Como poderio militar da Índia e do Paquistão se comparam, em meio à escalada do conflito entre as duas potências
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O Paquistão afirmou que seis locais foram atacados e que teria conseguido abater cinco caças indianos, o que a Índia não confirmou.
As cenas de violência são o episódio mais recente de uma longa história de disputa pela Caxemira, que já custou milhares de vidas e cujas raízes remontam a mais de sete décadas.
Após o ataque, o Paquistão acusou a Índia de cometer um “ato flagrante de guerra” e prometeu retaliação.
Especialistas no subcontinente indiano não descartam a possibilidade de a Índia lançar uma ação militar focada que possa evoluir para uma guerra total na região.
H. S. Panag, tenente-general aposentado do Exército indiano, alertou que seu país não deveria tomar uma decisão precipitada.
Em um artigo na plataforma digital indiana The Print, ele observou que o Paquistão é um país com armas nucleares e que tem poder suficiente para responder vigorosamente à ação militar indiana.
“A Índia não possui vantagem tecnológica suficiente em nenhuma área — mísseis, drones ou poder aéreo — para realizar um ataque retaliatório sem sofrer perdas. O Paquistão tem capacidade de responder, e precisamos estar preparados”, escreveu ele.
Enquanto isso, em uma entrevista recente à BBC, o ministro da Defesa paquistanês, Khawaja Asif, declarou que seu país estava preparado para qualquer cenário: “Não precisamos nos preparar. Já nos preparamos. Estamos prontos para qualquer situação”.
“Se qualquer tipo de ação imprudente for tomada, haverá uma resposta como em 2019”, declarou dias antes o primeiro-ministro paquistanês, Shahbaz Sharif.
Ele se referia à derrubada de dois caças da Força Aérea Indiana por Islamabad durante uma série de confrontos entre os dois países após um ataque em Pulwama, na Caxemira controlada pela Índia, no qual pelo menos 40 paramilitares indianos foram mortos em um ataque suicida com carro-bomba.
Mas como as capacidades militares de ambos os países se comparam?
A força do Exército indiano
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De acordo com a Global Firepower, portal especializado em defesa, a Índia e o Paquistão estão separados por oito posições no ranking de 2025 dos países com maior poderio militar.
A Índia ocupa o quarto lugar entre 145 países, enquanto o Paquistão está na 12ª posição.
O Exército Indiano é um dos maiores do mundo, com cerca de 2,2 milhões de militares.
Possui 4.201 tanques, cerca de 1,5 milhão de veículos blindados, 100 peças de artilharia autopropulsadas, 3.975 peças de artilharia rebocadas e 264 lançadores de foguetes de canos múltiplos.
A Força Aérea Indiana tem pouco mais de 300 mil oficiais e um total de 2.229 aeronaves, incluindo 513 aeronaves de combate e 270 aeronaves de transporte.
A frota total de aeronaves inclui 130 de ataque, 351 de treinamento e seis de reabastecimento.
As três alas do Exército indiano têm 899 helicópteros, dos quais 80 são de ataque.
A Marinha, por sua vez, conta com 142 mil militares e um total de 293 navios, incluindo dois porta-aviões, 13 contratorpedeiros, 14 fragatas, 18 submarinos e 18 corvetas.
Em termos de logística, o Exército indiano tem 311 aeroportos, 56 portos e 65 mil quilômetros de linhas ferroviárias à sua disposição.
A força do Exército do Paquistão
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Ainda conforme a Global Firepower, o Exército paquistanês tem aproximadamente 1.311.000 militares, 124 mil oficiais da Marinha e 78 mil da Força Aérea.
O país possui um arsenal com 1.399 aeronaves, incluindo 328 caças, 90 aeronaves de ataque, 64 aeronaves de transporte e 565 aeronaves de treinamento.
Além disso, conta com quatro frotas de aviões-tanque e 373 helicópteros, incluindo 57 helicópteros de ataque.
Possui 2.627 tanques, 17.516 veículos blindados, 662 peças de artilharia autopropulsadas, 2.629 peças de artilharia rebocadas e 600 peças de artilharia de foguetes de canos múltiplos.
A Marinha do Paquistão, por sua vez, tem um total de 121 navios de guerra, incluindo nove fragatas, nove corvetas, oito submarinos e 69 navios de patrulha.
Em termos de logística, possui 116 aeroportos, três portos e 11.900 quilômetros de ferrovias.
Armas nucleares
De acordo com um relatório de 2024 publicado pelo Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês), um centro de estudos que se dedica a mapear gastos com defesa em todo o mundo e o comércio de armas, a Índia tem 172 ogivas nucleares, enquanto o Paquistão tem 170.
Não se sabe, contudo, quantas armas nucleares estão instaladas em ambos os países.
Os dados do Sipri sinalizam que o Paquistão está preparando armas nucleares para uma possível guerra com a Índia, enquanto esta última tem se concentrado mais na implantação de armas de longo alcance — que também poderiam ter como alvo a China.
A China, vizinha da Índia e do Paquistão e a terceira maior potência nuclear do mundo, aumentou seu volume de armas nucleares em 22%, de 410 ogivas para 500.
Drones
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Shakeel Akhtar, jornalista do serviço em urdu da BBC, diz que tanto a Índia quanto o Paquistão têm expandido seus arsenais de drones militares nos últimos anos.
Em um artigo publicado em novembro passado, ele pontuou que ambos os países não apenas importaram equipamentos, mas também desenvolveram sua própria tecnologia não tripulada para monitorar, espionar e atacar alvos.
O analista de defesa Rahul Bedi estima que o arsenal de drones da Índia chegará a 5 mil nos próximos dois a quatro anos.
Segundo ele, o Paquistão tem um volume menor, mas com dispositivos de capacidades diferentes, de 10 ou 11 marcas.
Em outubro do ano passado, a Índia assinou um acordo de US$ 3,5 bilhões com os Estados Unidos para comprar 31 drones Predator, considerados entre os mais perigosos do mundo.
O país também adquiriu bombas e mísseis guiados a laser no valor de US$ 500 milhões, armas que podem ser usadas para destruir alvos específicos usando drones.
Bedi afirma que o Paquistão importa drones principalmente da Turquia e da China, mas também já comprou equipamentos alemães e italianos e desenvolveu seus próprios veículos aéreos não tripulados, como o Barraq e o Shahpar.
Sistema de mísseis antibalísticos
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“A Índia é um dos poucos países que possui um sistema de mísseis antibalísticos”, escreveu o analista de defesa Harrison Cass no site The National Interest.
O país conta com dois tipos de mísseis em seu sistema de defesa antimísseis. O Prithvi, que intercepta ataques de mísseis de alta altitude, e o Sistema de Defesa Aérea Avançada (Advanced Air Defense, ou AAD), também conhecido como Interceptador de Mísseis Balísticos Ashwin, que intercepta ataques de mísseis de baixa altitude.
Com o arsenal, o sistema de mísseis antibalísticos da Índia seria capaz de interceptar ataques de mísseis a uma distância de pelo menos 5 mil quilômetros.
O país também desenvolveu os mísseis de cruzeiro hipersônicos BrahMos e BrahMos-2 em colaboração com a Rússia, que podem ser lançados de plataformas terrestres, aéreas, marítimas e submarinas.
“A Índia tem inúmeras opções de mísseis convencionais e nucleares. Também tem a capacidade de deter ataques de mísseis”, diz Harrison Cass.
O Paquistão também tem muitas opções quando se trata de mísseis convencionais e nucleares.
E embora ambos os países tenham melhorado suas capacidades, diferentemente da Índia, o Paquistão não possui mísseis balísticos intercontinentais, uma característica que muitos analistas de defesa creditam a uma avaliação de risco do governo paquistanês, que considera a Índia atualmente como único inimigo.
A Índia, por sua vez, mantém um relacionamento complicado com a China e tem desenvolvido suas capacidades de defesa com esse panorama em perspectiva.
“O Paquistão não tem a mesma necessidade de mísseis balísticos intercontinentais que a Índia, porque os mísseis do Paquistão são capazes de alcançar objetivos regionais.”
*Com informações da BBC News Mundo, do serviço hindi da BBC e do repórter Rajneesh Kumar.