Arquivos secretos sobre o assassinato de Kennedy citam Brasil; veja
Governo dos EUA publicou mais de 2 mil documentos com investigações que envolvem a morte do presidente na década de 1960. Brasil é citado em arquivos sobre influência de Cuba e China na América Latina. Presidente John Kennedy assina ordem de bloqueio naval a Cuba em outubro de 1962, em meio à crise dos mísseis
AFP
O governo dos Estados Unidos publicou na terça-feira (18) mais de 2 mil documentos sobre as investigações do assassinato do presidente John F. Kennedy em 1963. O Brasil é citado em alguns dos arquivos.
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A liberação dos arquivos foi autorizada pelo presidente Donald Trump em janeiro deste ano. Os documentos envolvem relatórios de diversos órgãos americanos, como a Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês).
O Brasil é mencionado em alguns arquivos no contexto da Guerra Fria e da influência de China e Cuba na América Latina.
Confira a seguir algumas menções.
Brizola recusa de ajuda de China e Cuba
Telegrama da CIA que relata que Brizola recusou ajuda de China e Cuba
Reprodução
Um dos arquivos afirma que o então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, negou apoio oferecido por Cuba e China em agosto de 1961. Veja aqui.
O documento é um telegrama da CIA e cita que Brizola liderava os esforços para garantir que João Goulart assumisse a presidência após a renúncia de Jânio Quadros.
Segundo o telegrama, Fidel Castro e Mao Tse-Tung ofereceram apoio material, incluindo “voluntários”, a Brizola.
O governador negou a ajuda, temendo uma crise nas relações internacionais do Brasil e uma intervenção dos Estados Unidos. Brizola morreu em 2004, aos 82 anos.
“Projeto Cuba”
Arquivos sobre Cuba
Reprodução
Um arquivo de janeiro de 1962 detalha as ações da CIA para sabotar o governo cubano. Veja aqui.
Segundo o documento, em fevereiro daquele ano, os EUA iniciariam uma operação para dar largada a um movimento de resistência organizado em Cuba.
Ao mesmo tempo, a CIA afirma que tinha “em mãos” propaganda e ações políticas em andamento em países do Caribe e da América Latina.
As ações de propaganda foram feitas para dar apoio aos esforços da CIA em conter a influência de Cuba em países americanos.
Segundo o documento, “demonstrações em massa” foram feitas no Brasil, além de Argentina, Bolívia, Chile, Uruguai e outros países da região.
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Ações de Cuba no Brasil
Brasil é citado em documento sobre Cuba
Reprodução
Um relatório da CIA de julho de 1964, após o golpe militar no Brasil, afirma que os cubanos estavam tentando influenciar outros países da América Latina. Veja aqui.
O documento cita um discurso de Fidel Castro de 1963, no qual ele diz que Cuba era a maior fonte de inspiração para revoluções na América Latina.
No entanto, segundo a CIA, os esforços de Cuba falharam várias vezes, sendo a derrubada do governo de João Goulart no Brasil uma “dura derrota” para Havana.
Ainda assim, o relatório cita que o governo cubano continuou promovendo, financiando e dando apoio para grupos dentro de países latino-americanos, incluindo Brasil, Argentina e Chile.
Diplomatas brasileiros
Um documento datado de novembro de 1962 sugere que a CIA usou dois diplomatas brasileiros para fazer comunicação entre dois agentes.
Segundo o documento, cartas eram enviadas em uma bolsa de Miami para Havana e vice-versa, com informações de inteligência.
As duas cidades, segundo o documento, tinham missões diplomáticas do Brasil.
O arquivo cita que os brasileiros provavelmente não enviavam informações de espionagem.
Por outro lado, os diplomatas poderiam contribuir transportando outros itens, como mapas e até dinheiro dentro de latas.
Operações de propaganda
Um memorando de dezembro de 1963 revela que os Estados Unidos planejavam ações de influência na América Latina para conter o avanço de grupos alinhados a Cuba.
O documento cita uma reunião de um subcomitê do governo americano para discutir estratégias contra a presença comunista na região.
Entre as medidas mencionadas, está o uso de campanhas para influenciar a opinião pública em países latino-americanos, incluindo o Brasil.
Um dos focos era um encontro da Federação Sindical Unificada para a América Latina, previsto para 1964 no Rio de Janeiro. Segundo o documento, os EUA buscavam enfraquecer o evento, temendo que ele fortalecesse a atuação de sindicatos alinhados a Cuba e à China.
O relatório sugere que a CIA realizaria campanhas de propaganda no Brasil, espalhando informações sobre condições de trabalho na China e em Cuba para forçar o adiamento da reunião. Além disso, o embaixador dos EUA deveria avaliar possíveis ações de grupos locais contra o encontro.