Irã: País pode começar a enriquecer urânio para bomba em alguns meses, diz chefe da agência nuclear da ONU
Crédito, EPA
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- Author, Stuart Lau
- Role, BBC News
O Irã tem capacidade para retomar o enriquecimento de urânio – para uma possível bomba – em “questão de meses”, afirmou o chefe da agência nuclear da ONU.
Rafael Grossi, chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), afirmou que os ataques dos EUA a três instalações iranianas no último fim de semana causaram danos graves, mas “não totais”, contradizendo a afirmação de Donald Trump de que as instalações nucleares iranianas foram “totalmente destruídas”.
“Francamente, não se pode afirmar que tudo desapareceu e que não há nada lá”, disse Grossi neste sábado (28/6).
Israel atacou instalações nucleares e militares no Irã em 13 de junho, alegando que o Irã estava perto de construir uma arma nuclear.
Posteriormente, os EUA se juntaram aos ataques, lançando bombas sobre três instalações nucleares iranianas: Fordo, Natanz e Isfahan.
Desde então, a verdadeira extensão dos danos permanece incerta.
No sábado, Grossi disse à CBS News, parceira de mídia da BBC nos EUA, que Teerã poderia ter “em questão de meses… algumas cascatas de centrífugas girando e produzindo urânio enriquecido”.
Ele acrescentou que o Irã ainda possui “capacidades industriais e tecnológicas… então, se assim o desejarem, poderão começar a fazer isso novamente”.
A AIEA não é o primeiro órgão a sugerir que as capacidades nucleares do Irã ainda podem continuar – no início desta semana, uma avaliação preliminar vazada do Pentágono concluiu que os ataques americanos provavelmente apenas atrasaram o programa em meses.
É possível, no entanto, que futuros relatórios de inteligência incluam mais informações mostrando um nível diferente de danos às instalações.
Trump respondeu furiosamente, declarando que as instalações nucleares do Irã foram “completamente destruídas” e acusou a mídia de “uma tentativa de desmerecer um dos ataques militares mais bem-sucedidos da história”.
Por enquanto, Irã e Israel concordaram com um cessar-fogo.
Mas Trump disse que consideraria “absolutamente” bombardear o Irã novamente se a inteligência descobrisse que o país poderia enriquecer urânio a níveis preocupantes.
O Irã, por outro lado, enviou mensagens conflitantes sobre a extensão dos danos causados.
O relacionamento já tenso do Irã com a AIEA foi ainda mais desafiado na quarta-feira (25), quando seu Parlamento decidiu suspender a cooperação com a agência de vigilância atômica, acusando a AIEA de se aliar a Israel e aos EUA.
Teerã rejeitou o pedido da AIEA para inspecionar as instalações danificadas e, na sexta-feira (27), Araghchi disse no X que “a insistência de Grossi em visitar os locais bombardeados sob o pretexto de salvaguardas é insignificante e possivelmente até mesmo maliciosa”.
Israel e EUA atacaram o Irã depois que a AIEA, no mês passado, concluiu que Teerã violou suas obrigações de não proliferação pela primeira vez em 20 anos.
O Irã insiste que seu programa nuclear é pacífico e para uso exclusivamente civil.
Apesar da recusa iraniana em trabalhar com sua organização, Grossi disse esperar poder negociar com Teerã.
“Preciso conversar com o Irã e analisar isso, porque, no fim das contas, tudo isso, depois dos ataques militares, precisará de uma solução duradoura, que só pode ser diplomática”, disse ele.
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Segundo um acordo nuclear de 2015 com potências mundiais, o Irã não estava autorizado a enriquecer urânio acima de 3,67% de pureza – o nível exigido para combustível de usinas nucleares comerciais – e não estava autorizado a realizar qualquer enriquecimento em sua usina de Fordo por 15 anos.
No entanto, Trump abandonou o acordo durante seu primeiro mandato em 2018, alegando que ele fazia muito pouco para impedir o desenvolvimento de uma bomba, e restabeleceu as sanções americanas.
O Irã retaliou violando cada vez mais as restrições – particularmente aquelas relacionadas ao enriquecimento. O país retomou o enriquecimento em Fordo em 2021 e acumulou urânio enriquecido a 60% suficiente para potencialmente fabricar nove bombas nucleares, de acordo com a AIEA.