As tatuagens de 2,5 mil anos encontradas em múmia congelada
Crédito, G. Caspari e M. Vavulin
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- Author, Georgina Rannard
- Role, Repórter de ciências, BBC News
Imagens de alta resolução de tatuagens encontradas em uma “múmia de gelo” de 2,5 mil anos na Sibéria (Rússia) revelaram decorações que um tatuador moderno teria dificuldades para produzir, segundo pesquisadores.
As intricadas tatuagens no corpo da mulher mostram leopardos, um veado, um galo e uma criatura lendária, metade leão e metade águia. Elas são o testemunho de uma antiga cultura guerreira.
Os arqueólogos trabalharam com um tatuador, que reproduz antigas decorações da pele no seu próprio corpo, para compreender exatamente como elas foram produzidas.
A mulher tatuada tinha cerca de 50 anos de idade. Ela pertencia ao povo nômade pazyryk, que cavalgava pelas vastas estepes que ligam a China à Europa.
Crédito, Daniel Riday
As varreduras revelaram tatuagens “intricadas, nítidas e uniformes”, invisíveis a olho nu.
“As imagens realmente deixam claro para mim como essas pessoas eram sofisticadas”, declarou à BBC o escritor Gino Caspari, do Instituto Max Planck de Geoantropologia e da Universidade de Berna, na Suíça.
É difícil encontrar informações detalhadas sobre as práticas socioculturais antigas, pois a maior parte das evidências é destruída ao longo do tempo. E é ainda mais difícil chegar perto dos detalhes da vida de uma pessoa.
As múmias pazyryk foram encontradas no século 19, no interior de túmulos de gelo nas montanhas Altai, na Sibéria. Mas era difícil ver as tatuagens.
Crédito, Daniel Riday
Agora, utilizando fotografia digital de infravermelho próximo, no Museu Hermitage em São Petersburgo, na Rússia, especialistas criaram, pela primeira vez, imagens em alta resolução das decorações da pele.
“Isso me fez sentir que estamos muito mais próximos de ver as pessoas por trás da arte, como elas trabalhavam e aprendiam”, explica Caspari. “As imagens ganharam vida.”
No antebraço direito, a mulher pazyryk tinha uma imagem de leopardos em torno da cabeça de um veado.
Crédito, Getty Images
No braço esquerdo, o grifo lendário, com corpo de leão e cabeça e asas de águia, parece estar lutando contra um veado.
“Corpos entrelaçados e cenas de batalha muito intensas com animais selvagens são típicas desta cultura”, explica Caspari. Mas a mulher também tinha um galo no polegar, o que demonstra “um estilo fascinante e uma certa singularidade”.
Sua equipe trabalhou com o pesquisador Daniel Riday, que reproduz desenhos de tatuagens antigas no seu corpo, usando métodos históricos.
Crédito, Daniel Riday
Sua percepção das imagens o levou a concluir que a qualidade do trabalho era diferente em cada um dos braços. Isso indica que pessoas diferentes fizeram as tatuagens ou que houve erros na sua elaboração.
“Imagino que, provavelmente, foram necessárias quatro horas e meia para a metade inferior do braço direito e mais cinco horas para a parte superior”, explica ele.
“Este é um compromisso sólido da pessoa. Imagine ficar sentado no chão da estepe, onde o vento sopra todo o tempo.”
“Ela precisaria ser realizada por uma pessoa conhecedora de saúde e segurança, que sabe os riscos do que acontece quando a pele é perfurada”, destaca Riday.
Analisando as marcas no corpo da mulher, a equipe acredita que as tatuagens provavelmente foram estampadas sobre a pele antes de serem tatuadas.
Eles acham que foi empregada uma ferramenta em forma de agulha, com diversas pontas pequenas, provavelmente feita de chifre ou osso animal, além de uma agulha de uma ponta só. Os pigmentos provavelmente eram feitos de material vegetal queimado ou fuligem.
Caspari não tem tatuagens. Ele destaca que este trabalho exemplifica uma prática antiga que é muito importante para muitas pessoas hoje em dia.
Crédito, Daniel Riday
“E, naquela época, esta já era uma prática muito profissional”, explica ele. “As pessoas dedicavam tempo, esforço e prática para a criação dessas imagens, que são extremamente sofisticadas.”
Algumas das tatuagens parecem ter sido cortadas ou danificadas durante a preparação do corpo para o sepultamento.
“Isso sugere que as tatuagens realmente eram para os vivos, com significado durante a vida, mas, na verdade, não tinham muita importância após a morte”, segundo Caspari.
As descobertas foram publicadas na revista Antiquity.
Crédito, M. Vavulin