Acidentes de avião: está mais perigoso voar?
Crédito, Getty Images
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- Author, Joshua Cheetham, Yi Ma e Matt Murphy
- Role, BBC Verify
Nas redes sociais, usuários têm sugerido que os acidentes aéreos estão se tornando mais frequentes, após uma série de desastres de grande repercussão nos últimos meses.
Embora haja poucas pesquisas de opinião sobre o tema, uma enquete da Associated Press realizada em fevereiro indicou que as imagens impactantes dos acidentes circulando online afetaram, em alguma medida, a confiança de alguns consumidores dos EUA em voar.
No entanto, uma análise feita pela BBC Verify com dados dos EUA e do mundo mostra que, nas últimas duas décadas, houve uma tendência geral de queda nos acidentes aéreos.
Nos Estados Unidos, os números de acidentes aéreos foram reunidos pelo Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB na sigla em inglês) até o fim de janeiro deste ano.
Esses dados do NTSB mostram uma queda geral nos acidentes aéreos no país entre 2005 e 2024, apesar de um aumento significativo no número total de voos nesse período. Eles também revelam que o número registrado em janeiro de 2025 (52) foi menor do que em janeiro do ano passado (58) e em janeiro de 2023 (70).
Dados da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO), um órgão da ONU que monitora incidentes aéreos no mundo, indicam que o número de acidentes globais por milhão de decolagens também apresentou uma clara tendência de queda entre 2005 e 2023.
A definição de acidente aéreo adotada pela ICAO é bastante ampla e não inclui apenas casos em que passageiros ou tripulantes ficam gravemente feridos ou morrem, mas também incidentes em que a aeronave sofre danos e precisa de reparos, ou desaparece.
Os dados sobre o número de mortes em acidentes aéreos no mundo também mostram uma queda ao longo do mesmo período, embora com picos em alguns anos que refletem grandes desastres aéreos.
Em 2014, dois eventos desse tipo contribuíram para um aumento significativo.
Conjuntos de dados como este tendem a apresentar grandes variações repentinas, explicou à BBC Verify David Spiegelhalter, professor emérito de Estatística da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
“Se você conta o número de mortes em vez do número de acidentes, é inevitável que o resultado seja extremamente volátil e sensível a um único grande acidente”, disse ele.
“Eventos aleatórios não acontecem de forma uniforme — eles tendem a se agrupar. Então, infelizmente, podemos esperar que acidentes aéreos pareçam estar conectados, mesmo quando não estão.”
Sobre a série de acidentes de grande repercussão nos últimos meses, Ismo Aaltonen, ex-chefe de investigação de desastres aéreos da Finlândia, disse à BBC Verify que eles não indicam um declínio na segurança das aeronaves.
“Foi muito azar termos esse período com tantos tipos diferentes de acidentes, mas as pessoas não deveriam tirar conclusões com base nisso porque são casos muito distintos”, afirmou.
Marco Chan, ex-piloto e professor sênior na Universidade Nova de Buckinghamshire, na Inglaterra, disse à BBC Verify que tem acontecido um aumento da atenção pública sobre desastres aéreos porque “os acidentes estão recebendo cada vez mais exposição nas plataformas de mídia social”.
Um vídeo que circula no TikTok — retirado de um filme do Super-Homem — mostra o herói impedindo um jato de colidir com um estádio. A legenda diz: “Pete Buttigieg todos os dias nos últimos quatro anos, a julgar pelos acontecimentos atuais.” O vídeo viral sugere que os desastres aéreos aumentaram desde que o ex-secretário de transportes dos EUA deixou o cargo em janeiro, com a posse de Trump.
Uma série de incidentes nos últimos anos envolvendo aeronaves Boeing 737 Max também chamou muita atenção na mídia e nas redes sociais, especialmente depois que uma porta se soltou em pleno voo em janeiro de 2024.
Preocupações com esse e outros casos fizeram alguns clientes boicotarem aviões fabricados pela Boeing e provocaram um colapso no preço das ações da empresa.
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Especialistas disseram à BBC Verify que incidentes como esses, assim como grandes tragédias, são minuciosamente investigados pelas autoridades. Novos dados e detalhes obtidos a partir dos acidentes são incorporados aos simuladores de treinamento dos pilotos, para que possam se preparar para cenários semelhantes no futuro.
“Se você olhar para os simuladores hoje, verá o quão avançados eles são, parecem aeronaves de verdade”, disse Ismo Aaltonen. “É completamente diferente de quando comecei a voar, mais de 40 anos atrás.”
Os órgãos reguladores também podem impor penalidades por violações de segurança, que incluem multas, suspensões de licenças e restrições operacionais. Companhias aéreas podem ainda ser proibidas de operar em determinados países ou blocos caso não cumpram os padrões de segurança.
Apesar da recente sequência de incidentes, a viagem aérea continua sendo, de longe, a forma mais segura de transporte.
De todas as mortes relacionadas a transporte nos EUA em 2022, mais de 95% ocorreram nas estradas, segundo os dados mais recentes do Departamento de Transportes dos EUA. Menos de 1% estavam relacionadas a viagens aéreas.
E, ao observar os números em termos de mortes por distância percorrida, a segurança comparativa do transporte aéreo fica ainda mais evidente.
Em 2022, houve apenas 0,001 morte de passageiro por 100 milhões de milhas voadas (161 milhões de quilômetros) em companhias aéreas, contra 0,54 em veículos de passageiros, segundo dados mais recentes do National Safety Council (NSC), uma organização sem fins lucrativos dos EUA.
O NSC também detalha a probabilidade de morrer nos EUA por diferentes tipos de acidentes e doenças.
Enquanto havia um risco significativo de morte em vários tipos de acidentes de trânsito, a probabilidade de morrer em um acidente de avião foi considerada pequena demais para ser calculada.
Claro, as estradas em alguns países são mais perigosas do que em outros.
A Organização Mundial da Saúde estimou a taxa de mortes de trânsito em países pelo mundo baseando-se em dados de 2021.
Os números mostram que os países com o trânsito mais perigoso são Guiné (37,4 mortes por 100 mil pessoas), Líbia (34,0) e Haiti (31,3).
Mas independentemente de onde você more, o conselho de Ismo Aaltonen para os viajantes é claro.
“Tenha cuidado ao fazer o trajeto até o aeroporto”, disse ele. “Essa é a parte mais perigosa da viagem, se comparada ao próprio voo.”
Este texto foi publicado originalmente em fevereiro de 2025 e atualizado com os acidentes aéreos mais recentes.