Desigualdade: por que mais de 30% das crianças do Reino Unido vivem na pobreza
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O número de crianças em situação de pobreza no Reino Unido atingiu o nível mais alto desde o início dos registros comparativos em 2002.
Em abril de 2024, havia 4,45 milhões de crianças vivendo em famílias de baixa renda relativa, uma vez deduzidos os gastos com moradia — a medida padrão do governo para a pobreza.
O dado, divulgado pelo Departamento de Trabalho e Previdência, representa um aumento de 100 mil crianças em relação ao ano anterior — e equivale a 31% da população infantil do Reino Unido.
Este número aumentou significativamente desde 2021, e o Grupo de Ação contra a Pobreza Infantil (CPAG, na sigla em inglês) prevê que 4,8 milhões de crianças vão estar em situação de pobreza até o fim do mandato deste governo em 2029-2030.
O CPAG pede que o governo acabe com o limite de dois filhos para os benefícios concedidos às famílias e suspenda as recentes propostas de cortes mais amplos nos benefícios em sua próxima estratégia de combate à pobreza infantil.
O limite de dois filhos impede que os pais solicitem o crédito universal ou o crédito fiscal para um terceiro filho, com algumas poucas exceções.
A definição de pobreza relativa — que é medida tanto antes quanto depois dos gastos com moradia — se refere a pessoas que vivem em domicílios com renda inferior a 60% da média nacional.
Em paralelo, o governo escocês não atingiu suas metas de redução da pobreza infantil para 2023-2024.
Um enorme desafio
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“Os dados mais recentes são um duro lembrete da dimensão da privação entre as famílias, com cerca de um terço das crianças na Grã-Bretanha vivendo atualmente na pobreza”, afirmou Adam Corlett, economista principal do think tank Resolution Foundation.
“Isso antes de qualquer impacto adicional dos novos cortes de benefícios e das perspectivas de uma queda no padrão de vida, que devem reduzir a renda da metade mais pobre das famílias em idade ativa em 500 libras (R$ 3,7 mil) nos próximos cinco anos.”
Em discurso recente na Câmara dos Comuns, o ministro do Trabalho e Previdência britânico, Stephen Timms, disse que os números “mostram o enorme desafio” que o “altíssimo nível de pobreza infantil deixado pelo governo anterior” representa para o Partido Trabalhista.
“Vamos abordar essa questão”, ele acrescentou.
A ministra das Finanças, Rachel Reeves, confirmou recentemente uma reformulação no sistema de benefícios.
Isso inclui a redução pela metade dos benefícios por incapacidade para novos requerentes e critérios mais rígidos em relação à chamada Remuneração para Independência Pessoal (PIP, na sigla em inglês) para aqueles com condições de saúde física ou mental crônicas.
De acordo com a avaliação de impacto do próprio governo, mais 250 mil pessoas, incluindo 50 mil crianças, vão ser levadas à situação de pobreza relativa devido a essas mudanças.
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Nos três anos até 2024, as taxas mais altas de pobreza infantil, depois de deduzidos os custos de moradia, foram registradas no condado de West Midlands, no centro da Inglaterra, e em Londres — embora os níveis da capital estivessem entre os mais baixos, se a moradia não fosse levada em conta.
Uma em cada cinco famílias com um filho estava vivendo na pobreza, em comparação com 44% das famílias com três filhos ou mais.
A Resolution Foundation reforçou os apelos para que o governo acabe com o limite de dois filhos para conceder benefícios, e quer que o governo estenda o direito à refeição escolar gratuita a todas as famílias que recebem o chamado crédito universal.
Quando o Partido Trabalhista assumiu o poder em meados de 2024, após o período a que os dados se referem, o primeiro-ministro anunciou a criação de uma força-tarefa contra a pobreza infantil, prometendo não deixar “pedra sobre pedra” no combate às causas fundamentais do problema.
A estratégia intergovernamental de combate à pobreza infantil deve ser publicada nos próximos meses.
“Ninguém deveria viver na pobreza, e sabemos que o melhor caminho para as famílias em dificuldades saírem da pobreza é um trabalho seguro e bem remunerado”, declarou um porta-voz do Departamento de Trabalho e Previdência.
“É por isso que estamos reformulando nosso sistema de bem-estar social falido para que ele ajude as pessoas a conseguir bons empregos, aumentando o padrão de vida e colocando dinheiro no bolso das pessoas”, acrescentou.