Ataque ao Irã: imagens revelam danos em instalações nucleares
Crédito, Maxar Technologies via Reuters
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- Author, Shayan Sardarizadeh e Thomas Spencer
- Role, BBC Verify
Imagens de satélite revelaram novos sinais de danos a túneis e vias de acesso na instalação subterrânea de enriquecimento de urânio de Fordo, no Irã, atingida por Israel em 23 de junho – um dia depois que os Estados Unidos lançaram bombas antibunker no local.
Danos não observados anteriormente são visíveis perto das entradas dos túneis do Centro de Tecnologia Nuclear de Isfahan, no Irã, também atingido pelos Estados Unidos.
Paralelamente, existem sinais de trabalhos já em andamento para preencher as crateras do complexo de enriquecimento de urânio de Natanz, após os ataques norte-americanos.
Um documento que vazou da inteligência americana lançou dúvidas sobre os impactos dos ataques ao Irã. A cobertura da imprensa sobre suas conclusões gerou uma resposta irritada do presidente Donald Trump.
Outras imagens de satélite revelam danos anteriormente não observados em uma universidade no nordeste de Teerã e em uma área ao lado de um importante aeroporto a oeste da capital iraniana.
Israel e os Estados Unidos afirmaram que os ataques tiveram como propósito evitar que o Irã construísse armas nucleares. Teerã vem negando insistentemente estas acusações e defende que seu programa nuclear tem fins pacíficos.
Novos danos em Fordo
A instalação de enriquecimento de urânio de Fordo, perto da cidade de Qom, fica enterrada no subsolo, na encosta de uma montanha. Ela foi atingida por bombas antibunker dos Estados Unidos no dia 22 de junho.
Um dia depois, Israel declarou ter novamente atingido Fordo. Desta vez, o alvo foram as vias de acesso à instalação nuclear. Autoridades iranianas confirmaram posteriormente o ataque.
Imagens de satélite em alta resolução capturadas em 24 de junho e divulgadas pela empresa Maxar Technologies exibem novas crateras e construções danificadas, que não eram visíveis após os ataques norte-americanos.
Uma nova cratera pode ser observada em uma estrada de acesso que leva à entrada de um túnel a noroeste da instalação. Pelo menos duas crateras também são visíveis perto da abertura de um túnel na extremidade sul do complexo.
As imagens da Maxar também mostram uma instalação destruída ao norte, além de crateras causadas pelos ataques aéreos e poeira cinza na mesma região.
Uma nova cratera e marcas causadas pelo fogo podem ser observadas no meio de uma estrada de acesso na extremidade oeste da instalação. Acredita-se que os ataques pretendiam dificultar o acesso e reparo do local.
O volume de poeira cinza visível em algumas das imagens de satélite pode ser um sinal do nível de destruição ocorrido abaixo da superfície, acreditam os analistas.
“Detonações profundas no subsolo com magnitude suficiente para expelir o concreto, como foi descrito, causariam danos significativos às estruturas subterrâneas”, segundo o especialista em explosões Trevor Lawrence, chefe do Centro de Tecnologia Energética da Universidade de Cranfield, no Reino Unido.
“Considerando a complexidade de construção dessas estruturas, é muito improvável que danos significativos sejam reparados em curto prazo, se é que haverá o reparo.”
Danos às entradas de túneis do complexo de Isfahan
Ele também abriga uma instalação de conversão, onde o urânio natural é transformado em material que pode ser enriquecido nas duas instalações de enriquecimento do país, em Natanz e Fordo.
Israel atingiu o complexo duas vezes – e o ataque norte-americano de 22 de junho resultou em danos mais extensos em todo o complexo.
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, defendeu a eficácia dos ataques dos Estados Unidos ao Irã. Aparentemente, ele se referia à instalação de conversão de urânio de Isfahan.
“Você não pode fazer uma arma nuclear sem uma instalação de conversão, mas não conseguimos nem mesmo encontrar onde ela fica, onde ela costumava ficar no mapa – porque tudo aquilo simplesmente desapareceu… não existe mais… foi destruído”, segundo Rubio.
O complexo foi totalmente capturado nas imagens mais recentes da Maxar. Elas mostram extensa destruição de um grande número de construções.
Uma estrutura, antes identificada como o principal ponto de conversão de urânio do país pelo Instituto de Ciência e Segurança Internacional (Isis, na sigla em inglês), foi praticamente destruída.
Novas imagens após os ataques dos Estados Unidos também revelam danos às entradas dos túneis localizadas ao norte do complexo.
É possível observar claramente os danos causados a uma entrada de túnel localizada no extremo norte da instalação, perto de um complexo na encosta da montanha.
Outra imagem também mostra novos danos em outras duas entradas de túneis.
Especialistas da empresa de análise de inteligência Maiar determinaram que as entradas provavelmente suportaram danos estruturais “moderados”.
Eles observaram locais incendiados em torno das entradas, mas também uma relativa ausência de danos ao concreto adjacente. Também não havia buracos visíveis no solo acima das entradas.
As tentativas anteriores do Irã, empilhando terra no local para reforçar as entradas, podem ter reduzido a eficácia dos ataques americanos.
“Uma entrada de túnel em Isfahan parece ter sofrido uma explosão interna e fogo, devido aos destroços escuros que saem da entrada”, afirma Mark Cancian, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. “Se for este o caso, seu reparo levaria anos.”
“Por outro lado, a descoloração pode ter sido causada pela própria arma e não pela sua penetração. A outra entrada de túnel parece ter sido coberta com areia e pó. Se só isso tiver acontecido, ela poderá ser aberta em poucas semanas.”
Crateras cobertas em Natanz
Natanz é a principal instalação de enriquecimento de urânio do Irã. Ela foi atingida por Israel e pelos Estados Unidos durante o conflito.
Imagens de satélite capturadas no dia 22 de junho, imediatamente após os ataques norte-americanos, revelaram duas crateras visíveis em uma grande área no centro do complexo.
Acredita-se que estas crateras estejam acima de construções subterrâneas que abrigam salas de centrifugação, onde ocorre o enriquecimento de urânio.
Uma nova imagem, de 24 de junho, mostra que as crateras foram cobertas, o que pode indicar que há trabalhos em andamento para reparar os danos sofridos pela unidade.
“Pense no que você faria se tivesse um buraco no teto”, exemplifica David Albright, do Isis. “E eles provavelmente também querem oferecer pelo menos alguma resistência contra outro ataque que penetre na terra no mesmo ponto.”
Aeroporto de Mehrabad
Um alvo importante dos ataques israelenses durante o conflito foi o aeroporto de Mehrabad, a oeste de Teerã. Vídeos e imagens autenticados pela BBC Verify mostram que Israel bombardeou o aeroporto diversas vezes.
Antes o principal aeroporto internacional da capital, hoje ele atende principalmente voos domésticos.
Uma das imagens, capturada em uma área industrial imediatamente ao sul da pista do aeroporto, mostra danos causados a diversas estruturas.
Outra imagem mostra uma área a oeste da pista do aeroporto, onde pelo menos um armazém parece ter sido totalmente destruído.
A área abriga diversas companhias aeroespaciais, relacionadas ao setor de defesa iraniano.
Universidade Shahid Rajaee
As imagens de satélite também mostram diversos edifícios atingidos na Universidade Shahid Rajaee, no distrito de Lavizan (nordeste de Teerã).
Vídeos verificados pela BBC confirmam que Lavizan foi atingida por diversos ataques aéreos de Israel durante o conflito. E imagens de satélite revelam extensos danos causados a vários edifícios de grande porte perto do campus universitário, com destroços espalhados por toda a área.
As imagens mais recentes não abordam uma questão central sobre a repercussão dos ataques americanos e israelenses: o Irã ainda mantém estoques de urânio enriquecido?
“De forma geral, os ataques americanos e israelenses efetivamente destruíram o programa de enriquecimento e centrifugação do Irã”, segundo Albright. “Levará muito tempo para que o Irã chegue perto da capacidade que detinha antes do ataque.”
“Dito isso, existem pontos remanescentes, como os estoques de urânio enriquecido a 60%, 20% e 3-5% e as centrífugas fabricadas, mas não instaladas em Natanz ou Fordo. E estas partes não destruídas representam uma ameaça, já que elas podem ser usadas no futuro para produzir urânio para a fabricação de armas.”