Morre Papa Francisco: 7 frases que ajudam a explicar sua vida e papado
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“Eu não queria ser papa.”
Foi assim que o papa Francisco respondeu em junho de 2013, logo após sua eleição no conclave, durante uma audiência com alunos de escolas jesuítas em Roma.
A pergunta foi feita por uma criança que queria saber o que o levou a se tornar o sucessor de Pedro.
Uma das características distintivas do pontificado argentino foram suas declarações, muitas delas revolucionárias para a estrutura da Igreja Católica e que, em alguns momentos, marcaram uma ruptura com seus antecessores.
Confira algumas de suas citações mais notáveis de seu pontificado de 12 anos.
1. “Se uma pessoa é gay, busca o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”
Essa é, talvez, uma das frases que mais reações gerou durante seu pontificado.
A frase foi dita pelo papa Francisco no voo que o trouxe do Rio de Janeiro para Roma, após viagem ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude em julho de 2013.
“Se uma pessoa é gay, busca o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la? O Catecismo da Igreja Católica explica e diz que tais pessoas não devem ser marginalizadas e devem ser integradas à sociedade”, disse Francisco aos jornalistas que o acompanhavam.
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A frase, que foi ecoada por veículos de comunicação do mundo todo, não foi a única na qual ele se referiu ao tema da homossexualidade.
Em 2016, por exemplo, ele disse que a Igreja deveria pedir perdão aos homossexuais por tê-los “marginalizado”.
Mas, embora talvez um de seus maiores legados seja ter autorizado a bênção de casais do mesmo sexo em dezembro de 2023, ele também foi enfático ao salientar que essa bênção não deve ser confundida com o sacramento do matrimônio e ao insistir que a homossexualidade é “um pecado”.
2. “Como eu gostaria de uma Igreja pobre… e para os pobres.”
Quando o cardeal Bergoglio foi eleito papa, ele pretendia desde o início enviar uma mensagem clara ao mundo de que queria uma Igreja mais austera, que servisse aos mais necessitados.
Por isso, ele escolheu seu nome como pontífice em homenagem a Francisco de Assis, fundador da ordem franciscana e um homem que defendia a pobreza e a austeridade como modos de vida.
Em sua primeira coletiva de imprensa após sua eleição, em março de 2013, ele enfatizou essa mensagem.
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“Francisco era um homem pobre. Como eu gostaria que a Igreja fosse pobre… e para os pobres”, disse ele no Auditório Paulo 6º, no Vaticano.
Nesse sentido, ele também deixou claro que essa era a mensagem que todos os pastores da Igreja deveriam replicar.
“Dói ver um padre ou uma freira com um carro de último modelo. Eles precisam cumprir seu voto de pobreza”, disse ele em outra coletiva de imprensa em julho de 2013.
3. “Algumas pessoas acreditam que para sermos bons católicos temos que nos reproduzir como coelhos, mas não.”
Em janeiro de 2015, o próprio Francisco divulgou a história de uma mulher em uma paróquia de Roma que estava sendo repreendida por estar grávida de seu oitavo filho, depois de ter tido sete filhos por cesariana.
O padre disse que isso era tentar a Deus, que a mulher poderia morrer naquela gravidez e deixar sete filhos órfãos, ao que ela respondeu que “confiava em Deus”.
Questionado por jornalistas sobre a posição da Igreja sobre o assunto, o papa adotou uma abordagem diferente da tradicional de “sede fecundos e multiplicai-vos” atribuída ao catolicismo.
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“Deus lhe dá os meios, seja responsável. Algumas pessoas acreditam, e me desculpem a palavra, que para sermos bons católicos precisamos ser como coelhos. Não! Paternidade responsável”, respondeu ele.
Ele até se aventurou a dar números.
“Acho que o número de três por família é o que os técnicos dizem ser importante para manter a população”, acrescentou.
Apesar disso, ele manteve a posição da Igreja contra métodos contraceptivos, com algumas exceções específicas, como o uso de preservativos para evitar a disseminação de doenças como zika.
No entanto, ele apoiou métodos naturais para prevenir a gravidez, como a abstinência.
4. “O abuso infantil é uma doença”
O escândalo em torno do acobertamento de abusos infantis na Igreja Católica marcou o pontificado de Francisco tanto quanto o de seus antecessores, João Paulo 2º e Bento 16º.
No caso do Papa argentino, ele promoveu uma série de reformas, não apenas para evitar que os abusos voltassem a ocorrer, mas também para adiantar as reparações às vítimas.
Em fevereiro de 2017, foi publicada uma entrevista na revista La Civilta Cattolica, na qual Francisco abordou vários tópicos, incluindo o tratamento de casos de pedofilia dentro da Igreja.
“O abuso infantil é uma doença. E precisamos nos esforçar mais para selecionar candidatos que queiram ser padres”, declarou.
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A questão até o levou a emitir um pedido público de desculpas.
“Infelizmente, há um número considerável de vítimas. Gostaria de expressar minha tristeza e dor pelo trauma que sofreram”, disse ele durante uma audiência papal em outubro de 2021.
“Essa também é a minha vergonha, a nossa vergonha, a minha vergonha, pelo fracasso da Igreja por tanto tempo em colocá-los no centro de suas preocupações”, acrescentou.
Entre suas medidas concretas está a abolição, em 2019, do chamado “segredo pontifício” em casos de violência ou abuso sexual cometidos por clérigos, permitindo que a Igreja Católica compartilhe “queixas, testemunhos e documentos processuais” com as autoridades civis que os investigam.
5. “Em vez de justiça social, spray de pimenta.”
Francisco, que nunca viajou à Argentina durante seu papado, sempre deixou claro que estava ciente do que estava acontecendo em seu país de origem.
Com o atual presidente, Javier Milei, houve vários momentos tensos.
Uma delas foi quando Milei, no meio de sua campanha presidencial, chamou o Sumo Pontífice de “enviado do diabo na Terra”.
Pouco depois, Milei pediu desculpas ao papa, e Francisco recebeu o presidente argentino em seu escritório no Vaticano.
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Outro momento ocorreu durante a repressão a uma mobilização realizada pelo governo argentino em setembro de 2024.
A manifestação foi liderada por aposentados que reivindicavam um aumento em suas pensões, que foram afetadas pela crise econômica do país.
Um dos incidentes que chamou a atenção do papa foi quando um policial lançou spray de pimenta em uma menina que estava com a mãe no protesto.
“Trabalhadores, pessoas reivindicando seus direitos nas ruas. E a polícia os repeliu com a coisa mais cara que existe, aquele spray de pimenta de primeira qualidade”, disse o pontífice em um discurso público.
“O governo se manteve firme e, em vez de gastar com justiça social, gastaram com spray de pimenta”, acrescentou.
Embora o governo de Milei tenha declarado que “não compartilhava” das críticas de Francisco, observou na época que as relações com o papa “eram fantásticas”.
6. “Quem pensa em construir muros e não em construir pontes não é cristão.”
Quando Donald Trump iniciou sua primeira campanha presidencial, ele prometeu construir um muro na fronteira entre os EUA e o México para impedir que migrantes cruzassem o país vindos do sul.
Isso fez com que muitos líderes mundiais se manifestassem. Francisco estava entre eles.
Ao comentar a proposta, ele apelou para o lado religioso do presidente dos EUA, que é um cristão declarado.
“Quem pensa em construir muros, quaisquer muros, e não em construir pontes, não é cristão. Isso não está nos Evangelhos”, disse o papa em 2016.
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Agora, diante do novo mandato e da radicalização das políticas de imigração, Francisco apelou a Trump e seu governo.
“Não devemos ceder a narrativas que discriminam e causam sofrimento desnecessário entre nossos irmãos e irmãs imigrantes e refugiados”, disse o papa em uma mensagem aos bispos e padres que cumprem sua missão pastoral nos EUA.
A resposta da Casa Branca também foi categórica.
“Quero que ele se concentre na Igreja Católica e deixe a fiscalização das fronteiras conosco”, disse o czar da imigração do governo Trump, Tom Homan, aos repórteres.
7. “Ontem, crianças foram bombardeadas. Isto não é uma guerra. É crueldade.”
A guerra em Gaza, que deixou mais de 60 mil mortos desde que começou com a incursão do Hamas no sul de Israel em outubro de 2023, também chamou a atenção do papa Francisco.
Em diversas ocasiões, o pontífice pediu uma solução negociada para todos os conflitos ao redor do mundo e pediu especificamente que o governo israelense e a Autoridade Palestina se sentassem e conversassem para chegar a um acordo pacífico.
No entanto, as mortes de crianças, principalmente na Faixa de Gaza, provocaram vários pedidos de atenção do papa.
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“Ontem, crianças foram bombardeadas. Isto não é uma guerra. É crueldade”, disse Francisco em 21 de dezembro de 2024, em resposta ao bombardeio israelense que causou a morte de 25 crianças em Gaza.
“Quero dizer isso porque toca meu coração”, acrescentou.
Francisco também foi um dos líderes mundiais que pediu uma investigação para saber se Israel cometeu atos de genocídio durante este conflito.