Conclave: qual o tamanho da fortuna da Igreja Católica e de onde vem a riqueza
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- Author, Débora Crivellaro
- Role, De São Paulo para a BBC News Brasil
Há uma máxima que diz que o valor do patrimônio da Igreja Católica é um dos mistérios da fé, tamanho segredo que a instituição guardou ao longo dos séculos sobre o assunto.
Diante de tanto sigilo, as especulações sobre o tamanho da fortuna da Santa Madre se avolumaram, criando uma mística em torno do tema que beiravam a ingenuidade e comentários como “por que o papa não vende o Vaticano para acabar com a fome no mundo?”.
O fato é que, desde o início de seu pontificado, o papa Francisco, morto em 21 de abril, se esforçou em retirar o véu que encobria as finanças da Santa Sé com medidas que mudaram e enxugaram a engrenagem da máquina do Vaticano e repercutiram na Igreja em geral.
Uma delas foi divulgar, em 2021, o balanço financeiro público da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (Apsa) do ano de anterior, prática que vem sendo seguida desde então. Foi a primeira vez, desde a criação em 1967 da Apsa, responsável pela gestão de imóveis e investimentos, que tais cifras vieram a público.
De acordo com o último relatório, referente a 2023 e divulgado no ano passado, a Igreja teve um lucro total de 45,9 milhões de euros (aproximadamente R$ 294,8 milhões) e um aumento de ativos de 7,9 milhões de euros (R$ 50,7 milhões).
O patrimônio líquido não foi divulgado, mas o último número de que se tem notícia é 886 milhões de euros (R$ 5,69 bilhões). Esse valor é referente a todos os ativos administrados pelo Banco do Vaticano, ficando de fora imóveis, terras e demais bens.
A Igreja ainda ganha com a gestão dos mais dos 5 mil imóveis, dos quais 20% são alugados, o que que gera uma receita operacional de 73,6 milhões de euros (RS 477,2 milhões) e um lucro líquido de 35 milhões de euros (R$ 224,8 milhões) por ano.
É importante fazer uma observação: todos esses valores são relativos apenas à economia que o Vaticano movimenta. Mas as finanças da Igreja são descentralizadas, cabendo a cada diocese do mundo gerir seu orçamento, o que significa que, na prática, o total é ainda maior e talvez seja incalculável.
“É praticamente impossível avaliar o patrimônio de toda a Igreja Católica”, afirma Fernando Altemeyer Junior, professor do departamento de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
De toda forma, seu patrimônio pode ser seguramente estimado em escala multibilionária, de acordo com especialistas. A Igreja é, por exemplo, considerada uma das maiores proprietárias de terras do mundo.
Especialistas no tema estimam que ela possua entre 177 e 200 milhões de acres, quase o tamanho do Estado do Pará, incluindo igrejas, escolas, hospitais, mosteiros e propriedades rurais e urbanas.
A origem da fortuna da Igreja Católica
A Igreja começou a acumular bens e riqueza a partir do século 4, com o imperador Constantino (272-337 d.C.), que alçou o catolicismo à religião oficial do Império Romano.
Até este momento, como apontam os historiadores, os cristãos viviam de forma humilde e celebravam seus cultos em suas próprias casas, majoritariamente humildes, até em catacumbas.
Isso era considerado natural para os seguidores de uma religião baseada nas palavras e ações de um judeu pertencente às castas sociais inferiores, que pregava o comedimento, a sobriedade e ações voltadas aos menos favorecidos.
“Esses eventos mudaram radicalmente a história do cristianismo e do Império Romano”, escreve Ney de Souza, professor de história eclesiástica e especialista em religião e política, em seu livro História da Igreja (Ed. Vozes).
“A partir deste momento, temporal e espiritual entrelaçaram seus destinos. Os séculos seguintes demonstraram se essa aliança e as sucessivas foram a melhor estratégia da instituição religiosa ou se do martírio [sofrido pelos cristãos] e das catacumbas [onde eles professavam sua fé] se passou para os palácios, em grande prejuízo para a vivência da fé cristã, chegando à Reforma Protestante.”
De perseguida, a Igreja se tornou privilegiada e detentora de muitos bens. A simplicidade de seus seguidores, um diferencial no início, dá lugar a um status e símbolos de riqueza equiparados a dignatários do império.
O perigo de acomodação e contaminação com o poder se tornam reais. “No percurso da história do cristianismo, é possível verificar que o joio e o trigo estão sempre presentes”, escreve Souza.
“Às vezes, o joio em quantidade maior, outras vezes o trigo; mas mesmo que o trigo seja em número reduzido, é ele o responsável pela continuidade do seguimento a Jesus de Nazaré.”
Enquanto figuras como o papa Bento 9º (102-1055), que chegou a vender o trono papal, e do cardeal Giovanni Angelo Becciu, chefe da Secretaria de Estado do último pontificado, afastado após desviar cerca de 200 milhões de dólares (R$ 1,13 bilhão) destinados à caridade para comprar um apartamento em Londres, seriam exemplos em sentido contrário.
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Constantino e outros tantos líderes do Império Romano doaram à Igreja palácios, imóveis, terras a perder de vista e até termas, além de quantidades inimagináveis de ouro e prata.
A partir daí, o mecanismo da doação em troca de algo, até mesmo para a Igreja se firmar em determinado território, se estabeleceu.
Até que, no século 18, surgiram os Estados papais, territórios na Península Itálica que funcionavam como entidades político religiosas sob o comando de um papa, e a hierarquia católica emergiu como autoridade civil, tornando-se aliada declarada das famílias mais abastadas da Europa.
Hoje, no século 21, agrega-se a isso seu patrimônio cultural, que inclui obras de valor incalculável, museus que recebem milhões de visitantes (pagos) por ano, e os investimentos no mercado financeiro, terreno que já foi epicentro de inúmeros escândalos de grandes proporções.
Cidade do Vaticano, o centro do poder
No centro do poder católico, a Cidade do Vaticano, o regime de governo é a monarquia absoluta exercida pelo papa, nome dado ao bispo de Roma, que carrega outros títulos como Vigário de Jesus Cristo, sucessor do príncipe dos apóstolos e Sumo pontífice da Igreja Universal.
O Estado do Vaticano se estabeleceu por volta do ano 752 durante o pontificado de Estevão 2º (715-757). Os primeiros museus datam da época do papa Júlio 2º (1443-1513).
O Vaticano é sustentado por meio da colaboração financeira de todas as dioceses do mundo, particularmente das americanas e alemãs, duas das mais abastadas. Outra fonte de receitas é o turismo.
No interior da cidade, estão localizados os organismos da Cidade-Estado, os dicastérios e serviços da Santa Sé, entre os quais: Palácio Apostólico, 15 museus, galerias de arte (Capela Sistina, capelas de Rafael, Pinacoteca Vaticana, Museu Missionário Etnológico, Museu histórico), Biblioteca Apostólica Vaticana, Rádio Vaticana, banco, Observatório Astronômico, Domus Vaticanae (antiga Casa Santa Marta), Basílica de São Pedro, prédios contíguos à Basílica, Jornal Osservatore Romano, Vatican Media – Centro Televisivo Vaticano, Libreria Editrice e os arquivos apostólicos.
Há 12 prédios ou espaços extraterritoriais que pertencem ao Vaticano, entre os quais as Basílicas Maiores de São João de Latrão, de São Paulo extramuros, de Santa Maria Maior e a paróquia de Santa Ana, além dos escritórios dos dicastérios e a Villa de Castel Gandolfo, conhecida como a residência de verão dos papas.
Há também o óbolo de São Pedro, que consiste em doações voluntárias realizadas por fiéis do mundo todo. Essas doações são destinadas a obras de cunho social e manutenção das atividades do Vaticano, turismo e museus, que atraem milhões de pessoas por ano para algumas atrações.
Dentre elas, o Museu do Vaticano e a Capela Sistina, a venda de selos postais e moedas comemorativas e, a mais controversa, a atuação de suas instituições financeiras, o Instituto para Obras da Religião (IOR), mais conhecido como Banco do Vaticano, que administra ativos financeiros significativos, e a Apsa.
O Vaticano também é detentor de um dos maiores acervos artísticos e culturais do mundo. No entanto, esses bens são considerados patrimônio imensurável e não estão disponíveis para venda ou uso comercial.
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Boa parte desse patrimônio provém do ditador italiano Benito Mussolini (1883-1945). Em 1929, ele depositou 1,75 bilhão de liras nos cofres da Santa Sé por meio da Conciliação, um ressarcimento pelos bens que eram de propriedade do Estado com a Unificação.
Boa parte desse patrimônio provém do ditador italiano Benito Mussolini (1883-1945). Em 1929, ele depositou 1,75 bilhão de liras nos cofres da Santa Sé por meio da Conciliação, um ressarcimento pelos bens da Igreja Católica que foram retirados durante a Unificação italiana (1861).
O movimento político e militar consolidou diversos reinos, ducados e Estados independentes, entre eles os Estados Papais, no reino da Itália. Na época, especialmente entre 1860 1870, muitos bens e territórios foram retirados dos católicos, o que representou um dos momentos mais delicados da história na relação entre a Igreja e Itália unificada.
Cerca de um quarto deste valor foi usado pelo papa Pio 11 (1857-1939) para estruturar o novo Estado do Vaticano, erguer os edifícios da Santa Sé (como o monumental palácio de San Calisto, em Trastevere/Roma) e construir moradias para funcionários próximas ao Vaticano.
O restante do dinheiro recebido foi aplicado em uma série de investimentos usando como estratégia o princípio da diversificação, a fim de evitar riscos.
Por conta disso, a Apsa possui imóveis na Grã-Bretanha, França e Suíça, além da Itália, principal país de investimento, especialmente Roma, com 92% das unidades imobiliárias, que vão de edifícios a escritórios, lojas e restaurantes.
Números nebulosos
Atualmente, parte do patrimônio imobiliário, juntamente com a gestão da carteira de investimentos — cerca de 1,77 bilhão de euros (R$ 11,37 bilhões) — geram rendimentos destinados para a manutenção da Cúria Romana, o órgão gestor do Vaticano.
Esta é a função principal das finanças do Vaticano: sustentar a máquina da Santa Sé, as nunciaturas, as movimentações do papa e as ações de caridade. Em 2019, questionado sobre as finanças, papa Francisco defendeu a necessidade de investir, não para especular, mas para evitar que o capital se desvalorizasse. “Que se mantenha ou renda um pouco”, afirmou.
Isso se faz relevante porque a Santa Sé, apesar de estar amparada pelo Estado do Vaticano, não é por si só um Estado, disse o historiador italiano Andrea Riccardi, fundador da organização católica Comunidade de Santo Egídio, ao jornal italiano Corriere dela Sera.
“Não tem impostos nem dívida pública. Conta com o rendimento de seus bens e, sobretudo, com as ofertas dos fiéis. A tendência disso está ligada à opinião pública dos católicos”, diz Riccardi.
“Por isso, assim como por outros motivos, são necessárias transparência orçamentária e ordem na gestão.”
No entanto, as receitas e despesas anuais do Vaticano foram significativamente subnotificadas, e seus ativos totais são o dobro do que foi antes declarado (cerca de 4 bilhões de dólares, ou R$ 25,69 bilhões).
A constatação é do padre jesuíta espanhol Juan Antonio Guerrero Alves, responsável pela Secretaria de Economia, escritório criado por Francisco no início de sua reforma econômica, em 2014.
Para controlar os gastos excessivos, o Vaticano começou a vender cerca de 20 a 25 milhões de dólares (R$ 160,6 milhões) de seu patrimônio todos os anos.
“Esses desafios precisam ser enfrentados e não está claro como uma igreja lutando com o declínio de membros em países com as economias mais desenvolvidas do mundo pode gerar os recursos necessários para se manter”, afirma o vaticanista americano John Allen Jr.
As dioceses mais ricas
Mesmo sob a sombra do declínio no número de fiéis generosos nas nações mais desenvolvidas, principalmente na Europa e Estados Unidos, onde a debandada de devotos é mais acentuada, há países nos quais a Igreja Católica é riquíssima.
O mais cintilante membro deste rol milionário é a Alemanha. Lá a prosperidade impera por conta do kirchensteuer, o imposto eclesiástico cobrado diretamente dos membros de comunidades religiosas reconhecidas pelo Estado, como a Igreja Católica.
O kirchensteuer corresponde uma porcentagem da renda tributável do cidadão, variando entre 8% e 9%, dependendo do Estado. Em 2023, a Igreja arrecadou aproximadamente 6,51 bilhões de euros (R$ 41,75 bilhões) com a taxa, representando uma queda de cerca de 5% em relação ao ano anterior, quando foram arrecadados 6,84 bilhões de euros (R$ 43,9 milhões).
Apesar do número vultuoso, a diminuição da arrecadação preocupa a hierarquia católica, pois está diretamente ligada à debandada de fiéis.
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Parte da responsabilidade nessa queda de fiéis na Alemanha se dá pelas seguidas crises de imagem da Igreja no país. Em 2013, veio à tona o escândalo do então bispo de Limburg, Franz-Peter Tebartz van Elst. As despesas com a construção de seu palácio episcopal saltaram de 5 milhões de euros para pelo menos 31 milhões (R$ 199 milhões) em cinco anos, crise que recaiu sobre toda a Igreja Católica alemã.
Tais gastos levaram muitos alemães a questionar a riqueza da Igreja.
Após as pressões da imprensa, metade das 27 dioceses alemãs tornou público o seu patrimônio. Foi então que a população descobriu que conhecia somente uma pequena parte do total.
De fato, embora os bispos devam publicar seus balancetes, os números da Igreja permaneciam confidenciais. Além dos bens imóveis clássicos, ela possuía dez bancos, diversas companhias de seguros, 70 hotéis, importantes sociedades de gestão imobiliária e diversos meios de comunicação.
Em 2023, somente a diocese de Colônia, uma das mais ricas do mundo, avaliava seu patrimônio líquido em 4,32 bilhões de euros (cerca de R$ 26,1 bilhões). No mesmo ano, ela arrecadou 655 milhões de euros (R$ 4,2 bilhões) por meio do imposto eclesiástico, o que representou 70% da sua receita anual total.
Esta operação transparência permitiu à população conhecer, ainda que de forma limitada, um pouco da pujança da vida privada dos religiosos católicos alemães.
Como o bispo Tebartz-van Elts, que dispunha de uma banheira de 15 mil euros (R$ 96,3 mil), e o arcebispo de Munique, cardeal Reinhard Marx, morador de um imponente palácio barroco, restaurado por 8,7 bilhões de euros (R$ 55, 9 bilhões), três quartos dos quais ficaram a cargo dos contribuintes.
O mesmo Reinhard Marx dispõe, entre outros bens, de uma BMW 730 — com direito a motorista. Foi uma constatação que muitos católicos alemães consideram indigesta ao descobrir que sustentavam tantos luxos.
“Nenhum bem da Igreja Católica está no nome de pessoa física, ou seja, padre, bispo, cardeal ou qualquer religioso”, afirma padre Antonio Lisboa Lustosa, professor de teologia e especializado em ciências da religião.
O religioso reconhece haver desvios entre alguns de seus pares e que tais práticas, de luxo, soberba e ostentação, não condizem com o cristianismo.
“Muitas vezes acontece, mas ninguém pode esquecer que igreja é composta por homens passíveis de erro”, diz Lustosa.
“De qualquer forma, o pregado por Jesus Cristo e reforçado pelo papa Francisco é a manutenção da sobriedade, da simplicidade”.
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Já a Igreja dos Estados Unidos, outra das que mais abastece o Vaticano com contribuições, não fica atrás. Lá, a hierarquia católica possui um vasto patrimônio, incluindo universidades renomadas como Notre Dame, em Indiana (receita de 1,76 bilhão de dólares, ou R$ 9,9 bilhões), e Georgetown, em Washington (receita de 1,92 bilhão de dólares, ou R$ 10,8 bilhões), além de hospitais e escolas.
Embora não haja um imposto eclesiástico obrigatório, a Igreja recebe significativas doações privadas. Estima-se que os religiosos americanos arrecadem anualmente cerca de 10 bilhões de dólares (R$ 56,7 bilhões) em doações, além de possuir ativos imobiliários e financeiros consideráveis.
Vale considerar que a Igreja americana concentra o maior número de religiosos da ala conservadora católica, que se mantém intimamente ligados à direita radical.
Os números do Santuário de Aparecida
O Brasil, o país com o maior número de católicos no mundo, também possui uma Igreja com considerável influência e patrimônio.
Embora não haja dados financeiros consolidados — não existe um relatório financeiro público nacional, o que dificulta a obtenção de um panorama completo das finanças da Igreja —, as dioceses brasileiras administram uma vasta rede de paróquias, escolas, hospitais e universidades. Além disso, recebem doações de fiéis e possuem isenções fiscais.
É também no Brasil que fica o maior e segundo mais visitado santuário mariano do mundo, o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, localizado em Aparecida, no interior de São Paulo, considerado o mais rico do mundo em recursos financeiros, segundo dados fornecidos pelas próprias dioceses e consolidados por especialistas em turismo religioso.
Seu tamanho impressiona: uma área de 1,3 milhão de metros quadrados, incluindo o templo. Ali, estão distribuídas áreas comerciais e de lazer com capacidade para até 70 mil fiéis em sua basílica central, um complexo com 380 lojas e restaurantes, 900 banheiros, hotel com 330 quartos, heliporto, estábulo para cavalos dos peregrinos e o maior estacionamento da América Latina, com capacidade para 2 mil ônibus e 3 mil automóveis.
O santuário recebe cerca de 10 milhões de peregrinos por ano, que gastam, em média, R$ 120 por dia, o que resulta em uma receita anual de aproximadamente R$ 1,4 bilhão na cidade de somente 35 mil habitantes. Para manter essa estrutura complexa, o centro de peregrinação se mantém com comércio de artigos religiosos e doação de fiéis.
Durante a visita do Papa Bento 16 ao Brasil, em 2007, a arrecadação mensal da Basílica, segundo divulgado pela arquidiocese à época, variava entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões, impulsionada por campanhas de doações.
O santuário também investiu cerca de R$ 60 milhões na construção da “Cidade dos Romeiros”, um complexo que inclui hotéis, centro de convenções e áreas comerciais.
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Antes do incêndio de 2019, que a manteve fechada por cinco anos, ela recebia cerca de 13, 6 milhões de visitantes por ano, à frente de atrações turísticas como a Torre Eiffel e o Museu do Louvre.
A restauração da catedral compreendeu um projeto que envolveu colaboração internacional e um investimento significativo. A restauração do templo gótico construído há nove séculos custou cerca de 700 milhões de euros (R$ 3,97 bilhões), e arrecadou 846 milhões de euros (R$ 4,79 bilhões) por meio de doações de cerca de 340 mil pessoas de 150 países.
Entre os doadores, nomes como o bilionário Bernard Arnault, que comanda o conglomerado LVMH, e a família Bettencourt, que está à frente da multinacional L’Oréal, cada um desembolsando 200 milhões de euros (R$1,13 bilhão), e François Pinault, fundador do grupo de luxo Kering, com 100 milhões de euros (R$ 567 milhões).
Tais cifras condizem com o tamanho do patrimônio que sustenta uma instituição dotada de uma máquina monumental, composta por milhares de funcionários e religiosos espalhados pelo mundo, universidades, museus, hospitais e centenas de obras assistenciais, entre outros.
Em entrevista ao diretor do jornal Corriere della Sera, Ferrucio de Bortoli, em 2014, o papa Francisco defendeu que a questão não tanto o tamanho desta fortuna, mas a falta de transparência em torno dela.
Ao ser questionado sobre a riqueza e os excessos da Igreja, Francisco disse: “Jesus diz que não se pode servir a dois senhores, a Deus e à riqueza. E quando seremos julgados no juízo final, a nossa proximidade à pobreza contará. A pobreza afasta da idolatria, abre as portas à Providência”.
E concluiu: “O dinheiro é sempre traidor”.