Minha impressão sobre o príncipe Harry durante entrevista exclusiva à BBC
- Author, Nada Tawfik
- Role, BBC News
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A seguir, confira o relato da jornalista Nada Tawfik, jornalista da BBC que fez a entrevista com o príncipe Harry, duque de Sussex, na qual ele disse que “adoraria uma reconciliação” com a família real e se disse “devastado” por perder um processo judicial sobre sua segurança no Reino Unido:
O amanhecer em uma bela casa com paisagismo luxuoso em Santa Bárbara, na Califórnia (EUA), é um momento e um lugar estranhos para conhecer um príncipe britânico.
No entanto, o Duque de Sussex, notoriamente, se afastou da rotina habitual da realeza. É uma decisão que ele diz ter sido forçado a tomar.
A casa não era dele, mas sim um ponto de encontro conveniente a poucos quilômetros de onde ele mora com sua esposa Meghan e seus dois filhos – Archie, de cinco anos, e Lilibet, de três.
Enquanto montávamos nossas câmeras na sala de estar, acessávamos as últimas atualizações do judiciário e as notícias das nossas equipes em Londres.
Enquanto isso, fomos avisados para manter as portas fechadas para que os pavões barulhentos na varanda não entrassem.
Começamos com uma breve conversa informal, o que sempre ajuda a quebrar o gelo antes de uma conversa formal, mas não tocamos no assunto em questão até que as câmeras começassem a filmar (leia mais abaixo sobre a decisão judicial).
O Príncipe Harry estava ansioso para compartilhar seus sentimentos, apesar do escrutínio crítico que o persegue. Como entrevistadora, eu também estava profundamente ciente desse escrutínio.
Sentado ali, de perto, havia muito a ser desvendado. Senti que era importante perguntar por que os contribuintes deveriam pagar por sua segurança, por que uma mudança de status não se justificava, visto que ele não era um membro da realeza em atividade, e por que a proteção caso a caso o fazia sentir-se em maior risco.
Ele não estava na defensiva nem combativo, e queria abordar cada um desses pontos.
Da mesma forma, era importante dar espaço para ele compartilhar sua perspectiva. Porque, independentemente do que alguém pense sobre o duque, ele levanta questões interessantes para o público refletir.
Ele perguntou por que algumas pessoas se sentiam confortáveis com ele não ter segurança de alto nível, mas concordavam com a concessão de proteção vitalícia a outros funcionários públicos ao deixar o cargo, independentemente do risco contra eles.
O príncipe Harry também levantou questões sobre o dever de cuidado, visto que ele não pode escapar de quem é, e sobre a segurança nacional. Se algo acontecesse com ele – o filho do rei ou sua família – o que aconteceria?
Com o pé batendo frequentemente enquanto falava, ele foi surpreendentemente franco e direto. Sua segurança, ou a falta dela, era o obstáculo que impedia uma reconciliação com sua família, disse ele. Se a Família Real concorda com ele é outra questão.
O Palácio de Buckingham afirmou: “Todas essas questões foram examinadas repetida e meticulosamente pelos tribunais, com a mesma conclusão em todas as ocasiões.”
O Ministério do Interior, por sua vez, disse estar “satisfeito” com o julgamento favorável ao governo, acrescentando que o sistema de segurança do Reino Unido é “rigoroso e proporcional”.
A costa central da Califórnia, com suas paisagens deslumbrantes, não é um lugar ruim para se chamar de lar.
O problema é que o Príncipe Harry tem outra casa — uma da qual ele diz sentir falta, mas na qual não se sente seguro.
Resolver esse problema não tem sido possível nos tribunais.
A decisão de sexta-feira deixa o príncipe, no glamour e conforto da Califórnia, na esperança de uma mudança de ideia nos palácios de Londres.
Crédito, Reuters
A decisão da justiça
O príncipe Harry falou à BBC logo após perder sua mais recente ação judicial contra o governo britânico sobre o nível de segurança a que ele e sua família têm direito durante suas visitas ao Reino Unido.
O Tribunal de Apelação rejeitou o caso do príncipe, que dependia da decisão de um comitê oficial de remover sua elegibilidade para proteção automática e completa, como a que outros membros da realeza recebem.
Na sexta-feira (2/5), o tribunal decidiu que o príncipe Harry apresentou argumentos “fortes” sobre o nível de ameaça que ele e sua família enfrentam, mas afirmou que seu “sentimento de queixa” não “se traduzia em um argumento legal”.
Sua queixa legal girava em torno de um comitê chamado Proteção da Realeza e Figuras Públicas (Ravec, na sigla em inglês), que autoriza a segurança de membros da realeza em nome do Ministério do Interior, e era presidido na época por Sir Richard Mottram.
De acordo com os regulamentos do comitê, argumentou o príncipe Harry, seu caso deveria ter sido apresentado ao Conselho de Gestão de Riscos (RMB) do Ravec, que teria avaliado as ameaças à sua segurança e à de sua família — mas isso não aconteceu.
Na sexta-feira, juízes seniores disseram que o comitê havia divergido da política ao tomar sua decisão de 2020 sobre a segurança do príncipe, mas concluíram que havia sido “sensato” fazê-lo devido à complexidade de suas circunstâncias.