Imunidade de bebês: como a primeira bactéria que encontramos na nossa vida pode nos manter saudáveis
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- Author, James Gallagher
- Role, Correspondente de saúde e ciência
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As primeiras bactérias que nosso corpo encontra — nas horas seguintes ao nascimento — podem nos proteger de infecções perigosas, de acordo com cientistas do Reino Unido.
Eles demonstraram, pela primeira vez, que bactérias boas parecem reduzir pela metade o risco de crianças pequenas serem internadas com infecções pulmonares.
Os pesquisadores disseram que esta foi uma descoberta “fenomenal” — e que pode levar a terapias que estimulem bactérias boas em bebês.
Acredita-se que nossos primeiros encontros com micróbios sejam cruciais para o desenvolvimento do nosso sistema imunológico.
Saímos do útero estéreis, mas isso não dura muito tempo. Todos os cantos e recantos do corpo humano se tornam lar para um mundo de vida microbiana, conhecido como microbioma.
Pesquisadores da University College London (UCL) e do Sanger Institute, no Reino Unido, investigaram os primeiros estágios de colonização do nosso corpo por bactérias, fungos e muito mais.
Eles coletaram amostras de fezes de 1.082 recém-nascidos na primeira semana de vida. Em seguida, a equipe realizou uma análise genética completa de todo o DNA das amostras para descobrir exatamente quais espécies estavam presentes, e quão comuns elas eram em cada criança.
Em seguida, eles acompanharam o que aconteceu com esses bebês, usando dados hospitalares, durante os dois anos seguintes.
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Um dos primeiros habitantes do corpo humano em particular, a Bifidobacterium longum, parecia ter um efeito protetor.
Apenas 4% dos bebês com esta espécie passariam uma noite no hospital com infecção pulmonar nos dois anos seguintes. Os bebês com bactérias iniciais diferentes tinham de duas a três vezes mais chance de precisar ficar internados.
Estes são os primeiros dados que mostram que a formação do microbioma afeta o risco de infecção.
“Acho que é realmente fenomenal. É incrível poder mostrar isso. Estou animado”, disse Nigel Field, professor da UCL, à BBC.
Como estas bactérias estão fazendo isso?
Esta é a “pergunta de um milhão de dólares”, segundo Field.
Sabemos que a B. longum começa digerindo o leite materno, que contém alimento para o bebê e estimula bactérias boas.
Os detalhes exatos ainda não foram descobertos, mas as próprias bactérias ou os compostos que elas produzem ao digerir alimentos estão interagindo com o sistema imunológico “e influenciando a maneira pela qual o sistema imunológico amadurece, e é capaz de distinguir o amigo do inimigo”, explica Field.
As bactérias protetoras foram encontradas apenas em bebês que nasceram por parto normal, em vez de cesárea. Mesmo assim, elas não foram descobertas após todos os partos vaginais.
Os pesquisadores dizem que suas descobertas não justificam a prática de semeadura vaginal, que consiste em passar fluidos vaginais da mãe em bebês nascidos por cesárea.
As bactérias boas parecem estar vindo do final do sistema digestivo da mãe.
“Eu me sinto bastante confiante em dizer que a semeadura vaginal não é uma coisa boa”, diz Field.
Mas a ambição de longo prazo é criar terapias microbianas — como um iogurte probiótico — que possam ser administradas em bebês para direcionar seus microbiomas para um caminho saudável.
“A cesárea é muitas vezes um procedimento que salva vidas, e pode ser a escolha certa para a mulher e seu bebê”, observa a ginecologista e obstetra Louise Kenny, da Universidade de Liverpool, no Reino Unido.
Ela disse que, embora o benefício tenha sido observado apenas em bebês nascidos de parto normal, ele não foi observado em todas as crianças nascidas desta forma — portanto, “são necessárias mais pesquisas para criar um quadro completo e matizado”.