As fake news sobre o apagão na Europa — e o que realmente se sabe sobre o blecaute
Crédito, Rodrigo Jimenez/EPA-EFE
Um enorme apagão atingiu Portugal e Espanha nesta segunda-feira (28/4), provocando confusão e problemas em diversos serviços nos países afetados. Andorra e partes da França também relataram cortes de energia.
Assim que parte da Península Ibérica ficou sem energia, uma onda de desinformação tomou conta das redes sociais.
Mensagens no WhatsApp, vídeos no TikTok e até agências internacionais transmitiram conteúdo falso ou descontextualizado sobre o blecaute.
Um texto atribuído à CNN Internacional, assinado desde Bruxelas, apontava “grupos russos apoiados pelo Estado” como responsáveis por um suposto ataque cibernético que teria atingido 15 países europeus.
O artigo incluía declarações falsas de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, e declarações falsas do Kremlin, da Otan e de uma coletiva de imprensa que nunca ocorreu.
A CNN não mantém correspondente em Bruxelas, e o texto não foi publicado no veículo americano nem na subsidiária portuguesa. A CNN Portugal, inclusive, publicou um texto em seu site e esclareceu ao vivo que a informação é falsa.
A causa do apagão ainda não está clara, mas não há indícios de um ataque cibernético, afirmou Antonio Costa, presidente do Conselho Europeu.
“As operadoras de rede elétrica de ambos os países estão trabalhando para encontrar a causa e restaurar o fornecimento de energia elétrica”, escreveu no X.
“Neste momento, não há indícios de qualquer ataque cibernético.”
Crédito, Andreu Esteban/EPA-EFE
Notícias com informações ainda não confirmadas tentaram explicar a origem do apagão.
Uma reportagem da Reuters atribuiu o blecaute a um “fenômeno atmosférico raro” chamado “vibração atmosférica induzida”.
A reportagem atribuia a informação às Redes Energéticas Nacionais (REN), responsável pela distribuição de energia em Portugal.
No entanto, a distribuidora declarou que ainda é cedo para determinar as causas do apagão e reforçou que “todas as informações de outras fontes devem ser desconsideradas”.
Mas a notícia foi republicada por diversos veículos de notícias no mundo, inclusive no Brasil. Por volta das 15h, a agência retificou o erro.
Mais cedo, o chefe de operações da operadora de rede REN, Eduardo Prieto, em uma coletiva de imprensa, afirmou que o restabelecimento do fornecimento de energia elétrica na Espanha poderia levar de seis a dez horas.
Em aplicativos de mensagens, notícias antigas também ressurgiram.
Uma notícia de 2021, sobre um avião de combate a incêndios que danificou uma linha de alta tensão na França, provocando cortes de energia em Portugal e Espanha, foi compartilhada novamente no WhatsApp e em outros canais.
Embora realmente tenha acontecido, a história não tem nenhuma relação com o apagão desta segunda-feira.
Crédito, Chema Moya/EPA-EFE
O reestabelecimento da energia foi outro alvo de desinformação.
Em vídeos no TikTok, ganhou força a versão de que a “reposição total da energia elétrica em Portugal levaria pelo menos 72 horas”.
A mensagem atribuía a estimativa às distribuidoras de energia, sugerindo que a “re-energização gradual” seria tão demorada que consumidores ficariam até o fim de semana sem luz.
Em nota oficial, tanto a REN quanto a E-Redes desmentiram categoricamente qualquer previsão de três dias para a normalização do fornecimento.
As gestoras reiteraram que “não há como antecipar prazos precisos” e que o restabelecimento será feito em fases, mas certamente muito antes das 72 horas alegadas.
A Red Eléctrica, distribuidora espanhola, informou que a reposição da energia levaria entre seis e 10 horas na Espanha.
Já a REN, distribuidora portuguesa, disse ser “impossível prever” quando situação estará normalizada.
No início da tarde, a luz já havia voltado em algumas regiões da Espanha. O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, afirmou que a eletricidade foi restabelecida em algumas áreas do norte e do sul do país.