A crueldade chocante do serial killer Peter Tobin, retratado em novo documentário da BBC
Crédito, PA Media
- Author, David Cowan
- Role, BBC Scotland
No dia em que a polícia encontrou um segundo corpo atrás de uma casa outrora ocupada por um assassino, o pai de uma adolescente desaparecida levantou a mão com os dedos cruzados, e disse que esperava que fosse sua filha.
Dinah McNicol tinha 18 anos quando desapareceu em 1991, depois de voltar de carona para Essex de um festival de música em Hampshire, no sudeste da Inglaterra.
O pai dela havia conversado com inúmeros jornalistas desde então e, por acaso, eu estava entrevistando ele quando 16 anos de uma incerteza tortuosa estavam chegando ao fim.
Ian McNicol havia ficado tão desolado que queria que sua filha fosse a pessoa em uma cova rasa, porque isso significaria que a família finalmente saberia onde ela estava, a traria de volta e a sepultaria para descansar em paz.
As palavras dele revelaram a terrível crueldade dos serial killers, e me assombram desde então.
Um novo documentário da BBC, The Hunt for Peter Tobin (“A caçada a Peter Tobin”, em tradução livre), explica como o assassinato de uma jovem estudante polonesa finalmente resolveu o mistério do que havia acontecido com Dinah e uma outra adolescente, Vicky Hamilton, de 15 anos, que havia desaparecido no centro da Escócia seis meses antes, em fevereiro de 1991.
Tobin era um criminoso sexual registrado que estava fugindo das autoridades quando matou Angelika Kluk, e escondeu seu corpo sob o piso de uma igreja de Glasgow, na Escócia, em setembro de 2006.
Na época, ele tinha 60 anos. O crime foi tão horrível que os detetives estavam convencidos de que ele já devia ter matado antes.
A polícia da região lançou a Operação Anagrama, um exercício a nível nacional que tentou estabelecer se Tobin poderia estar ligado a casos não resolvidos em todo o Reino Unido.
Em poucos meses, os policiais perceberam que ele estava morando em Bathgate quando Vicky Hamilton desapareceu na região de West Lothian, onde está localizada a cidade.
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Apesar de uma enorme investigação e dos apelos da família desesperada, 15 anos se passaram sem que nenhum vestígio de Vicky fosse encontrado.
A conexão com Tobin mudou tudo.
Cientistas forenses reexaminaram as evidências da época do desaparecimento, e encontraram DNA do filho de Tobin na bolsa de Vicky, que havia sido deixada perto da estação rodoviária de Edimburgo.
Em junho de 2007, a polícia fez uma busca na antiga casa de Tobin em Bathgate. No sótão, eles descobriram uma faca com traços do DNA de Vicky.
A Operação Anagrama acabou conectando Tobin a Dinah, que havia desaparecido no outro extremo do país, em agosto de 1991.
O cartão de banco dela havia sido usado em cidades do sudeste da Inglaterra, de Hove a Margate e Ramsgate, no condado de Kent.
O dinheiro que saiu da conta de Dinah era uma indenização que ela recebeu depois que sua mãe, Judy, morreu em um acidente de trânsito quando ela tinha seis anos.
A polícia encontrou evidências que ligavam Tobin ao cartão, e estabeleceu que ele estava morando em Margate quando Dinah não voltou para casa.
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Um dos vizinhos de Tobin se lembrou do “Peter escocês” cavando um buraco fundo no quintal por volta daquela época.
A polícia de Essex pensou que obteria respostas para Ian McNicol e sua família quando foi à antiga casa de Tobin, em Margate, em novembro de 2007 — mas, em vez de Dinah, encontrou Vicky.
Depois de cobrir a busca em Bathgate, na Escócia, viajei para o sul, para Margate, na Inglaterra, com um sentimento de descrença que era compartilhado pelos policiais escoceses que investigavam o passado de Tobin.
Todos na Escócia conheciam o rosto da sorridente colegial de cabelo Chanel.
A descoberta de seus restos mortais tão longe de casa foi horrível e desconcertante. Como ela tinha ido parar ali?
A resposta era que Tobin havia matado Vicky em Bathgate, desmembrado seu corpo e levado seus restos mortais com ele quando se mudou para uma nova casa, a mais de 750 quilômetros de distância, no sul da Inglaterra.
Nos dias que se seguiram, enquanto a polícia continuava sua busca por Dinah, em Margate, entrevistei o pai dela em sua residência em Tillingham, um pequeno vilarejo de Essex construído em torno de uma igreja normanda.
Crédito, PA Media
Ian era um homem simpático de quase 70 anos, um músico aposentado de Glasgow que batizou sua filha com o nome de um clássico do jazz.
Com o passar dos anos, o desaparecimento de Dinah prejudicou sua saúde. Sentamos e começamos a filmar.
“Quando perdi minha esposa, soubemos que ela estava morta porque tivemos que enterrá-la”, ele disse.
“Passamos pelo processo normal de luto.”
“Quando um membro da sua família desaparece, é 20 vezes pior do que a morte, porque você não sabe de nada, e todo tipo de coisa passa pela sua cabeça.”
Ele estava se consolando com o fato de que outra família, exatamente na mesma situação, havia sido ajudada, embora sua filha não tivesse sido encontrada.
Ian virou-se para a câmera para se dirigir à família de Vicky, e disse: “Se vocês estiverem assistindo, eu e minha família desejamos boa sorte. Desejamos tudo de bom a vocês”.
A campainha da porta tocou. Outro jornalista nos disse que a polícia havia acabado de anunciar a descoberta de um segundo corpo.
Ian concordou em continuar a entrevista, levantou a mão direita com os dedos cruzados, e afirmou: “Se eles disseram isso, por favor, que seja a Dinah, e nos tire desse sofrimento”.
“Eu a enterraria ao lado da mãe. Então, por favor, que seja a Dinah.”
Mais tarde, depois que a polícia confirmou que os restos mortais eram da filha dele, Ian disse que poderia morrer em paz. Ele faleceu em 2014.
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No documentário da BBC, a irmã mais nova de Vicky, Lindsay Brown, fala sobre o impacto que o desaparecimento dela teve sobre sua mãe, Jeanette. Dois anos após o desaparecimento de Vicky, sua mãe morreu, segundo a família, de tristeza.
Imagens de arquivo mostram Lindsay lendo uma declaração para a imprensa do lado de fora do Tribunal Superior em Dundee, em 2008, no dia em que Tobin foi condenado pelo assassinato de Vicky, ao lado da irmã mais velha, Sharon, e do irmão gêmeo, Lee.
Considerando tudo o que eles haviam passado, o que ela fez naquele dia foi tão corajoso quanto difícil de assistir.
Ela disse: “Vicky era muito mais do que uma garota que foi sequestrada e morta por um estranho, ou uma garota em um cartaz de desaparecida. Nós sempre nos lembraremos de Vicky como ela viveu, não como ela morreu.”
Os detetives que investigavam o passado de Tobin tinham certeza de que ele havia feito outras vítimas. Eles fizeram tudo o que podiam para encontrar respostas para outras famílias, sem sucesso.
Tobin levou seus segredos para o túmulo — ele estava cumprindo três sentenças de prisão perpétua quando morreu em 2022.
Ninguém se apresentou para reivindicar seu corpo. Suas cinzas foram jogadas no mar.
Quando fui entrevistado para o documentário da BBC, o produtor perguntou o que eu pensei quando ouvi a notícia.
Eu disse a ele que tinha ficado satisfeito, e que esperava que sua morte não tivesse sido agradável. Será que eu deveria ter sido tão sincero? Será que passei dos limites? Não sei.
O que eu sei é que nunca vou me esquecer de Ian McNicol, nem do que ele me disse há 17 anos: “Por favor, que seja a Dinah”.