As reações à tarifa de Trump contra Brasil: bolsonaristas ‘traidores’ x ‘vexame’ de Lula
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Em tom duro, a carta de Trump diz que a decisão é uma resposta à perseguição que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria sofrendo no Brasil, devido ao processo criminal que enfrenta no Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de liderar uma tentativa de golpe de Estado.
Diante da decisão de Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convocou uma reunião de emergência com sua equipe de ministros.
Nas redes sociais, Lula declarou que “o processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais”.
No texto, Lula também refutou que a relação comercial seja desfavorável aos EUA e defendeu que a liberdade de expressão no Brasil “não se confunde com agressão ou práticas violentas”.
“Qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica. A soberania, o respeito e a defesa intransigente dos interesses do povo brasileiro são os valores que orientam a nossa relação com o mundo”, finalizou o presidente brasileiro.
Veja abaixo o que disseram na noite desta quarta-feira (9/7) algumas autoridades e analistas sobre a medida de Trump
Flávio Bolsonaro (PL-RJ), senador
Primeiro da família Bolsonaro a se manifestar, o senador escreveu no X que Lula “conseguiu ferrar o Brasil”.
“Depois de tantas ações provocando a maior democracia do mundo, tá aí o resultado do vexame da sua política internacional ideologizada”, escreveu Flávio.
Para o senador, a taxa de 50% de Trump “é a mesma coisa” que Lula tem feito com os brasileiros, “que não aguentam mais pagar tantos impostos”.
Flávio, porém, não creditou o anúncio de Trump à atuação de seu irmão, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se licenciou do cargo e se mudou para os EUA dizendo que se dedicaria a convencer o governo Trump a atuar pela anistia aos envolvidos nos ataques do 8 de janeiro no Brasil e para obter sanções ao ministro do STF Alexandre de Moraes.
Eduardo Bolsonaro é atualmente alvo de um inquérito no STF pelos crimes de coação, obstrução de investigação e abolição violenta do Estado Democrático de Direito por sua atuação nos EUA, acusações que ele rejeita.
Ian Bremmer, cientista político
O cientista político americano e fundador da consultoria de risco Eurasia analisou em um post que os “Estados Unidos intervêm na política interna do Brasil, à medida que o presidente Trump anuncia tarifas de 50%, ‘em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil’ contra Jair Bolsonaro”.
Em seu texto, Bremmer avalia que “seria intolerável para os líderes políticos americanos (republicanos e democratas) se outro país tentasse fazer o mesmo com os Estados Unidos”.
Flávio Dino, ministro do STF
Sem citar diretamente o anúncio de Trump, o ministro do STF Flávio Dino fez um post logo após a publicação da carta do presidente americano a Lula.
“Uma honra integrar o Supremo Tribunal Federal, que exerce com seriedade a função de proteger a soberania nacional, a democracia, os direitos e as liberdades, tudo nos termos da Constituição do Brasil e das nossas leis”, escreveu Dino, ao lado de uma foto do prédio do STF iluminado com as cores do Brasil.
Paulo Figueiredo, jornalista aliado à família Bolsonaro
Denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como integrante da organização criminosa que planejou o golpe de Estado no Brasil, Figueiredo, que vive nos EUA e nega as acusações, escreveu: “Realmente, lamento que as coisas tenham tido que chegar a este ponto”.
“Vai Alexandre, mostra que você é macho! Inclui o Trump agora no inquérito por obstrução de justiça po!”, provocou Figueiredo, em mensagem ao ministro Alexandre de Moraes.
Eduardo Bolsonaro (PL-SP), deputado federal licenciado
Em carta enviada ao jornalista Guga Chacra, da GloboNews assinada junto com Paulo Figueiredo, o filho de Bolsonaro disse que “nos últimos meses, temos mantido intenso diálogo com autoridades do governo do presidente Trump — sempre com o objetivo de apresentar, com precisão, a realidade que o Brasil vive hoje”.
“A carta do presidente dos Estados Unidos apenas confirma o sucesso na transmissão daquilo que viemos apresentando com seriedade e responsabilidade.”
Os dois dizem que o STF e Alexandre de Moraes colecionaram “violações de direitos humanos contra jornalistas, contra cidadãos e residentes dos Estados Unidos” e também avançaram “sobre líder maior da oposição, o ex-presidente Jair Bolsonaro, negando-lhe garantias mínimas de legalidade, defesa e presunção de inocência na forma da farsa de um julgamento quase sumário em um tribunal de exceção”.
A carta segue dizendo que a dupla agiu “buscando evitar o pior”, com foco em aplicar sanções a Moraes.
“No entanto, recentemente, o presidente Trump, corretamente, entendeu que Alexandre de Moraes só pode agir com o respaldo de um establishment político, empresarial e institucional que compactua com sua escalada autoritária. O presidente americano entendeu que esse establishment também precisa arcar com o custo desta aventura.”
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Mais reações no Congresso
Deputados e senadores governistas e de oposição também repercutiram a decisão de Trump.
Do lado dos bolsonaristas, o tom geral foi o de culpar a suposta perseguição a Bolsonaro e o governo Lula pela nova taxa de Trump. Já os governistas argumentam que os bolsonaristas agem para prejudicar o Brasil.
Nikolas Ferreira (PL-MG), deputado federal
O deputado federal focou em dizer que “a culpa é do Lula” diante da nova taxa.
“Basta Lula ter diplomacia, parar de perseguir e o STF ficar no seu lugar, que a taxa não incidirá mais no Brasil”, escreveu Ferreira.
Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do PT na Câmara
O deputado federal petista disse que a taxa é algo “gravíssimo”.
“Os vira-latas bolsonaristas conseguiram. Penso que Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Tarcísio [governador de São Paulo] devem estar muito felizes em prejudicar o Brasil, nossa economia e nossos empregos. Nós defendemos o Brasil e nossa soberania. Eles são uns traidores!”, declarou Farias
Filipe Barros (PL-PR), deputado federal
Presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Barros escreveu que a “culpa” pela sanção de Trump é de “todos os que perseguiram a direita”.
“Eles traíram a nossa nação, entregaram nosso destino a interesses estrangeiros, venderam a soberania nacional e nos colocaram na lista das nações menos democráticas do mundo”, declarou Barros.
Coronel Tadeu (PL-SP), deputado federal
O parlamentar disse que as tarifas são um “recado claro: o Brasil sob a esquerda não é parceiro confiável. Trump não passa pano pra comunista disfarçado”.
Humberto Costa (PT-PE), senador
O petista escreveu que Bolsonaro “bate continência para a bandeira dos EUA e, junto com a sua turma, veste o boné de Trump, o cara que prejudica o Brasil com sobretaxas exorbitantes.”
“Isso é o bolsonarismo: jogar e torcer contra o Brasil”, disse Costa.
Jaques Wagner (PT-BA), senador
O senador pediu “respeito ao Brasil”e disse que a taxa ocorre após “pedido da família Bolsonaro”.
“O presidente norte-americano está confundindo a quem está se dirigindo. O Brasil não será quintal do país de ninguém. Quem decide a nossa vida somos nós. Que fique claro: o Brasil é dos brasileiros e não de capachos”, escreveu Wagner.