‘Grande dia’ x ‘preso político’: as reações às medidas contra Bolsonaro
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- Author, Thais Carrança
- Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
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A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de impor medidas cautelares contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) repercutiu nesta sexta-feira (18/7) entre políticos e figuras públicas ligadas aos campos da direita e da esquerda.
O ex-presidente também será monitorado por tornozeleira eletrônica; não poderá manter contato com embaixadores, autoridades estrangeiras e nem se aproximar de sedes de embaixadas e consulados.
A defesa de Bolsonaro disse ter recebido “com surpresa e indignação a imposição de medidas cautelares severas contra ele, que até o presente momento sempre cumpriu com todas as determinações do Poder Judiciário”.
Em entrevista à imprensa, Bolsonaro atribuiu motivação política à investigação que levou à nova operação da Polícia Federal nesta sexta-feira. “Nunca pensei em sair do Brasil ou buscar refúgio em embaixada”, declarou.
Ministros do governo federal e parlamentares petistas e de outros partidos de esquerda comemoraram a decisão de Moraes e fizeram postagens irônicas sobre a possível prisão iminente de Bolsonaro.
Já os apoiadores do ex-presidente criticaram o que consideram mais uma decisão autoritária de Moraes, enfatizando que Bolsonaro seria vítima de perseguição política.
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Reações à esquerda
“TOC, TOC, TOC! Agora, um possível plano de fuga ficou mais difícil. O @STF determinou uso de tornozeleira eletrônica no ex-presidente golpista, e a @policiafederal já cumpriu a decisão da Justiça. Como não é uma joia das “Arábias”, não poderá ser desviada nem vendida”, postou Luiz Marinho, ministro do Trabalho e Emprego, no X (antigo Twitter).
“O bananinha @BolsonaroSP que se cuide porque ao voltar para o Brasil pode ter uma tornozeleira eletrônica esperando por ele aqui”, escreveu Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, também no X.
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“Faltou postar: Grande dia!”, escreveu o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo federal, que deixou o cargo em janeiro deste ano.
Pimenta ironizava postagem de Jair Bolsonaro feita em 24 de janeiro de 2019, quando Jean Willys anunciou que deixaria o Brasil e não assumiria um novo mandato na Câmara — posteriormente, Bolsonaro negaria estar comemorando o exílio voluntário de Willys, dizendo que, com sua postagem de “Grande dia”, celebrava a volta de uma missão no exterior e a alta da bolsa de valores.
“Além de tramar um golpe contra a democracia, Bolsonaro articulou as sanções dos EUA ao Brasil e planejava fugir do país. É um criminoso contumaz”, afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE).
A deputada Erika Hilton (Psol-SP) antecipou a possibilidade de prisão de Bolsonaro num futuro próximo.
“EI, BOLSONARO, SUA HORA TÁ CHEGANDO!”, escreveu Hilton, listando as medidas cautelares impostas contra o ex-presidente.
“Isso tudo ainda é só o trailer do filme que o povo aguarda ansioso pelo lançamento. E nele, Bolsonaro será finalmente PRESO”, completou a deputada do Psol.
Reações à direita
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, prestou solidariedade a Bolsonaro nas redes sociais.
“Coragem é um atributo que quem conhece Jair Bolsonaro sabe que nunca lhe faltou. Não faltou quando atentaram contra a sua vida. (…) E não vai faltar agora, pois ele sabe que estamos e seguiremos ao seu lado”, escreveu Tarcísio.
“Não conheço ninguém que ame mais este país, que tenha se sacrificado mais por uma causa, quanto Jair Bolsonaro. Não imagino a dor de não poder falar com um filho. Mas se as humilhações trazem tristeza, o tempo trará a justiça”, acrescentou o governador de São Paulo.
“Não haverá pacificação enquanto não encontrarmos o caminho do equilíbrio”, completou o ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro.
Tarcísio chegou a se reunir com chefe da embaixada dos EUA, após a imposição de tarifas ao Brasil por Donald Trump, e teria solicitado ao STF a devolução do passaporte de Bolsonaro, para que ele pudesse ir aos Estados Unidos negociar com o presidente americano.
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Após a postagem de Tarcísio, a ministra de Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, respondeu em sua conta no X ao comentário do governador sobre pacificação.
“Não tem autoridade para falar em pacificação quem, como o governador Tarcísio, defendeu a guerra tarifária, as sanções e ataques de Donald Trump contra o Brasil, resultantes da conspiração de Bolsonaro, seu filho Eduardo Bolsonaro e seus cúmplices nos EUA”, escreveu Hoffmann.
O influenciador bolsonarista Leandro Ruschel afirmou no X que o Brasil atravessa o momento mais grave da sua história. “Aceleramos na direção do desfiladeiro totalitário”, afirmou Ruschel.
“Lula foi condenado em três instâncias e posteriormente preso. Nunca o vi proibido de falar com alguém, usando tornozeleira ou sem ter acesso às redes sociais. Ele ainda chegou a conceder entrevista de dentro da prisão. Na democracia relativa as coisas são bem diferentes”, escreveu Nikolas.
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Ele também repostou mensagem do vereador Pablo Almeida, do PL em Belo Horizonte (MG), dizendo que Bolsonaro seria um preso político.
“Bolsonaro é um preso político. Ele não foi julgado, não foi condenado, mas está com tornozeleira, proibido de falar com o próprio filho, censurado nas redes e vigiado 24 horas por dia”, escreveu Almeida.
“Isso não é justiça — é perseguição. É o sistema usando o aparato judicial pra silenciar quem pensa diferente. Quando isso acontece, o nome não é democracia. É tirania disfarçada de legalidade.”
Rogério Marinho, Carlos Portinho, Izalci Lucas, Zucco e Sóstenes Cavalcante – respectivamente líderes da oposição no Senado, do PL no Senado, da oposição no Congresso, da oposição na Câmara e do PL na Câmara – se manifestaram através de uma nota conjunta.
” O Brasil assiste, mais uma vez, a um grave episódio de perseguição política disfarçada de ação judicial. O ex-presidente Jair Bolsonaro foi novamente alvo de medidas cautelares arbitrárias determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, que, em nome da autoridade, tenta impor o silêncio ao principal líder da oposição no país”, escreveram os políticos de oposição.