Irmãos Mendez: Juiz dá nova sentença pelo assassinato dos pais
Crédito, Getty Images
- Author, Christal Hayes
- Role, BBC News
- Reporting from Los Angeles
Um juiz de Los Angeles reconsiderou a sentença dos irmãos Menendez, os dois homens que cumpriam prisão perpétua pelos assassinatos de seus pais em Beverly Hills em 1989, tornando-os elegíveis para liberdade condicional.
Erik e Lyle Menendez receberam uma nova sentença de 50 anos de prisão perpétua. A decisão sobre a possível libertação deles será tomada pelo conselho de liberdade condicional do estado.
O caso, um dos julgamentos mais notórios dos EUA, inspirou livros e documentários — e ainda divide muitos americanos. O Ministério Público argumentou veementemente contra uma pena menor, alegando que os irmãos não foram reabilitados.
Os irmãos reconheceram ter matado Kitty e Jose Menendez, mas disseram que agiram em legítima defesa após anos de abuso sexual.
Após o juiz concordar em renovar a sentença, os irmãos prestaram uma declaração emocionada ao tribunal. Eles repassaram detalhes sombrios dos assassinatos brutais e da decisão de recarregar a arma e continuar atirando nos pais à queima-roupa na sala de estar de sua mansão.
“Eu tive que parar de ser egoísta e imaturo para realmente entender o que meus pais passaram naqueles últimos momentos”, disse Erik Menendez ao tribunal.
Ele descreveu o “choque, a confusão e a traição” que devem ter sentido ao ver seus filhos segurando armas e atirando.
Ambos se desculparam por suas ações e falaram sobre suas esperanças de trabalhar com vítimas de abuso sexual e ajudar os encarcerados se tivessem uma segunda chance fora da prisão.
A voz de Lyle Menendez falhou ao falar sobre o impacto de suas ações “incompreensíveis” na família.
“Eu menti para vocês e os coloquei sob os holofotes da humilhação pública”, disse ele à família.
Ele disse que eles “choraram comigo e expressaram seu sofrimento” e, depois de tudo o que ele os fez passar, ainda decidiram perdoar — vários deles testemunharam durante a audiência, ocorrida na terça-feira (13/5), e pressionaram pela sua libertação.
Grande parte da audiência se concentrou no que os irmãos têm feito na prisão nos últimos 30 anos. Familiares e aqueles que trabalharam com eles na prisão detalharam a educação que concluíram enquanto estavam presos e os programas que criaram para melhorar a vida dos detentos, incluindo uma iniciativa de espaços verdes e um programa de cuidados paliativos para idosos e doentes.
O juiz Jesic chamou o trabalho dos irmãos enquanto estavam na prisão de “notável”, mas observou que a sentença original deles era justificada na época.
Ele disse que, de acordo com as diretrizes, eles eram elegíveis para uma nova sentença, impondo sua nova sentença de 50 anos à prisão perpétua. Os irmãos já cumpriram mais de 30 anos de prisão.
Irmãos reagem à nova sentença
Enquanto o juiz continuava a leitura, os irmãos sorriram abertamente e acenaram para seus advogados e familiares que lotavam o tribunal. Os familiares se abraçaram com sorrisos.
“Hoje é um grande dia”, disse o advogado dos irmãos, Mark Geragos, aos repórteres do lado de fora do tribunal. Ele disse que eles estavam a “um passo de trazer os meninos para casa”.
Anamaria Baralt, prima dos irmãos que testemunhou no tribunal mais cedo, disse que a família estava eufórica, mas observou que ainda tinha um longo caminho pela frente.
“É um processo difícil”, disse ela sobre o processo de liberdade condicional que aguarda os irmãos, mas observou que eles “entrarão ansiosamente por essas portas se isso significar que poderemos levá-los para casa”.
Mais cedo, no tribunal, parentes imploraram ao juiz que permitisse a libertação dos irmãos.
Baralt, que afirmou ser próxima deles desde crianças, disse ao juiz que eles mereciam uma “segunda chance na vida”.
“Tem sido um pesadelo”, disse ela. “Estou desesperada para que este processo acabe.”
Ela também disse ao tribunal que conversa com os irmãos com frequência e testemunhou que eles assumiram “a responsabilidade por suas ações”.
Baralt afirmou que Lyle Menendez lhe confessou ter pedido a uma testemunha que mentisse ao testemunhar em seu julgamento anterior.
Mas ela acrescentou: “Eles são homens muito diferentes dos meninos que eram.”
Junto com três familiares, o juiz também ouviu um juiz aposentado da Flórida – que disse nunca ter testemunhado em nome de nenhum réu criminal – e Anerae “X-Raided” Brown, um rapper que cumpriu pena com os dois irmãos e que recebeu créditos por sua libertação.
O Ministério Público, que se opôs veementemente à libertação dos irmãos, questionou cada testemunha sobre o histórico de mentiras de Erik e Lyle sobre os assassinatos, desde mentir para as autoridades imediatamente após os crimes, e para familiares sobre sua culpa, até mentiras que contaram no tribunal durante os julgamentos.
O cerne de grande parte da oposição reside na reabilitação. Os promotores disseram que os irmãos continuaram a “dar desculpas” por sua conduta, em vez de assumirem total responsabilidade. O promotor público do Condado de Los Angeles, Nathan Hochman, apontou para uma “ladainha de mentiras” às quais os irmãos se apegaram desde os crimes – incluindo suas alegações de legítima defesa.
“Não há dúvida de que eles fizeram todas essas coisas positivas na prisão”, disse o promotor adjunto Habib Balian em suas alegações finais. Mas, acrescentou, ao reverter o veredito unânime de um júri em um caso de assassinato tão brutal, é importante “garantir que eles sejam verdadeiramente reabilitados”.
O caso voltou aos holofotes após um novo drama da Netflix, Monstros: A História de Lyle e Erik Menendez, bem como o lançamento do documentário The Menendez Brothers (Os Irmãos Menendez).
O caso foi apresentado a uma nova geração e atraiu a atenção de celebridades – incluindo Kim Kardashian e Rosie O’Donnell – que pediram a libertação dos irmãos. O promotor anterior, George Gascón, apoiou o pedido de nova sentença, permitindo que o processo fosse levado a julgamento.
O que acontece depois no caso dos irmãos Menendez?
O próximo passo para os irmãos será o conselho de liberdade condicional da Califórnia.
O conselho já está avaliando os irmãos após um pedido do governador Gavin Newsom, que está analisando separadamente um pedido de clemência dos irmãos. Esse pedido pode se traduzir em uma pena reduzida ou perdão, se aprovado.
Newsom solicitou que o conselho de liberdade condicional realize uma avaliação de risco, já elaborada, que examina se eles representam um risco para o público caso sejam libertos.
O relatório elaborado examina os fatores por trás dos crimes e sua reabilitação enquanto estão na prisão. O relatório completo não foi divulgado, mas concluiu que os irmãos representam um “risco moderado” para o público caso sejam libertos.
Uma audiência já havia sido agendada para 13 de junho para discutir as conclusões.
Não está claro o que poderá acontecer na audiência, ou se haverá várias audiências para avaliar sua potencial libertação.