Guerra na Ucrânia: Rússia lança maior ataque aéreo desde início do conflito
Crédito, Reuters
- Author, James Waterhouse
- Role, Correspondente da BBC News em Kiev
- Reporting from Kyiv
Pelo menos 14 pessoas, incluindo três crianças, foram mortas e dezenas ficaram feridas nos ataques generalizados, disseram as autoridades locais.
O ataque ocorreu um dia depois que a capital ucraniana, Kiev, sofreu um dos ataques mais pesados da guerra até agora.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que a “brutalidade não pode ser interrompida” sem “forte pressão sobre a liderança russa”. A Rússia tem ignorado os pedidos de cessar-fogo.
Zelensky disse ainda que o “silêncio” dos EUA e de outros “apenas encoraja [o presidente russo Vladimir] Putin”, em um aparente esforço para exercer pressão sobre o presidente americano Donald Trump.
A Força Aérea da Ucrânia disse que desde as 20:40 do sábado (24) do horário local (13h40 de Brasília), a Rússia realizou ataques usando 367 mísseis de vários tipos, veículos aéreos não tripulados (UAVs) e drones.
A Força Aérea disse que derrubou 45 mísseis de cruzeiro e destruiu 266 UAVs, com a maioria das regiões da Ucrânia afetadas e ataques registrados em 22 locais.
Equipes de resgate estavam trabalhando em mais de 30 cidades e vilarejos após o ataque “massivo”, disse Zelensky em um comunicado no X na manhã deste domingo (25/5).
“A Rússia está prolongando essa guerra e continua matando todos os dias”, disse ele.
“O mundo pode fazer uma pausa de fim de semana, mas a guerra continua, independentemente dos fins de semana e dias da semana. Isso não pode ser ignorado.”
O Ministério da Defesa da Rússia disse que infligiu danos a alvos, incluindo aeródromos militares, depósitos de munição e estações de guerra elétrica, alegando danos em 142 áreas.
De acordo com o ministro de Assuntos Internos da Ucrânia, Ihor Klymenko, 13 regiões foram atacadas, com mais de 70 pessoas feridas, 80 edifícios residenciais danificados e 27 incêndios registrados. Mortes foram relatadas em várias regiões.
Klymenko chamou isso de “ataque combinado e implacável dirigido a civis”.
Putin lançou uma invasão em grande escala da Ucrânia em fevereiro de 2022, e Moscou atualmente controla cerca de 20% do território ucraniano.
Isso inclui a Crimeia – a península sul da Ucrânia anexada pela Rússia em 2014.
Em termos de número de drones e mísseis lançados pela Rússia, o ataque aéreo da noite de sábado foi o maior desde o início do conflito.
A Rússia atualmente é capaz não apenas de fabricar os mísseis em um ritmo mais rápido, mas também tem evoluído sua tecnologia. Os drones Shahed agora estão repletos de mais explosivos e tecnologia aprimorada para evitar a detecção.
O maior ataque anterior de drones da Rússia ocorreu há apenas uma semana, quando 273 drones foram lançados na região central de Kiev e nas regiões de Dnipropetrovsk e Donetsk, no leste, de acordo com a Força Aérea da Ucrânia.
Das pessoas mortas no ataque de domingo, três eram crianças de oito, 12 e 17 anos na região de Zhytomyr, informou o serviço estadual de emergências da Ucrânia, DSNS.
Klymenko disse que eles eram da mesma família e que seus pais estavam no hospital.
Duas mulheres, de 85 e 56 anos, foram mortas depois que uma casa em Kupiansk foi atingida, de acordo com Oleh Syniehubov, chefe do escritório regional de Kharkiv.
Na região de Kiev, quatro pessoas foram mortas e 16 feridas, incluindo três crianças, informou o DSNS.
Em Kiev, autoridades locais relataram 11 feridos, vários incêndios e danos em edifícios residenciais, incluindo um dormitório.
Centenas de pessoas se dirigiram às profundas estações de metrô da cidade em busca de abrigo. O barulho dos drones encheu o ar, ocasionalmente pontuado pelos estrondos das defesas aéreas ou pelos momentos de impacto. Vários incêndios foram relatados.
Uma colega da BBC enviou uma mensagem dizendo que um bloco de apartamentos havia sido destruído, a apenas cinco minutos de carro de onde ela mora.
Os ataques ocorrem no momento em que a capital comemora o feriado anual do Dia de Kiev.
Crédito, Reuters
Na Rússia, o Ministério da Defesa disse que 110 drones ucranianos foram destruídos e interceptados em 12 regiões russas e na península da Crimeia entre meia-noite e 07:00 deste domingo, no horário local.
O prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, relatou que 12 drones que se dirigiam para a capital foram abatidos.
Ele acrescentou que equipes de serviços de emergência foram enviadas para avaliar os danos causados pela queda de detritos de drones.
Na região de Tula, ao sul de Moscou, destroços de drones caíram no pátio de um prédio residencial, quebrando janelas em vários apartamentos, disse o governador local, Dmitriy Milyaev. Ninguém ficou ferido, acrescentou.
Este domingo também é o terceiro e último dia de uma grande troca de prisioneiros de guerra entre os dois lados. Mas, após este fim de semana, há ainda menos esperança de que essa troca leve a uma maior cooperação.
Na sexta-feira, a Ucrânia e a Rússia entregaram, cada uma, 390 soldados e civis na maior troca de prisioneiros desde que a Rússia lançou seu ataque em grande escala em fevereiro de 2022.
No sábado, Zelensky anunciou que outros 307 prisioneiros ucranianos voltaram para casa como parte de um acordo de troca com o Kremlin.
E no domingo, a Ucrânia e a Rússia confirmaram que 303 de seus soldados haviam voltado para casa, elevando o total ao longo dos três dias para 1.000 prisioneiros cada.
A troca segue as primeiras conversas presenciais entre os dois lados em três anos, que ocorreram na Turquia.
Trump disse acreditar que a ligação correu “muito bem” e acrescentou que a Rússia e a Ucrânia “iniciarão imediatamente” negociações para um cessar-fogo e “o fim da guerra”.
No entanto, Putin disse apenas que a Rússia trabalharia com a Ucrânia para elaborar um “memorando” sobre uma “possível paz futura” e não aceitou um cessar-fogo de 30 dias.