizadas pelo Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro (LAB-LD), vinculado ao Departamento-Geral de Combate ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCCOR-LD).

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