‘Conclave’: as revelações de filme sobre modo secreto como papas são eleitos
Crédito, Focus Features
- Author, Jemma Crew
- Role, BBC News
O filme Conclave de 2024 — sucesso de bilheteria vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado — conta a história de uma eleição papal em que não há favoritos óbvios. Para muitas pessoas, foi um vislumbre do mundo etéreo do Vaticano e do processo altamente secreto da escolha de um líder para a Igreja Católica.
Na quarta-feira (7/5), a vida imita a ficção quando 134 cardeais iniciam o processo de eleição do sucessor do papa Francisco. Como os espectadores do filme sabem, o conclave papal vai acontecer totalmente a portas fechadas na Capela Sistina, sob os mundialmente famosos afrescos de Michelangelo.
Ninguém fora dos limites do Vaticano vai saber o resultado até que uma fumaça branca saia de sua chaminé, indicando que a Igreja Católica tem um novo líder.
Mas o que o filme nos diz sobre como o conclave pode se desenrolar — e por que as pessoas acham o processo tão fascinante?
‘Responsabilidade intensa’
Adaptado do romance best-seller de Robert Harris, Conclave mostra os cardeais aptos a votar se isolando dentro dos limites do Vaticano durante o processo de eleição.
Eles não têm permissão para se comunicar com ninguém fora do conclave — embora, devido a questões práticas, eles não estejam totalmente isolados.
“Todos eles precisam se alimentar, não estão totalmente hermeticamente isolados do mundo”, observa Stephen Bullivant, professor de teologia e sociologia da religião na Universidade St Mary’s, em Londres.
Esse isolamento autoimposto é uma tradição que remonta a centenas de anos.
Em parte, o objetivo é evitar que os eleitores sejam influenciados por fatores externos, embora a ideia de um processo que acontece a portas fechadas possa parecer contrária ao “foco em transparência, visibilidade e escrutínio” do mundo moderno, de acordo com Anna Rowlands, professora de pensamento e prática social católica da Universidade de Durham, na Inglaterra.
O filme evoca uma “atmosfera incrível e introspectiva” e uma sensação de distanciamento do mundo, diz ela. “Tenho dificuldade de imaginar uma responsabilidade e um sentimento mais intensos do que estar trancado num conclave.”
‘Muita politicagem’
No filme, não faltam deliberações claustrofóbicas e intensas, reuniões estratégicas e jogadas táticas. Um cardeal mina um favorito para aumentar suas próprias chances. Outros, com perspectivas improváveis, fazem um apelo a seus apoiadores que mudem o voto.
Esse conflito de interesses e ideologias concorrentes proporciona grande parte do drama do filme. “É essencialmente sobre as maquinações políticas que acontecem”, afirmou Nick Emerson, editor do filme, à BBC no início deste ano.
Embora alguns cardeais achem que a parte mais importante é seguir a orientação divina, outros ficam ansiosos em tomar uma decisão rápida, diz Tina Beattie, professora emérita de estudos católicos da Universidade de Roehampton, na Inglaterra.
Considerando que a saúde do papa Francisco estava debilitada há algum tempo, é provável que, mesmo antes do conclave, “já tenha havido muita politicagem e disputas nos bastidores”, acrescenta.
“Haverá todas essas brigas acontecendo, e [os cardeais] não estarão todos de acordo.”
Embora no filme algumas das cenas mais tensas sejam focadas no ato da votação, na realidade, grande parte do drama pode acontecer nas reuniões que antecedem o início oficial do conclave.
Durante esse período, os participantes vão estar “se conhecendo, definindo quais são as prioridades e aprendendo a trabalhar juntos como uma entidade para que possam chegar a uma decisão unificada”, diz Rowlands, que está chegando ao fim de uma temporada de trabalho de dois anos no Vaticano.
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Um completo desconhecido?
No filme, um cardeal desconhecido — nomeado secretamente pelo falecido papa — entra no páreo.
Na vida real, isso não seria possível. Embora qualquer homem católico batizado seja teoricamente elegível para se tornar papa, todos os cardeais que votam no conclave precisam ter sido nomeados publicamente por um papa anterior.
Dito isso, a eleição iminente pode ser uma das mais imprevisíveis que já aconteceram. Cerca de 80% dos cardeais aptos a votar foram nomeados nos últimos 12 anos pelo papa Francisco. Ele escolheu conscientemente pessoas do mundo todo e com trajetórias políticas diversas.
Muitos dos indicados por Francisco são do mundo em desenvolvimento — “lugares e contextos que normalmente não recebem um chapéu vermelho”, observa Rowlands.
Isso acrescenta um nível de incerteza quanto às suas prioridades e à decisão final.
Crédito, Focus Features
‘Uma coisa muito humana’
O filme apresenta os cardeais como seres humanos com falhas que lutam pelo poder.
O diretor Edward Berger disse à BBC no ano passado que, embora o conclave fosse considerado “um antigo ritual espiritual”, ele queria levar os participantes “para a modernidade”.
“Nós os colocamos neste pedestal e, quando você olha mais de perto, eles têm celulares, fumam, têm os mesmos problemas, vícios e segredos que nós.”
Rowlands ressalta que o filme dá uma espiada nos bastidores do processo, com todos os elementos da natureza e da vida humana: “Perda, luto, ambição, medo, tentação, coragem”.
“É uma coisa muito, muito humana, um conclave… Tem um propósito divino, mas é uma coisa muito humana”, conclui.