Análise: tática de Trump sobre tarifas está dando resultados
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Os valores somam, desde o início do ano, mais de US$ 100 bilhões (cerca de R$ 554 bilhões). As tarifas já representam cerca de 5% da receita federal americana, em comparação com os 2% típicos anteriormente.
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, acredita que a receita anual com as tarifas será de US$ 300 bilhões (cerca de R$ 1,66 trilhão).
O valor está muito abaixo do que o país arrecada com o imposto de renda, mas é um montante considerável, recebido sem retaliações diretas dos países exportadores e, agora, sem as turbulências observadas inicialmente no mercado.
Mas a história não termina aqui. Afinal, quem, na verdade, está pagando estas tarifas?
Em última análise, os consumidores americanos pagarão uma grande parte delas, na forma de aumento dos preços pagos por produtos importados.
Bessent foi um dos que sugeriram, no passado, que o aumento do valor do dólar americano ajudaria a reduzir o custo das importações para os consumidores. Mas o que ocorreu foi o contrário.
O dólar caiu no mercado internacional no primeiro semestre deste ano. A moeda americana perdeu 10% do valor, em comparação com uma cesta de moedas mundiais. E esta queda irá se somar ao custo das importações, além das tarifas.
Existem aqui também outras questões em discussão. O presidente do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, declarou esta semana que “o comércio mais movimentado do mercado no momento é o ‘dólar curto'”.
Ele destacou que os padrões de segurança estabelecidos nos mercados, especialmente em relação ao dólar americano, estão “sendo essencialmente destruídos”.
Existe uma “redução de exposição” ao dólar, com as empresas e comerciantes eliminando suas transações ou os “hedges destinados a garantir proteção contra seu declínio”, segundo Bailey.
Como discuti anteriormente, existe nos mercados a suspeita de que este dólar mais fraco, na verdade, possa fazer parte do objetivo destas intervenções, que foram projetadas para ajudar a promover, por exemplo, a retomada da competitividade das indústrias americanas.
Neste primeiro estágio da grande guerra comercial global, o recente acordo comercial entre os Estados Unidos e o Japão é uma vitória importante para a Casa Branca. Ele irá combater a noção de que “Trump sempre muda de ideia”.
Este panorama poderá se traduzir em outras aparentes vitórias nas manchetes da próxima semana, aumentando a euforia do mercado. Mas o quadro econômico, de forma geral, permanece muito mais sombrio.
O Japão é uma peça importante na convulsão do sistema de comércio mundial, causada pelo presidente americano, Donald Trump. É possível, agora, afirmar que sua abordagem agressiva está gerando resultados tangíveis.
Desde o princípio, o lado americano vem falando sobre as possibilidades de chegar a um acordo com o Japão. Mas, apesar das diversas tentativas, a negociação era estranhamente elusiva, até agora.
Estritamente falando, esta é uma vitória da técnica de Trump, especialmente se o Japão se tornar uma espécie de peça de dominó que leva o resto do mundo a se alinhar.
O Japão, agora, conta com o melhor acordo (ou, melhor dizendo, o menos ruim) entre todas as nações com superávit comercial importante sobre os Estados Unidos.
A tarifa geral de 15% a ser cobrada sobre os produtos japoneses importados pelos Estados Unidos é superior aos 10% do Reino Unido, mas os britânicos não detêm superávit comercial.
Tóquio estava jogando duro. Acostumados à extrema polidez do país asiático, os diplomatas de Washington estranharam a fúria dos negociadores japoneses durante as negociações.
O ministro da Fazenda do Japão chegou a descrever o estoque de US$ 1,1 trilhão (cerca de R$ 6,1 trilhões) em bônus do Tesouro americano (o maior do mundo), mantido pelo país asiático, como uma “carta” que poderia ser colocada na mesa.
Houve rumores de que os fundos de hedge japoneses estariam vendendo bônus americanos, após o anúncio das tarifas de importação, em abril. O “Dia da Libertação” de Trump causou forte venda dos títulos e despertou questões maiores sobre a maior economia do mundo e o status de paraíso seguro do dólar americano.
Por isso, o estabelecimento de um acordo comercial entre os Estados Unidos e o Japão tem enorme importância, isoladamente e como exemplo para outros blocos econômicos importantes, incluindo a União Europeia (UE).
O acordo veio no dia em que os japoneses recebem líderes da UE em Tóquio.
Surgiu um certo falatório de que o Japão, a UE e o Canadá estariam coordenando sua retaliação conjunta. Mas este acordo suspende qualquer iniciativa.
Alguns membros da União Europeia se perguntarão por que não podem chegar a um acordo similar, em um momento em que a Alemanha e a França aceleram o passo rumo à retaliação, talvez contra as gigantes americanas da tecnologia.
O mundo aguarda para saber os detalhes do acordo, mas já está claro que o Japão protegeu suas importações de produtos agrícolas, embora vá importar mais arroz dos Estados Unidos.
Não se sabe ao certo o que poderá aumentar a popularidade dos grandes carros americanos no país asiático. Mas as empresas privadas japonesas receberão apoio para investir nos Estados Unidos, de alguma forma, a quantia de meio trilhão de dólares (cerca de R$ 2,8 trilhões).
O Japão poderia ter esperado para observar o desenrolar da situação e a reação dos mercados internacionais, quando entrarem em vigor as tarifas mais elevadas de Trump para diversos países (incluindo o Brasil), programadas para o dia 1° de agosto.
Mas a fraca posição doméstica atual do primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, pode ter influenciado as negociações. E outros países, como a Indonésia e as Filipinas, também celebraram acordos.
O panorama atual mostra uma penosa aceitação mundial de que os Estados Unidos irão cobrar dos seus principais aliados tarifas de importação que, um ano atrás, teriam sido impensáveis, por medo de que sobrevenha algo pior.
No caso do Japão, a ameaça de Trump foi uma tarifa de 25%.