Peru: o povoado que vive sem luz em frente a enorme usina solar
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- Author, Alejandro Millán Valencia
- Role, Do Peru para a BBC News Mundo
Os primeiros raios de luz que atingem Rosa Chamami todos os dias, quando se levanta antes do amanhecer, vêm do fogo que atinge o papelão, alimentando um fogão a lenha improvisado no quintal da sua casa.
Os pedaços de papelão têm uma identificação impressa: “Risen — Tecnologia Solar”.
São pedaços das caixas que foram usadas no transporte dos 800 mil painéis solares instalados, entre 2018 e 2024, nas usinas fotovoltaicas de Rubí e Clemesí, no Peru.
Localizadas na região de Moquegua, a cerca de 1,1 mil quilômetros ao sul da capital peruana, Lima, elas formam o maior complexo solar do país e um dos maiores da América Latina.
Observadas a certa distância, as longas fileiras de painéis solares enganam os olhos e parecem uma lagoa. Chamami pode vê-las do seu quintal enquanto prepara o café da manhã (hoje, mingau de quinoa).
Ela pode observá-las porque a usina de Rubí fica a 600 metros da sua casa e os painéis são iluminados por lâmpadas brancas, que contrastam com a escuridão do seu quintal.
Ela pode vê-las também porque, em meio a esse conjunto simétrico de linhas sobre o deserto, fica uma estrutura de escritórios e estações geradoras de luz.
“Preciso cozinhar de madrugada porque, à noite, é muito escuro”, afirma ela. “Não consigo ver nada.”
O quintal de Rosa Chamami é escuro porque, no povoado de Pampa Clemesí, onde ela mora, não há eletricidade. Nenhum dos seus 150 habitantes tem conexão à rede elétrica.
Alguns moradores contam com painéis solares doados pela empresa Orygen, dona da usina de Rubí. Mas a maioria não tem recursos para instalar um painel, com sua bateria e alternador.
Eles realizam a maior parte das suas atividades durante o dia. E, à noite, armados de pequenas lanternas, são forçados a viver quase nas trevas.
Pouco a pouco, o nascer do sol começa a dar forma às moradias de madeira, às ruas cobertas de pó, à casa de tijolos de Chamami e, mais adiante, no outro lado da rodovia Panamericana, aos caminhos formados pelos painéis solares perfeitamente alinhados.
“Quem dera que a usina nos ajudasse com a luz”, lamenta ela.
Ela não é a única a fazer este pedido. Os demais moradores do povoado repetem este clamor, desde que os painéis foram instalados no início da década de 2000, após tentativas em outros lugares da região.
Pedro Chará tem 70 anos e é vizinho de Chamami. Naquela época, ele já morava em Pampa Clemesí.
Enquanto tentava construir sua casa, ele testemunhou a construção da enorme usina solar de Rubí, com seus 500 mil painéis, a poucos metros dali.
“Algumas vezes, depois de esperar por tanto tempo, lutando pela água e pela luz, a única coisa que tenho vontade é de morrer”, destaca Chará. “Isso, morrer.”
A queixa coletiva é antiga e a Orygen afirma que a intenção de levar a luz elétrica a Pampa Clemesí está cada vez mais perto de se tornar realidade.
“Nós nos unimos ao projeto do governo de levar a energia elétrica para Pampa Clemesí e destacamos uma linha exclusiva de eletricidade para eles”, declarou à BBC News Mundo (o serviço em espanhol da BBC) o diretor-executivo da Orygen no Peru, Marco Fragale.
“Além disso, deixamos pronta a primeira fase do projeto de eletrificação, que consiste em 53 torres de energia prontas para funcionar”, segundo ele.
O trabalho da Orygen também incluiu a instalação de cerca de 4 mil metros de cabos subterrâneos, para levar o fornecimento de energia até o povoado.
Fragale afirma que a parte da empresa no compromisso já está completa. Ela exigiu um investimento de cerca de US$ 800 mil (cerca de R$ 4,45 milhões) e já é possível ver os postes do povoado. Mas a luz não chega.
Segundo o plano oficial, o Ministério de Minas e Energia do Peru precisa completar a eletrificação, levando, casa a casa, a energia que sai pela fila de postes da central Rubí. Em outras palavras, falta estender as redes elétricas por cerca de 2 km.
As obras deveriam ter começado em março passado, mas não houve nenhum progresso até agora.
“A única coisa que fizeram foi vir e deixar os postes de luz jogados”, conta Chará. Ele mostra o lugar onde estão armazenados alguns cilindros de concreto maciço, no meio da praça principal do povoado.
Viver sem luz
Os painéis precisam de apenas um leve toque do sol para gerar energia elétrica. E, quanto mais luz, mais energia.
Este lugar do mundo é um dos que têm maior radiação solar do planeta. Ele recebe cerca de 2,6 mil horas de sol por ano, mais do que, por exemplo, o Brasil ou a Argentina.
Em Moquegua (a principal cidade da região, onde fica a central Rubí), este número chega a 3.230 horas. Por isso, ela é chamada há décadas de capital do sol.
No final dos anos 1990, quando o mundo começou a voltar os olhos para a energia renovável, o Peru sabia que, para tirar proveito do sol, precisaria apostar neste deserto no sul do país.
Rubí produz cerca de 440 GWh, suficientes para iluminar 351 mil residências peruanas. Mas essa potência não fornece luz para um assentamento humano de 150 casas no outro lado da estrada.
Chamami foge do sol. Esta mesma radiação que pode fazer mover um país é perigosa para ela.
No deserto onde ela mora, o índice de raios ultravioleta é próximo da marca mais alta, de 16. Eles podem produzir desde ressecamento até câncer de pele.
Rosa Chamami já morava no povoado quando a usina começou a funcionar.
Sua família fez parte da onda migratória vinda da região de Puno, na fronteira com a Bolívia. Eles vieram buscar terrenos durante a reforma agrária promovida pelo regime do então presidente Juan Velasco Alvarado (1909-1977) nos anos 1970.
Sua primeira tarefa do dia, evitando o flagelo do sol, é sair para carregar o celular. Sua casa é uma residência improvisada, com um quarto para dormir e uma cozinha que também serve de despensa. Ela não tem nenhuma tomada.
“O telefone é fundamental”, ela conta. “Não sou daqui, mas de Puno, e preciso manter a comunicação com meus familiares.”
Chamami e seus vizinhos começam, então, uma romaria pelas casas daqueles que têm pelo menos um painel solar em funcionamento e podem oferecer um pouco de energia.
Um deles é Rubén Pongo. Na sua enorme casa, com vários quartos e quintais, um grupo de galinhas-d’angola disputa com dificuldade o espaço no teto livre dos painéis solares.
“Há algum tempo, a empresa doou painéis solares para a maioria dos moradores do povoado”, destaca ele. “Mas eu precisei comprar depois a bateria, o conversor, os cabos e pagar pela instalação.”
Pongo tem em casa outro objeto com o qual seus vizinhos só podem sonhar: uma geladeira. Mas o painel não fornece energia constante — apenas 10 horas por dia, na melhor das hipóteses.
“Por isso, às vezes preciso desconectar o refrigerador ou deixar só as luzes externas ligadas”, ele conta. “E, nos dias em que amanhece nublado, não há carga e, com isso, não há luz.”
A relação entre Pongo e a usina Rubí começou ainda antes que ela entrasse em funcionamento, em 2018.
Como a maioria dos moradores de Pampa Clemesí, ele chegou a este canto do litoral desértico do Peru com a promessa de terras cultiváveis.
Só depois de se mudar, ele percebeu que, para fazer o cultivo, era preciso ter água. Mas não havia. E, até que a escassez fosse resolvida, era preciso procurar um trabalho para sobreviver.
“Trabalhei na construção da usina”, relembra ele. “Depois, quando começou a funcionar, eles me contrataram como um dos encarregados da limpeza dos painéis solares.”
Agora, Pongo trabalha como chefe do armazém. Todos os dias, ele sai de casa e espera uma caminhonete, que o leva da rodovia Panamericana até a usina.
Embora fique na frente da sua casa, a usina fornece o serviço de transporte para evitar que ele cruze a estrada, o que é proibido pelas leis de trânsito do Peru. E ele também não precisa caminhar os mais de 500 metros que separam a portaria da usina do seu posto de trabalho.
Há apenas alguns minutos, um pouco antes de escurecer, essa mesma caminhonete o deixou de volta do trabalho, a poucos metros de casa.
No teto da casa, onde as galinhas-d’angola se acomodam para dormir ao lado do painel solar, pode-se ver a noite devorando o povoado. Mas, ao fundo, algumas poucas luzes recortam a paisagem, como se estivessem penduradas sobre um telão escuro.
“Aquela é a subestação elétrica da usina”, mostra ele, apontando para frente. “Parece uma vilinha iluminada.”
Revolução energética
Se existe uma história comum a todos os moradores de Pampa Clemesí é que, quando eles viajam para casa, vindo de outras partes do Peru, os ônibus não param no povoado porque, de noite, não se vê as casas.
Ou seja, Pampa Clemesí não existe na escuridão.
Para tentar solucionar este problema, a empresa construtora da usina de Rubí, a italiana Enel (atual Orygen, no Peru), instalou há alguns anos algumas torres que servem de iluminação pública.
Sensores acendem as luzes após o entardecer, mas a escuridão é tão densa que absorve os raios de luz. Os únicos reflexos que sobrevivem são os que iluminam o letreiro metálico que diz “Associação de Irrigação Pampa Clemesí”.
Mas Pampa Clemesí não é o único povoado por onde os ônibus passam sem parar à noite porque é impossível ver as casas na escuridão.
O abastecimento de eletricidade no Peru atinge cobertura de 96,2%, segundo os dados mais recentes. Este número está abaixo da média da América Latina (98,6%) e de países vizinhos, como a Bolívia, Equador e Colômbia.
“No Peru, devido à forma em que o país é projetado, com suas normas e leis, ocorreu um fenômeno, que foi a priorização da rentabilidade”, explica à BBC o engenheiro Carlos Gordillo, especialista em energia da Universidade de Santa Maria de Arequipa, no Peru.
“Não se fez o trabalho de conectar certas regiões que não possuem densidade considerável de população”, segundo ele.
Gordillo afirma, com dados do Ministério de Minas e Energia do Peru, que, apesar disso, o país passou por um avanço importante na cobertura de energia elétrica rural, que passou de 65%, em 2017, para 86%, no final de 2023.
Em várias declarações sobre o assunto, o governo peruano informou à BBC News Mundo que, até o ano de 2026, o país alcançará uma cobertura de 96% nas áreas rurais.
O Peru também atravessa uma revolução de energia renovável. Em 2024, a geração de energia elétrica com fontes alternativas atingiu 425 GWh no país, o que representa um crescimento de 96% em relação ao ano anterior.
E, para que esta revolução ocorra, alguns minerais são fundamentais, como o cobre.
Sua alta condutividade faz com que o “mineral estrela” da região seja empregado na produção de turbinas eólicas e painéis solares. E o Peru detém o título de segundo maior produtor de cobre do mundo, atrás apenas do Chile.
A escuridão
Rosa Chamami aperta o passo. Ela quer aproveitar os últimos rastros de luz para chegar à casa da sua tia.
Hoje, é a vez dela preparar o jantar para o grupo de vizinhos que a acompanha à noite: Pedro Chará e sua família, sua tia Júlia e Maria, uma moradora que, sem esta associação, não teria o que comer.
Na cozinha da casa da tia, eles esquentam um bule em uma estufa de gás. Sua única fonte de luz é uma lanterna com bateria solar. O jantar é mate com açúcar e tortas fritas.
“Não fazemos muita comida, é preciso ser rápido”, explica ela.
“Porque, antes, iluminávamos a cozinha com velas para cozinhar à noite, mas, às vezes, elas ficavam presas ou não as apagávamos bem, e tivemos vários acidentes. Então decidimos que é preciso fazer coisas mais simples.”
Chamami também conta que eles não comem muita proteína porque não têm como conservá-la.
Na cozinha, há embalagens de batatas, salsão e um pouco de charque (carne seca). Ela pega e analisa cada pedaço, até que se decide por um, mais escuro.
“Este vou ter que comer agora porque, senão, irá estragar mais e será impossível comê-lo.”
A falta de refrigeração talvez seja o maior problema para os que não têm acesso aos benefícios do painel solar.
A maior parte dos alimentos precisa ser comprada no mesmo dia do consumo. Mas, no povoado, mesmo com diversas lojas, não existe matadouro. É preciso viajar cerca de 40 minutos pela estrada até Moquegua ou outro povoado próximo, para comprar víveres frescos.
“Mas não temos sóis [a moeda do Peru] para viajar todos os dias de ônibus”, explica Chamami. “Por isso, comemos apenas o que conseguimos conservar assim, no ambiente.”
E não é só a refrigeração. Outro problema associado à falta de eletricidade é a precariedade dos meios disponíveis para cozinhar e manter o aquecimento.
Esta questão se estende por toda a região. A Corporação Andina de Fomento (CAF) afirma que cerca de 15 milhões de pessoas não contam com fornecimento estável de energia elétrica na América Latina.
Elas precisam recorrer a fontes de energia com alta emissão de carbono, como lenha ou querosene, que também geram doenças causadas pela contaminação respiratória.
Os moradores do povoado, com seu chá e suas tortas, se sentam em uma roda em torno da lanterna. Eles fazem uma oração para agradecer pelos alimentos, moradia, saúde e fazem um pedido de rotina: eles rezam para ter água.
Em seguida, eles jantam em silêncio. Podemos ouvir sua mastigação, o movimento das mandíbulas.
São sete horas da noite e esta é a última atividade do seu dia. Nas suas casas, não há televisão. Eles não usam o celular para fazer durar a carga por pelo menos dois dias. Alguns deles têm rádios a pilha.
“Nas nossas casas, a única luz vem de pequenas lanternas que gastam pouco e também iluminam pouco”, conta Chamami. “Mas, pelo menos, elas servem para sabermos onde está a cama.”
“Mamãe, veja quantas estrelas”, diz Raquel, a filha de Pedro Chará, de três anos de idade. Ela aponta para o céu e seus inúmeros lampejos que se combinam com o firmamento escuro sobre o deserto.
“E você consegue contá-las?”
“Sim! uma, duas, três…”
Outros problemas
Pampa Clemesí parece um depósito sobre a areia — um armazém onde vão parar as sobras da pujante usina do outro lado da estrada.
Alguns dos seus moradores já usaram os pallets que protegeram os painéis solares durante sua viagem da China até o Peru para fazer cercas e delimitar seus lotes.
Também há as caixas de “Risen — Tecnologia Solar” e bobinas enormes de madeira, que serviram para manter os cabos enrolados. Parece um povoado feito de retalhos que sobraram da construção da usina.
“Aproveitamos qualquer coisa que recebermos da usina”, confirma Pedro Chará. “A madeira que sobra, usamos para fazer móveis e as camas onde dormimos.”
O movimento é incomum nesta quarta-feira em que visitamos o povoado.
A construção que sustenta o cartaz metálico da Associação de Irrigação também é o salão das reuniões comunitárias. A maior parte dos moradores foi convocada porque uma empresa local deseja colaborar com a limpeza pública do povoado.
Além de não haver luz elétrica, também não há água encanada, nem saneamento, nem coleta de lixo, em Pampa Clemesí.
O único serviço oferecido pelo Estado é uma pequena escola pública construída em um canto do povoado, que atende 10 crianças. É uma casa moderna, que inclui um pequeno anfiteatro, onde os alunos podem brincar quando chove.
A reunião tem sua pompa e protocolo.
Juntando várias mesas, todas diferentes entre si, é montada a mesa diretora. Nela, presidem a reunião o porta-voz de uma mineradora da região, uma representante do governo local e o presidente da Junta de Ação dos Moradores, David Guillermo.
Guillermo passou mais da metade da vida transitando pela região. Ele chegou em meados da década de 1970, também vindo de Puno, em meio à reforma agrária.
Esses migrantes, ou seus descendentes que herdaram as terras, ainda representam a maior parte dos moradores de Pampa Clemesí.
O povoado tem este nome porque, durante a Guerra do Pacífico (1879-1884), foi ali que soldados chilenos pediram clemência ao exército peruano, para evitar sua execução.
“Desde que chegamos, lutamos para tornar estas terras cultiváveis”, queixa-se Guillermo.
Mas a paisagem local está muito longe de ser um oásis verde, repleto de cultivos. É um terreno cinzento, onde as casas de cor marrom e amarela parecem dados lançados do céu.
Os lotes são delimitados por pilhas de rochas e as ruas que os separam são indicadas por rodas velhas, encontradas abandonadas na estrada pelos moradores.
“A única forma de trazer água é com caminhões-tanque, mas a água é muito cara”, prossegue ele. “Ou pagamos para tornar as terras cultiváveis, ou pagamos para sobreviver.”
A maior parte das casas tem ao seu lado um tanque da marca Fotoplas. Eles foram doados pela empresa de eletricidade e armazenam a água que os moradores conseguem comprar de cada vez.
O metro cúbico da água na região pode chegar a custar cerca de seis vezes mais do que o valor de fornecimento por um aqueduto normal.
“Aqui, não temos nem centro de saúde”, lamenta Chará. “Se ficarmos doentes, precisamos ir para Moquegua. Eu prefiro morrer, mas nem o coronavírus nos viu.”
A pandemia de covid-19 teve efeitos devastadores em Pampa Clemesí, mas não devido às infecções.
O Peru foi o país com maior percentual de mortos per capita da região. E, frente à crise sanitária, muitas pessoas que moravam no povoado decidiram retornar aos seus locais de origem.
Pampa Clemesí passou de cerca de 500 habitantes para menos de 200, que é a sua população atual. E muitos deles passam apenas parte do ano no povoado e trabalham em empregos de colheita sazonal em diferentes partes do país.
Mas muitos moradores compareceram à reunião desta quarta-feira.
Depois de ler a ata, a representante do governo local anuncia que, para auxiliar na limpeza do povoado, cada chefe de família irá receber um ancinho, uma pá e sacos de lixo. Eles também pensam em trazer lixeiras de cores diferentes, para dar início a um sistema de reciclagem.
“Se houvesse eletricidade, todos voltariam”, opina Chará.
“Nós ficamos porque só nos resta isso, lutar. Mas, se aqui houvesse pelo menos luz, as pessoas viriam de novo e levaríamos tudo isso adiante.”
Uma leve brisa passa por cima de Pampa Clemesí, levantando a areia das ruas. Uma camada de arenito cobre os postes de luz da praça principal, um monumento de pedra esquecido.
A brisa faz lembrar que o anoitecer está chegando. E que, daqui a pouco, não haverá mais luz.
Os moradores que possuem painel solar precisarão esperar que saia o sol para ter luz em casa. E os demais só terão energia quando chegar a eletricidade pública.
A reunião dos moradores termina. Todos saem com as pás e ancinhos em punho. Eles carregam o otimismo coletivo da promessa de um povoado melhor, que já dura anos.
O entardecer surge sobre a superfície plana do deserto. E, como fizeram ontem, Rosa Chamami e Pedro Chará se preparam para mais uma noite sem luz.
Por que eles não saem dali?
“Por causa do sol”, responde Chamami. “Aqui, sempre temos sol.”