Quem será o próximo papa? Os principais candidatos da disputa
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O primeiro ato dessa sequência de cerimônias, coordenadas pelo camerlengo — autoridade responsável por governar o Vaticano durante a vacância do trono papal —, o cardeal Kevin Farrel, é declarar oficialmente a vacância da Sé após a confirmação da morte do papa. Isso já ocorreu no atual processo.
A partir desse momento, entram em cena dois fatores fundamentais para a escolha do novo papa: o legado deixado pelo pontífice anterior e o rumo que se deseja para o catolicismo e sua influência espiritual nos próximos anos.
Para que essa definição ocorra, será preciso alcançar um consenso majoritário entre os 135 cardeais que participarão do conclave (embora existam 252 cardeais no total, apenas aqueles com menos de 80 anos têm direito a voto).
A decisão sobre quem será o próximo papa pode ter um impacto profundo na Igreja Católica e nos 1,4 bilhão de católicos romanos batizados ao redor do mundo.
E tudo indica que será um processo altamente imprevisível e aberto, por uma série de razões.
O Colégio de Cardeais se reunirá em conclave na Capela Sistina para debater e votar em seus candidatos preferidos, até que um único nome prevaleça.
Com 80% dos cardeais nomeados pelo papa Francisco, essa será a primeira vez que eles elegem um papa — e o farão com uma perspectiva global ampla.
Os cardeais estão distribuídos da seguinte forma: 14 da América do Norte, 53 da Europa, 23 da Ásia, 23 da América Latina, 18 da África e 4 da Oceania.
“É preciso ter em mente que a Igreja Católica que Francisco deixa como legado é uma entidade global, que deixou de estar centrada na Europa”, disse à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, Massimo Faggioli, especialista em teologia da Universidade de Villanova, nos Estados Unidos.
“E isso se reflete no grupo de cardeais encarregado de escolher o sucessor: é muito mais numeroso e, sobretudo, mais diverso do que aquele que elegeu Francisco em 2013”, acrescentou.
E embora o colégio esteja dominado por nomeações de Francisco, essas indicações não foram exclusivamente de perfil “progressista” ou “tradicionalista”.
Por isso, nunca foi tão difícil prever quem será eleito o próximo papa.
Será que os cardeais escolherão um papa africano ou asiático, ou preferirão um veterano da administração do Vaticano?
A seguir, alguns dos nomes mais citados como possíveis sucessores de Francisco — e é provável que mais candidatos surjam nos próximos dias.
Pietro Parolin
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Cardeal italiano de fala mansa, Pietro Parolin foi secretário de Estado do Vaticano sob o pontificado de Francisco — ou seja, o principal conselheiro do papa. O cargo também o coloca à frente da Cúria Romana, a administração central da Igreja.
Tendo atuado, na prática, como um vice-papa, ele é visto por muitos como um dos favoritos.
Alguns o consideram mais inclinado a priorizar a diplomacia e uma visão global do que a pureza do dogma católico. Para seus críticos, isso é um problema; para seus apoiadores, uma virtude.
Mas Parolin já criticou a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo no mundo, chamando de “uma derrota para a humanidade” o referendo histórico que aprovou a medida na Irlanda, em 2015.
Apesar de ser um dos favoritos, Parolin conhece bem o ditado italiano que expressa a incerteza do conclave: “Quem entra papa sai cardeal.”
Dos 266 papas que a Igreja já teve, 213 foram italianos. E embora não haja um papa italiano há 40 anos, a guinada da cúpula da Igreja para fora da Itália e da Europa pode indicar que ainda não é hora de um novo.
Luis Antonio Gokim Tagle
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Ao contrário de Parolin, o filipino tem décadas de experiência pastoral — ou seja, liderou a Igreja diretamente entre o povo, e não como diplomata do Vaticano ou especialista em Direito Canônico.
A Igreja Católica é extremamente influente nas Filipinas, onde cerca de 80% da população é católica. Atualmente, o país conta com um número recorde de cinco cardeais — o que pode se traduzir em uma frente de apoio importante, caso todos respaldem Tagle.
Ele poderia se tornar o primeiro papa asiático.
Considerado moderado nos parâmetros da Igreja, já foi apelidado de “Francisco asiático” por seu compromisso com questões sociais e empatia com migrantes, características que o aproximavam do falecido papa.
Tagle é contra o aborto, que classifica como “uma forma de assassinato” — posição alinhada com a doutrina da Igreja, que considera que a vida começa na concepção. Também já se manifestou contra a eutanásia.
Mas, em 2015, quando era arcebispo de Manila, defendeu uma reavaliação da postura “severa” da Igreja diante de pessoas LGBTQIA+, divorciadas e mães solo. Disse que esse rigor causou danos duradouros e deixou essas pessoas com a sensação de terem sido “marcadas”, afirmando que cada indivíduo merece compaixão e respeito.
Tagle já era considerado um papável no conclave de 2013, que elegeu Francisco.
Questionado há dez anos sobre essa possibilidade, ele respondeu: “Levo como uma piada! Acho engraçado”.
Fridolin Ambongo Besungu
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É bastante possível que o próximo papa venha da África, onde a Igreja Católica continua ganhando milhões de fiéis. Um dos principais nomes é o cardeal Ambongo, da República Democrática do Congo (RDC).
Arcebispo de Kinshasa há sete anos, foi nomeado cardeal por Francisco.
É um conservador cultural, contrário à bênção de uniões entre pessoas do mesmo sexo, que considera “contraditórias às normas culturais e intrinsecamente más”.
Embora o cristianismo seja a religião majoritária na RDC, cristãos têm sido alvos de perseguições e mortes por parte do grupo jihadista Estado Islâmico e de rebeldes associados. Nesse contexto, Ambongo é visto como um defensor aguerrido da Igreja.
Ainda assim, em uma entrevista em 2020, ele defendeu o pluralismo religioso, afirmando: “Protestantes devem ser protestantes, muçulmanos devem ser muçulmanos. Vamos trabalhar juntos. Mas cada um precisa manter sua identidade.”
Esse tipo de posicionamento pode fazer alguns cardeais questionarem se ele abraça plenamente a missão da Igreja — que inclui a difusão da fé católica pelo mundo.
Peter Kodwo Appiah Turkson
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Se for escolhido, o influente cardeal Turkson será o primeiro papa africano em 1,5 mil anos.
Assim como Ambongo, já declarou não querer o cargo. “Não sei se alguém aspira a ser papa”, disse à BBC em 2013.
Questionado se a África teria um bom argumento para eleger o próximo papa, considerando o crescimento da Igreja no continente, respondeu que esse tipo de critério “complica as coisas”.
Primeiro ganês a ser nomeado cardeal — ainda em 2003, por João Paulo 2º —, Turkson já era cotado como papável no conclave de 2013. Na época, chegou a ser o favorito nas casas de apostas.
Guitarrista e ex-integrante de uma banda de funk, é conhecido por sua presença energética.
Como muitos cardeais africanos, tende ao conservadorismo. No entanto, se posicionou contra a criminalização de relações homoafetivas em países africanos, incluindo sua terra natal, Gana.
Em entrevista à BBC em 2023, quando o Parlamento ganês debatia um projeto de lei que previa punições severas à população LGBTQIA+, Turkson afirmou que a homossexualidade não deveria ser tratada como crime.
Em 2012, foi acusado de fazer previsões alarmistas sobre o avanço do islamismo na Europa durante uma conferência de bispos no Vaticano. Mais tarde, pediu desculpas.
Peter Erdo
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Do ponto de vista ideológico, o atual arcebispo de Budapeste, capital húngara, seria uma escolha muito mais conservadora do que foi o último pontificado.
Admirado por seus colegas europeus — que o elegeram duas vezes presidente da Conferência Episcopal Europeia, cargo que já não ocupa —, o cardeal húngaro se posiciona contra a abertura da Igreja em temas como o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a ordenação de mulheres.
Erdo também se opôs ao apelo feito por Francisco em 2015 para que as igrejas abrissem suas portas a migrantes, argumentando que isso poderia aumentar “os casos de tráfico humano” — um posicionamento em claro alinhamento com o presidente húngaro Viktor Orbán, cujas políticas anti-imigração têm sido criticadas por organizações de defesa dos direitos humanos.
Apesar disso, o cardeal conseguiu construir uma relação sólida com Francisco e com diversos líderes católicos na África, o que pode lhe render, somado aos votos europeus, uma chance real quando começarem as votações.
Angelo Scola
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Apenas cardeais com menos de 80 anos podem votar no conclave, mas Angelo Scola, de 83 anos, ainda pode ser eleito.
O ex-arcebispo de Milão era um dos favoritos em 2013, quando Francisco foi escolhido, mas acredita-se que ele tenha sido vítima do ditado que diz que quem entra no conclave como papa sai como cardeal.
Seu nome voltou a circular antes do conclave por causa de um livro que ele está lançando esta semana sobre a velhice.
O livro conta com um prefácio escrito pelo papa Francisco pouco antes de ser internado no hospital, no qual ele afirma que “a morte não é o fim de tudo, mas o começo de algo”.
As palavras de Francisco demonstram um afeto genuíno por Scola, mas o colégio de cardeais pode não considerar o foco na velhice como ideal para um novo papa.
Reinhard Marx
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O principal clérigo católico da Alemanha também é bastante próximo dos bastidores do Vaticano.
O arcebispo de Munique e Freising foi escolhido como conselheiro quando Francisco se tornou papa em 2013. Durante 10 anos, ele aconselhou o papa sobre a reforma da Igreja e ainda supervisiona a reforma financeira do Vaticano.
Ele defende uma abordagem mais acolhedora em relação a pessoas homossexuais ou transgênero no ensino da Igreja Católica.
Mas, em 2021, ofereceu sua renúncia devido a erros graves no enfrentamento dos casos de abuso sexual infantil na Igreja Católica da Alemanha. Essa renúncia foi rejeitada por Francisco.
Dois anos atrás, ele deixou o Conselho de Cardeais — o órgão consultivo mais importante do papa — em um movimento visto na Alemanha como um revés em sua carreira na Igreja.
Marc Ouellet
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O cardeal Ouellet já foi visto duas vezes como um possível candidato ao papado, em 2005 e 2013.
Durante anos, ele comandou o Dicastério para os Bispos do Vaticano, responsável por escolher candidatos ao episcopado em todo o mundo, tendo, assim, desempenhado um papel significativo e formativo na seleção dos futuros membros da hierarquia católica.
Como outro octogenário, ele não poderá participar diretamente do conclave, o que pode dificultar suas chances.
Ouellet é visto como um conservador com uma visão moderna, fortemente a favor da manutenção do celibato sacerdotal.
Ele se opõe à ordenação de mulheres como sacerdotes, mas defende uma maior participação feminina na administração da Igreja Católica, afirmando que “Cristo é homem, a Igreja é feminina”.
Robert Prevost
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Será que o papado poderia ir, pela primeira vez, para um americano?
O cardeal Prevost, nascido em Chicago, certamente é visto como alguém que possui muitas das qualidades necessárias para o cargo.
Há dois anos, o papa Francisco escolheu Prevost para substituir Marc Ouellet como prefeito do Dicastério para os Bispos do Vaticano, confiando a ele a responsabilidade de selecionar a próxima geração de bispos.
Ele trabalhou por muitos anos como missionário no Peru antes de ser nomeado arcebispo naquele país.
Prevost não é visto apenas como um americano, mas também como alguém que presidiu a Pontifícia Comissão para a América Latina.
É considerado um reformista, mas, aos 69 anos, pode ser visto como jovem demais para o papado. Seu período como arcebispo no Peru também foi marcado por acusações de acobertamento de casos de abuso sexual, o que foi negado por sua diocese.
Robert Sarah
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Muito querido pelos conservadores na Igreja, o cardeal Sarah é conhecido por sua firme adesão à doutrina e à liturgia tradicional, sendo frequentemente visto como opositor das inclinações reformistas do papa Francisco.
Filho de um colhedor de frutas, Sarah se tornou o arcebispo mais jovem aos 34 anos, quando o papa João Paulo 2º o nomeou prelado em Conacri, capital da Guiné.
Ele teve uma longa e impressionante trajetória, aposentando-se em 2021 como chefe do escritório do Vaticano responsável pelos ritos litúrgicos da Igreja Católica.
Embora não seja considerado um dos favoritos ao papado, pode conquistar forte apoio dos cardeais conservadores.
Pierbattista Pizzaballa
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Ordenado na Itália aos 25 anos, Pizzaballa mudou-se para Jerusalém no mês seguinte e vive lá desde então.
O papa Francisco o nomeou Patriarca Latino de Jerusalém há cinco anos e, mais tarde, cardeal. Pizzaballa já descreveu a cidade como “o coração da vida deste mundo”.
Seus colegas cardeais certamente ficaram impressionados com seu profundo entendimento sobre israelenses e palestinos, especialmente diante da guerra em curso em Gaza.
No entanto, sua idade relativamente jovem e a pouca experiência como cardeal podem pesar contra ele — assim como sua afinidade com Francisco, especialmente entre os cardeais que buscam uma mudança de rumo na liderança da Igreja.
Michael Czerny
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O cardeal Czerny foi nomeado cardeal pelo papa Francisco e, assim como ele, é jesuíta — uma das principais ordens da Igreja Católica, conhecida por seu trabalho missionário e de caridade em todo o mundo.
Embora tenha nascido na antiga Tchecoslováquia (país que se dividiu entre República Tcheca e Eslováquia), sua família se mudou para o Canadá quando ele tinha dois anos.
Ele atuou amplamente na América Latina e na África, onde fundou a Rede Jesuíta Africana de Combate à Aids e lecionou no Quênia.
Czerny é bem visto entre os setores progressistas da Igreja e era considerado próximo do papa Francisco. Atualmente, é o chefe do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, no Vaticano.
Apesar de ser um candidato forte, parece improvável que os cardeais escolham um segundo papa jesuíta consecutivo.
Com informações de Aleem Maqbool, Rebecca Seales e Paul Kirbye Alejandro, da BBC News, e Millán Valencia, da BBC News Mundo