Fome em Gaza: Reino Unido vai reconhecer Estado palestino se Israel não concordar com cessar-fogo
Crédito, Toby Melville/PA Wire
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- Author, Harry Farley
- Role, Correspondente de Política da BBC News
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Em um comunicado oficial divulgado após uma reunião de emergência com seu gabinete, Starmer condiciona o reconhecimento ao cumprimento de quatro exigências por parte do governo israelense.
As exigências são: pôr fim à “situação terrível” em Gaza, alcançar um cessar-fogo, garantir que não haverá anexações na Cisjordânia e se comprometer com um processo de paz que leve à solução de dois Estados.
“Nosso objetivo continua sendo uma Israel segura e protegida ao lado de um Estado palestino viável e soberano”, disse Starmer, reconhecendo que esse objetivo “está sob pressão como nunca antes”.
O premiê também afirmou que fará uma avaliação, antes da cúpula da ONU, sobre o grau de cumprimento dessas condições e que nenhuma das partes terá poder de veto sobre a decisão do Reino Unido.
Starmer foi questionado sobre por que o reconhecimento do Estado palestino está condicionado e quão confiante está em relação à possibilidade de um cessar-fogo até setembro.
O primeiro-ministro respondeu que o objetivo principal do governo britânico é mudar a situação no terreno. Ele reiterou que os reféns devem ser libertados e que a ajuda humanitária precisa conseguir entrar em Gaza.
“Essa medida tem como propósito avançar nessa direção”, afirmou Starmer. “Ela está sendo tomada agora porque estou especialmente preocupado com o fato de que a ideia de uma solução de dois Estados está se enfraquecendo — e hoje parece mais distante do que esteve em muitos anos.”
Starmer reforçou ainda que não há equivalência entre Israel e o Hamas, e reiterou as exigências britânicas ao grupo palestino: libertação de todos os reféns, adesão a um cessar-fogo, aceitação de que não terá papel no governo de Gaza e desarmamento.
Na semana passada, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que vai reconhecer oficialmente o Estado palestino em setembro. Com o anúncio, o país foi o primeiro do G7 (grupo dos países mais industrializados do mundo) a reconhecer a Palestina como um Estado.
Atualmente, o Estado da Palestina é reconhecido por mais de 140 dos 193 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) — incluindo o Brasil, desde 2010.
‘Situação intolerável’
Crédito, REUTERS/Khamis Al-Rifi
A declaração do Reino Unido ocorre em meio a denúncias de agravamento da crise humanitária no território palestino. O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, afirma que mais de 60 mil palestinos foram mortos desde o início da ofensiva israelense, incluindo 112 nas últimas 24 horas.
Um órgão da ONU sobre segurança alimentar alertou que “o pior cenário de fome está atualmente em curso” em Gaza, com “provas crescentes” de desnutrição generalizada.
Israel nega que haja restrições à entrada de ajuda humanitária e afirma que “não há fome” no território. O governo israelense também impede a entrada de jornalistas internacionais, incluindo a BBC, em Gaza.
Após uma reunião de emergência com seu gabinete, Starmer disse que as imagens de crianças famintas e bebês incapazes de se levantar “ficarão conosco por toda a vida”.
Ele afirmou que o Reino Unido lançou ajuda humanitária por via aérea nesta segunda, mas reforçou que são necessários ao menos 500 caminhões entrando por dia. Para ele, só um acordo político duradouro poderá pôr fim à crise.
Ao ser questionado sobre o impacto do reconhecimento do Estado palestino e o motivo do anúncio neste momento, o primeiro-ministro britânico, Starmer afirmou que a decisão foi motivada por dois fatores principais: a “situação intolerável” na Faixa de Gaza e o risco de que “a própria possibilidade” de uma solução de dois Estados esteja desaparecendo.
O premiê explicou que o anúncio foi vinculado à Assembleia Geral das Nações Unidas porque pretende gerar impacto concreto na situação humanitária, contribuindo para “mudar as condições no terreno”, inclusive no que diz respeito à entrada de ajuda humanitária em Gaza.
Starmer acrescentou ainda que essa medida faz parte de um plano de paz em oito etapas, em desenvolvimento pelo governo britânico “há algum tempo”.