Boeing: queda de 787 na Índia reacende crise de segurança em meio a prejuízo bilionário
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- Author, Nick Marsh
- Role, BBC News
No mês passado, a Boeing comemorou o transporte de seu bilionésimo passageiro no 787 Dreamliner – um feito impressionante, considerando que o modelo foi lançado há apenas 14 anos.
Este é um avião diferente do Boeing 737 Max, que esteve nas manchetes após acidentes fatais na Indonésia e na Etiópia, que mataram centenas de pessoas em 2018 e 2019, respectivamente.
Uma falha de software foi identificada como a causa desses acidentes, e o modelo ficou fora de uso em todo o mundo por 18 meses.
Até o momento, não há nada que sugira qualquer falha da Boeing na Índia.
Um panorama mais completo surgirá assim que as caixas-pretas do avião (equipamentos de gravação que armazenam informações vitais do voo) forem recuperadas.
Várias hipóteses foram propostas para explicar o que poderia ter causado o acidente em Ahmedabad, mas um piloto com quem conversei disse que hoje em dia é raro que uma falha do fabricante cause um incidente fatal.
Com a notável exceção dos acidentes com o Boeing 737 Max, ele disse que a maioria se deveu a erro humano na cabine.
Também é importante lembrar que, ao voar comercialmente, você quase sempre estará em um Boeing ou Airbus, já que essa indústria opera como um duopólio efetivo.
A empresa afirmou que seus “pensamentos estão com os passageiros, tripulação, socorristas e todos os afetados” e acrescentou que está trabalhando com a Air India para reunir mais informações sobre o acidente.
Quando as bolsas de valores abriram em Nova York na quinta-feira, as ações da Boeing caíram 5%.
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Problemas em série
A tragédia é mais um problema para uma empresa que perdeu quase US$ 1 bilhão por mês em 2024, enquanto luta contra uma crise de segurança, problemas de controle de qualidade e os efeitos de uma greve de 33 mil trabalhadores que durou sete semanas no ano passado.
A gigante aeroespacial perdeu US$ 11,8 bilhões no ano passado — seu pior resultado desde 2020, quando a indústria da aviação foi paralisada pela pandemia de covid-19.
Enquanto a Boeing entregou 348 aeronaves comerciais no ano passado, sua rival Airbus entregou 766.
Segundo investigadores, a porta não havia sido fixada corretamente.
O incidente evidenciou graves falhas no controle de qualidade da Boeing e de seu principal fornecedor, a Spirit Aerosystems.
A empresa também chegou a um acordo de US$ 428 milhões com a Southwest Airlines pelos danos financeiros causados pela paralisação prolongada da frota de 737 Max.
Os problemas na área de defesa da Boeing têm sido menos visíveis, mas não menos prejudiciais. A unidade perdeu mais de US$ 5 bilhões, em grande parte devido ao aumento dos custos com contratos militares de preço fixo.
A empresa enfrenta ainda acusações de retaliar funcionários que criticaram seus procedimentos.
Em 2019, um ex-funcionário disse à BBC que trabalhadores sob pressão estavam instalando deliberadamente peças abaixo do padrão em aeronaves na linha de produção.
A empresa garantiu que retaliações em seu ambiente eram “estritamente proibidas” e que registrou desde janeiro um “aumento de mais de 500%” em chamados de funcionários — “o que sinaliza um progresso em direção a uma cultura de denúncias robusta que não teme retaliações”, concluiu a empresa americana.
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A Boeing também se envolveu em uma série de batalhas judiciais relacionadas aos acidentes na Indonésia e na Etiópia.
No mês passado, a empresa escapou por pouco de um processo criminal ao chegar a um acordo com o Departamento de Justiça dos EUA.
Para consternação das famílias das vítimas, o órgão federal afirmou que a Boeing admitiria “conspiração para obstruir e impedir” uma investigação da Administração Federal de Aviação dos EUA (FAA) e pagaria mais de US$ 1,1 bilhão em multas.
Não é de surpreender que a alta diretoria da Boeing tenha passado por uma reformulação significativa nos últimos dois anos.
Seu novo chefe, Kelly Ortberg, saiu da aposentadoria há um ano para tentar reanimar a empresa em dificuldades.
Ele prometeu uma melhoria na cultura de segurança da Boeing e recentemente afirmou estar confiante de que a gigante da aviação retornaria em breve à lucratividade.
Nesta quinta, ele enfrenta mais notícias terríveis para lidar.