Dos templos budistas às baladas em Ibiza: a incrível jornada do garoto espanhol tido como lama reencarnado
Crédito, Lama Yeshe Wisdom Archive
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- Author, do programa ‘Outlook’
- Role, do Serviço Mundial da BBC
Aos dois anos de idade, um menino nascido na Espanha se viu sendo colocado em um trono e reverenciado em uma cerimônia na Índia perante milhares de pessoas.
É que Osel Hita Torres foi identificado como sendo a reencarnação de um conhecido mestre espiritual budista, um lama, que havia morrido um ano antes dele nascer.
Em vez de ter uma infância comum, em vez de ir à escola e brincar com outras crianças, Osel foi levado para um monastério onde se viu isolado da família e mergulhado na cultura budista tibetana, visitado e venerado diariamente por fiéis e obrigado a se dedicar diariamente a estudos e práticas religiosas.
Ele viveu assim até os 18 anos, quando tomou a decisão radical de largar tudo, e iniciar uma longa jornada para se conectar com um mundo totalmente novo e estranho e buscar uma identidade e personalidade próprias.
Crédito, Pablo Giralt de Arquer/Cortesia do Lama Yeshe Wisdom Archive
A história de Osel começa antes dele nascer, quando o mestre espiritual budista Lama Thubten Yeshe e seu principal discípulo, Lama Zopa, viajaram para a ilha de Ibiza nos anos 1970.
Lama Yeshe era bastante conhecido nessa época por espalhar o budismo no mundo ocidental. Ele viajava por vários países estabelecendo centros budistas. Teve muitos seguidores, principalmente por causa de seu senso de humor e estilo de ensino pouco convencional. Era descrito como extrovertido e caloroso, diferente dos outros professores e mestres budistas.
Os pais de Osel, Maria e Paco, eram jovens hippies espanhóis vivendo em Ibiza, onde acompanharam um curso de meditação ministrado por Lama Yeshe, na primeira visita dele e seu discípulo Lama Zopa à Espanha.
Eles ficaram encantados com Lama Yeshe, e com o apoio dele, decidiram abrir um retiro espiritual nas montanhas de La Alpujarra, no sul da Espanha. O próprio Dalai Lama, o principal líder espiritual do budismo tibetano, visitou esse retiro no alto das montanhas e o batizou de ‘Terra da Clara Luz’.
Quando Osel nasceu, em 1985, Lama Yeshe tinha morrido havia um ano, deixando seus seguidores devastados. No entanto, eles tinham a esperança de que ele voltasse à terra dos vivos reencarnado. No budismo tibetano, acredita-se que grandes mestres são capazes de escolher onde e por meio de quem reencarnarão.
Mestres reencarnados, conhecidos por tulkus, são identificados — ou “reconhecidos” — por seus discípulos ou pessoas muito próximas a ele. Esse processo existe há séculos — o próprio Dalai Lama foi reconhecido assim.
O principal discípulo do Lama Yeshe, Lama Zopa, vinha tendo visões que lhe diziam que seu mestre renasceria no corpo de uma pessoa do Ocidente. E em uma visita ao retiro nas montanhas da Espanha, ele avistou o filho bebê de Maria e Paco, Osel.
“Lama Zopa já tinha tido algumas visões em que eu aparecia”, contou Osel Torres ao programa Outlook, da BBC. Foi aí que o processo começou: quando ele disse ‘ah, esse bebê pode ser a reencarnação de Lama Yeshe’.”
Quando estava com 14 meses de idade, a criança foi levada à Índia para uma série de testes que faz parte do processo de reconhecimento de um lama reencarnado. O Dalai Lama vive na Índia desde 1959, onde lidera um governo exilado e um movimento que luta pela independência do Tibete, que foi anexado pela China em 1951.
“Fui levado à Índia para fazer vários testes com objetos da minha vida passada, como, por exemplo, um rosário. Esse rosário era colocado juntos a outros, 5 ou 10 rosários diferentes. Eu ainda não falava, tinha apenas que escolher o objeto certo. Fizeram isso com muitos objetos diferentes do Lama Yeshe. E todas as vezes eu escolhia o certo”, contou Osel.
“E também houve pessoas que eu reconhecia, mesmo sem ter visto elas antes. E lugares. Eu sabia exatamente onde ficava o quarto do Lama Yeshe, sem nunca ter estado ali. Houve várias histórias como essa.”
Outra parte importante do processo foi o encontro com o Dalai Lama, que teria olhado nos olhos da criança espanhola e reconhecido seu velho amigo Lama Yeshe.
Com o reconhecimento do Dalai Lama, Osel foi entronizado em uma cerimônia com a presença de milhares de pessoas. Imagens do evento mostram Osel, de apenas dois anos de idade, com uma túnica de seda e um chapéu de lama amarelo, e monges fazendo fila para se prostrar aos seus pés e fazer oferendas.
Os pais de Osel, Maria e Paco, acreditaram que seu mestre havia retornado na forma de seu filho. Eles entregaram o bebê para ser criado pelos monges na Índia. Ele não era mais uma criança comum. Agora era Lama Osel.
Crédito, Getty Images
A primeira tarefa de Lama Osel foi visitar centros budistas em vários cantos do mundo. Os seguidores de Lama Yeshe se reuniam em torno do jovem Osel para um vislumbre da sabedoria de seu antigo mestre.
Quando fez 6 anos, Osel foi levada para um monastério no sul da Índia, em Karnataka, onde passava 6 ou 7 horas por dia se dedicando a estudos.
“Eu não tinha aquela conexão emocional com a família ou meus pais. Eu era como um órfão. As pessoas que cuidavam de mim mudavam constantemente. A única pessoa que passava mais tempo comigo era um professor, que conheci aos 6 anos. Tive uma conexão emocional muito forte com esse professor, porque via ele todos os dias para as aulas. Ele que realmente me criou. Foi a única pessoa estável durante toda a minha infância.”
“Eu mal via os meus pais. Eles já tinham 6 filhos quando fui reconhecido como reencarnação de Lama Yeshe. Depois minha mãe teve outros dois filhos com outro marido. Eles eram muito ocupados e não eram ricos. Meu pai trabalhava muito. Eu ter sido levado para o mosteiro, na verdade, foi uma coisa boa para os meus pais, porque para eles, não só estavam me dando uma oportunidade incrível, mas também tinham um filho a menos para criar.”
“Me senti abandonado quando criança. E não me sentia aceito por quem eu era. Eu tinha que ser outra pessoa para ser aceito. Isso foi um grande conflito para mim.”
Esperava-se que Osel se tornasse um grande professor e mestre. Desde cedo, disseram a ele que seu destino era ajudar os outros. Com essa expectativa, veio uma enorme carga de dedicação e trabalho.
“Às vezes eu brincava com outras crianças, mas eles não permitiam que as crianças me tocassem ou chegassem perto de mim, porque não queriam que eu fosse influenciado por elas. Isso faz parte da cultura dos tulku, o sistema tulku. Tulku significa mestre reencarnado. Eles acreditam que, após a reencarnação, se você tiver muito contato com as pessoas, pode ser influenciado. Então tentam te manter o mais isolado possível.”
Tracy Chapman e Linkin Park
A rotina de estudos era quebrada diariamente pelos cerca de 40 minutos em que as pessoas podiam ver ou visitar Lama Osel. Era o contato que ele tinha com o mundo exterior — e, curiosamente, com a cultura pop ocidental.
“Algumas pessoas vinham e traziam contrabando”, conta Osel, “coisas que você não pode trazer, basicamente CDs de música. No começo, me davam fitas cassete, então eu tinha uma fita cassete da Tracy Chapman. Depois eu tive um CD do Linkin Park, um CD do Limp Bizkit, e outro de um grupo espanhol muito famoso na época chamado Estopa, que ainda ouço até hoje.”
“Eu tinha fones de ouvido, contrabando também. Eu ouvia essas coisas no meu quarto ou no banheiro quando tinha algum tempo livre. Tinha que guardar tudo escondido, porque se eles encontrassem, confiscariam.”
“A primeira vez que ouvi Linkin Park foi tipo, ‘Isso não é música. É só barulho. É muito pesado, muito violento, muito agressivo, muito barulhento’. Mas aí eu comecei a prestar atenção às letras e comecei a entender o que eles estavam falando. As letras eram da perspectiva de um cara que achava que ninguém o entendia. Tipo ‘eu quero ser compreendido, quero ser amado. Eu me expresso e você não quer entender. Você só quer entender o que você quer entender’. Foi incrível porque era exatamente o que estava acontecendo comigo naquela época. E eu me identifiquei com isso, com essas letras.”
“As pessoas não queriam saber quem eu era de verdade. Elas só queriam que eu desempenhasse o meu papel. Todos ao meu redor, todos, inclusive meus pais. Então, essa mensagem foi muito útil. Eu vi que outras pessoas também passam por essa situação.”
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O rock contrabandeado dos anos 90 acabou sendo uma janela para outro mundo. E quando Osel chegou à adolescência, seu estoque de itens proibidos e sua curiosidade sobre o mundo ao qual eles pertenciam só aumentavam.
“Aos 16 anos, eu já tinha dois computadores. Eu tinha um saco de pancadas e uma guitarra. E eu compartilhava o contrabando com um amigo, que também era um mestre reencarnado. E um dos contrabandos que ele ganhou foi um vídeo de um show da Britney Spears. A gente não tinha nenhuma referência do que era dançar. Sabíamos que a dança existia, mas não tínhamos ideia de como era. Quando assistimos ao vídeo da Britney Spears, surtamos. A gente ficou tipo: ‘O quê??’.”
“Começamos a praticar em segredo. Ele me emprestava o vídeo por uma semana, e eu praticava alguns passos de dança. Na semana seguinte, ele praticava com o vídeo. E aí a gente se encontrava e comparava quem dançava melhor. Foi tão ridículo.”
Dois meses em uma escola na Espanha
Memorizar letras de bandas de rock e os passos de dança de Britney Spears não era exatamente o que Osel deveria estar fazendo. A pressão era para que estudasse o tempo todo. Mas ele estava sedento por mais conhecimento sobre a cultura ocidental, e fez uma proposta a seus cuidadores.
“Quando eu tinha 16 anos, convenci a instituição de que eu precisava de uma educação ocidental. Eu disse a eles que deve ter havido um motivo para eu ter renascido como ocidental. Que era porque Lama Yeshe queria se conectar mais profundamente com os ocidentais, entender a psicologia ocidental e o seu estilo de vida. Eu disse a eles que, isolado num trono, eu não estava realmente fazendo o que Yeshe pretendia que eu fizesse.”
“Então negociei com eles para que eu pudesse passar dois meses em uma escola em Ibiza para estudar com adolescentes normais. Eles aceitaram, e eu mudei meu nome para Nicolas para que ninguém descobrisse quem eu era.”
E assim, Lama Osel, usando o pseudônimo de Nicolas, aos 16 anos, passou dois meses em uma escola secundária em Ibiza, na Espanha. Como era de se esperar, o choque cultural foi imenso.
“A primeira coisa que realmente me chocou foi a falta de respeito dos jovens para com os adultos. Na minha cultura e na cultura tibetana, os pais e os professores são sagrados porque, antes de tudo, os pais nos dão a vida. Eles nos criam. E os professores são aqueles que nos dão sabedoria. Portanto, há um grande respeito, até mesmo pelas escrituras, por livros. Mesmo um papel com alguma coisa escrita é sagrado porque comunica algo que podemos aprender. É sabedoria. Eu fiquei realmente surpreso com a falta de respeito das crianças com os pais e os professores. Isso foi algo que realmente me chocou.”
“Nas primeiras três semanas, sofri bullying todos os dias, o tempo todo. Mas eu estava feliz porque achava que havia ali uma conexão humana. Era tipo: ‘Ei, eu existo!’.”
“Eles sempre me provocavam e riam de mim. Eu achava que estava rindo junto com eles, e não que eles estavam rindo de mim. E eles riam ainda mais porque eu ria das coisas que eles diziam. Eu era muito ingênuo. Eu não tinha ideia do que era bullying.”
“Mas depois começaram a gostar de mim. Eles perceberam que eu ficava feliz rindo com eles, e começaram a me tratar com respeito, porque eu era puro nesse sentido.”
Nesses dois meses, Osel experimentou e gostou muito de algumas novidades, como andar de moto (“poder ir sozinho para onde eu quisesse, em qualquer direção, sabe, era uma liberdade absoluta”) e beijar uma garota pela primeira vez.
“Uma menina me pegou e disse: ‘Vou te mostrar como se beija’. E isso, para mim, foi como se eu estivesse no paraíso. Fiquei flutuando por duas semanas. Fiquei tão feliz. Foi tipo, ‘Uau!’.”
Crédito, Max Redlich/Cortesia do Lama Yeshe Wisdom Archive
Esses dois meses foram muito marcantes para Osel. Ele sentiu gosto pela independência, de poder tomar decisões próprias. E mais ainda, gosto pela vida de um jovem comum — o que não era, e ele sabia disso. Ele se sentia um estranho toda vez que visitava sua família na Espanha a cada dois anos.
“Comecei a perceber que o relacionamento entre meus irmãos era muito diferente do relacionamento deles comigo. Eles não me tratavam da mesma forma que tratavam uns aos outros. E percebi que, na verdade, eu era bastante narcisista e egocêntrico por causa da minha educação. E eu não gostava disso. Meus irmãos mal falavam comigo, simplesmente me ignoravam. Isso realmente me afetou muito.”
“E esse foi um dos momentos em que pensei que precisava sair dessa situação para me encontrar e saber como me relacionar com os outros e como eles podem se relacionar comigo de uma maneira melhor.”
Ao se aproximar de seu aniversário de 18 anos e da maioridade legal, Osel começou a traçar um plano. Ele conseguiu permissão para visitar sua família durante a realização de um evento no mosteiro e pôde assim, estar na Espanha quando fez 18 anos. No dia do aniversário, avisou o monastério que não voltaria. A reação foi imediata.
“Durante um ano, recebi um monte de cartas e muita pressão para voltar ao monastério. Eu recebi vários e-mails de pessoas decepcionadas comigo. Eu lia, chorava e depois apagava tudo. Foi muito difícil pra mim, porque eu queria que as pessoas fossem felizes, mas depois compreendi que a felicidade das pessoas não era minha responsabilidade.”
“Quando era criança, eu sempre tive dois grande receios. Eu nunca achei que poderia ser como o Lama Yeshe, porque ele é basicamente outra pessoa. E o outro era que eu nunca seria capaz de fazer todo mundo feliz. Depois eu percebi que não fazia o menor sentido eu ter esses traumas. Minha vida é minha vida. Não é a vida de outra pessoa. Ninguém tem direito de decidir sobre a vida que eu tenho de viver. Esse direito é meu.”
Mulheres nuas e balada em Ibiza
Osel entrou em uma fase de reprogramação, de tentar se libertar do condicionamento que deu a ele a identidade de lama encarnado. Ele tinha passado a vida seguindo uma série de regras e ensinamentos e sendo venerado como um semideus. Agora que estava longe do monastério, chegou a hora de fazer o oposto.
“Eu percebi que ser rebelde era super saudável, pelo menos para mim. A maneira como minha mente funcionava, de uma forma muito egocêntrica, era algo que eu precisava mudar. Eu me sentia muito atraído pelo proibido. Então, basicamente, quando saí do mosteiro, fui de um extremo ao outro, literalmente.”
“Por exemplo, eu nunca tinha visto uma mulher nua. Então, no primeiro dia em Ibiza, minha mãe achou que seria interessante me levar a uma praia de nudismo. Ela simplesmente me deixou lá e foi embora. Eu fiquei em choque, fiquei meia hora sem me mexer, olhando para o chão porque estava com muita vergonha. Quando minha mãe voltou, eu não estava nem um pouco feliz. Fiquei muito perturbado.”
“Naquela noite ela me levou para uma discoteca em Ibiza. Minha mãe pagou o ingresso e eu entrei sozinho. Tava um barulho insuportável! Eu mal conseguia me mexer de tanta gente. Era 2003, as pessoas fumavam cigarros dentro das casas noturnas naquela época, então havia muita fumaça. Eu não conseguia respirar. As pessoas dançavam mexendo os ombros, de tão espremidas.”
“Então eu pensei, ‘Ok, vou relaxar e beber um pouco de álcool’. Tomei um gole de vodca com coca-cola e quase vomitei, quase morri, não conseguia respirar. Era um inferno aquilo. Depois de 15 minutos, saí. Meus ouvidos faziam ‘bííííííííííí’… meu cabelo e a roupa cheiravam a cigarro. Eu estava todo molhado com o suor de outras pessoas. Então eu disse à minha mãe: ‘Por favor, nunca mais me leve para essa praia ou essa discoteca’.”
Mas aos poucos, Osel foi tomando gosto pelas baladas de Ibiza e em pouco tempo estava se envolvendo na organização de raves que duravam a noite toda. Foi quando a mãe dele resolveu enviar o filho para estudar em Madri.
“Foi um desastre porque eu estava tendo aulas particulares e morando sozinho em um apartamento, isso era novo pra mim. Não sabia como cuidar de uma casa, não sabia nem como usar dinheiro.”
“No mesmo dia em que eu deveria fazer uma prova na escola, eu comprei uma passagem e voltei para Ibiza. Eu cheguei e disse, ‘Oi mãe. Voltei!’. Ela disse: ‘Mas você não tinha uma prova hoje?’. Eu disse: ‘É, mas eu estou aqui’.”
“Ela ficou furiosa e contatou um amigo dela, que também era discípulo do Lama Yeshe. Ele estava morando no Canadá com a esposa e perguntou se eles podiam me hospedar e arrumar uma escola para que eu fizesse ali as provas de conclusão da escola secundária. Então, ela me enviou ao Canadá.”
Crédito, Colin McPherson/Corbis via Getty Images
Do Canadá, Osel foi para a Suíça seguir com os estudos e, finalmente, voltou para Madri, para se formar em cinema. Aprendeu a tocar djembê, um instrumento africano de percussão, e se apresentou em festivais pelo mundo todo. Ele viajou, fez filmes e conheceu pessoas de todas as esferas. Até morou na rua por um tempo, em Veneza e Nápoles.
“Passei 15 anos viajando, conhecendo pessoas e vivendo todas essas aventuras malucas. Conheci todos os tipos de pessoas de todos os níveis da sociedade… boas e más, de ambos os extremos. Pra mim é muito importante simplesmente conhecer, entender, entrar em contato e ser influenciado por todos esses aspectos da vida, através das pessoas, através da conexão humana.”
‘Não submeteria meu filho ao processo que enfrentei’
Depois de mais de uma década de aprendizado e aventuras, Osel encontrou uma parceira, se tornou pai, o que o fez refletir sobre sua própria infância.
“Me tornei pai aos 32 anos. Eu e minha parceira ficamos juntos por dois anos. Nos separamos, mas criamos nosso filho juntos. Tive muitos traumas na infância e me esforcei muito para poder oferecer ao meu filho algo diferente, algo melhor. Meu filho é uma criança muito feliz, com uma estabilidade emocional incrível. Ele é muito amado. Basicamente, estou oferecendo a ele tudo o que nunca tive quando criança.”
“Eu não submeteria meu filho ao processo que enfrentei. Nunca. Porque não é saudável para uma criança. Quanto às novas reencarnações, eu sempre propus que deixassem a criança com a família até os 7 anos no mínimo. Assim pelo menos elas têm uma noção do conceito de família e um pouco de estabilidade emocional, antes de serem enviadas aos mosteiros. Estou tentando influenciar a instituição a mudar um pouco o sistema tulku. Mas é uma questão tão cultural que está difícil banir esse costume.”
Crédito, Wikimedia Commons
Após as várias aventuras e mudanças na sua vida, Osel Torres encontrou o caminho de volta à comunidade budista que deixara para trás aos 18 anos. Hoje, ele se dedica ao ambientalismo. Fundou uma organização dedicada ao plantio de árvores.
Ele também faz turnês dando palestras sobre budismo e organizando retiros, compartilhando sua perspectiva única sobre a união da filosofia oriental com o estilo de vida ocidental. Assim como o nada convencional Lama Yeshe, ele agora se tornou um professor, à sua própria maneira, também nada convencional.
E o legado de Lama Yeshe? Como Osel vê hoje a ideia de ser a reencarnação do Lama?
“Eu fui bastante descrente por muito tempo, por muitas décadas. E eu evitei, por muito tempo, ler os livros ou assistir a vídeos dele, porque não queria ser influenciado pelo Lama Yeshe. Mas quando comecei a pesquisar, fiquei realmente chocado. No momento em que comecei a ler a biografia dele, surtei porque me identifiquei muito. Eu realmente analisei, estudei, eu reconheci muitas semelhanças. Conversei com muitas pessoas. E cheguei à conclusão de que, sim, acredito que exista algum tipo de continuidade mental em mim, vinda de Lama Yeshe.”