Apagão na Europa: como se desenrolou queda de energia em Portugal e Espanha
Crédito, Jonathan Emery
- Author, Mallory Moench
- Role, BBC News
O primeiro sinal de problema que Peter Hughes notou foi quando seu trem para Madri começou a desacelerar.
Depois, o monitor da TV e as luzes se apagaram. As luzes de emergência acenderam, mas logo também apagaram e a locomotiva parou.
Quatro horas depois, Hughes ainda estava preso no trem a 200 quilômetros da capital da Espanha. Ele tinha comida e água, mas os banheiros não estavam funcionando.
“Vai escurecer em breve e podemos ficar presos aqui por horas”, disse ele à BBC.
Semáforos desligaram. Metrôs pararam de operar. Comércios fecharam e pessoas formaram filas para sacar dinheiro, pois os pagamentos com cartão não funcionavam.
Jonathan Emery estava em outro trem, a meio caminho entre Sevilha e Madri, quando o apagão ocorreu.
Por uma hora, ele ficou sentado no trem, com as portas fechadas, até que as pessoas conseguissem abri-las para permitir a ventilação.
Pessoas de vilarejos locais começaram a chegar e entregar suprimentos – água, pão, frutas.
“Ninguém está cobrando nada, e a notícia deve estar se espalhando na cidade, porque as pessoas não param de chegar”, disse ele.
Crédito, EPA
Em Madri, Hannah Lowney estava no meio de suas compras no supermercado Aldi quando a energia elétrica acabou.
As pessoas saíam de seus escritórios e caminhavam para casa porque não sabiam quando os ônibus chegariam, disse Lowney em uma mensagem de voz enviada à BBC Radio 5 Live.
“É um pouco desconcertante que seja o país inteiro, nunca tinha passado por isso antes”, disse ela.
Mark England estava almoçando no restaurante do hotel onde está hospedado em Benidorm quando “tudo disparou, o alarme de incêndio começou a disparar e as portas corta-fogo começaram a se fechar”.
Em uma escola internacional em Lisboa, a energia elétrica oscilou por um tempo e depois cessou, disse a professora Emily Thorowgood.
Ela continuou dando aulas no escuro, com as crianças animadas, mas muitos pais estavam tirando seus filhos da escola, disse ela.
Will David, um britânico que mora em Lisboa, estava cortando o cabelo e aparando a barba em uma barbearia quando a energia caiu.
O barbeiro encontrou um lugar perto da janela no andar de cima para finalizar o corte com uma tesoura.
“A caminhada para casa foi muito estranha, tanto pela falta de semáforos, o que significava uma completa liberdade para veículos e pedestres nas ruas, quanto por tantas pessoas circulando do lado de fora de seus locais de trabalho sem nada para fazer”, disse ele.
Inicialmente, as redes de telefonia móvel também caíram para alguns, deixando muitos com dificuldades para obter informações.
Curtis Gladden, que mora em La Vall D’Uixo, a cerca de 48 quilômetros de Valência, disse que foi “assustador”, pois lutava para se atualizar sobre o que estava acontecendo.
Eloise Edgington, que não podia trabalhar como redatora em Barcelona, disse que estava recebendo apenas mensagens ocasionais, não conseguia carregar páginas da web em seu telefone e estava tentando economizar bateria.
Crédito, Mark England
Uma hora e meia após a queda de energia, uma moradora de Fortuna, no sudeste da Espanha, disse que seu marido estava dirigindo tentando encontrar um posto de gasolina que pudesse fornecer combustível para acionar um gerador e manter a geladeira deles funcionando.
“Estamos preocupados com comida, água, dinheiro e gasolina caso isso continue por alguns dias”, disse Lesley, uma britânica que mora na Espanha há 11 anos.
Os moradores “têm mais com o que se preocupar” do que com a suspensão do torneio de tênis Aberto de Madri, disse ela, acrescentando que há “pouquíssimas notícias sobre o que aconteceu”.
Mark England disse que, caminhando pela rua em Benidorm, “a maioria das lojas está às escuras e fechadas ou com pessoas na entrada dizendo que é proibido entrar. Não há caixas eletrônicos nem semáforos, então é estranho”.
Crédito, Mark England
Após o sinal do telefone de Gladden retornar, após cerca de duas horas, ele e outros se aventuraram a ir a cafés, mas descobriram que “nada estava funcionando – viemos buscar comida e bebida, mas eles não conseguem cozinhar sem eletricidade”.
Em duas horas, a operadora de rede elétrica espanhola Red Electrica afirmou que estava começando a recuperar o fornecimento de energia no norte e no sul do país.
Porém, duas horas e meia após os cortes, o prefeito de Madri, José Luis Martínez-Almeida, ainda pediu a todos os moradores que “mantivessem seus deslocamentos ao mínimo absoluto e, se possível, permanecessem onde estavam”, em um vídeo gravado pelo centro integrado de segurança de emergência da cidade.
Às 15h (10h de Brasília), horário local, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, convocou uma reunião “extraordinária” do Conselho de Segurança Nacional da Espanha.
O CEO da Red Electrica, Eduardo Prieto, disse em uma coletiva de imprensa que a energia poderia levar “entre seis e dez horas” para ser restaurada.
Pouco antes das 16h, a eletricidade foi restabelecida em Málaga. Às 17h, a operadora da rede elétrica informou que a energia estava sendo restabelecida “em várias áreas do norte, sul e oeste da Península Ibérica”.
A empresa de energia portuguesa REN fez uma previsão mais pessimista, afirmando que poderia “levar até uma semana” para que a rede elétrica voltasse ao normal.
‘Sem planos’
Geradores de reserva nos aeroportos foram ligados, permitindo que a maioria dos voos decolasse no horário, mas alguns não conseguiram operar.
Tom McGilloway, de férias em Lisboa, deveria retornar a Londres na noite de segunda-feira, mas até o início da noite não sabia o que aconteceria.
Ele disse que, por enquanto, as pessoas estavam recebendo bebidas e comidas, mas os vendedores lhe disseram que só poderiam continuar trabalhando até que as baterias dos terminais de pagamento acabassem.
“Se eu precisar reservar um hotel se o voo for cancelado, não sei como fazer isso se os pagamentos estiverem atrasados”, acrescentou.
“Meus sogros estão tentando conseguir gasolina para nos buscar e nos levar de volta ao Alentejo, mas muitos postos de gasolina estão fechados ou não aceitam pagamentos. Podemos ficar sem ter onde ficar esta noite.”
Colaboraram Andree Massiah, Kris Bramwell, James Kelly, Bernadette McCague and Josh Parry