Israel ataca a Síria: por que israelenses ampliaram ofensiva no país
Crédito, Abdulkarem Al-Mohammad/Anadolu via Getty Images
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- Author, Adam Durbin e Alex Smith
- Role, BBC News
Israel intensificou seus ataques aéreos à Síria nesta quarta-feira (16/7), incluindo sobre a capital do país, Damasco.
O objetivo declarado dos ataques é intervir em apoio à comunidade drusa, minoria no país, que enfrenta um conflito com outros grupos armados sírios.
Três pessoas foram mortas nos ataques israelenses a Damasco, segundo o Ministério da Saúde da Síria. Outras 34 ficaram feridas, segundo a atualização mais recente do ministério sobre as consequências dos ataques.
O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, divulgou um vídeo de um noticiário ao vivo, mostrando um ataque direto a um edifício de Damasco. E, pouco depois do início dos ataques israelenses à capital síria, Katz publicou uma declaração de intenções nas redes sociais.
“Os alertas em Damasco terminaram”, escreveu o ministro. “Agora, virão golpes dolorosos.”
Katz afirma que o exército israelense “continuará a operar energicamente” em Suweida, a área do sul da Síria onde Israel interveio recentemente em conflitos entre a minoria drusa e outros grupos armados.
Falando diretamente para a comunidade drusa em Israel, ele afirmou que as Forças de Defesa do país (IDF, na sigla em inglês) irão proteger a população drusa da Síria.
“O primeiro-ministro Netanyahu e eu, como ministro da Defesa, firmamos um compromisso — e iremos mantê-lo”, destaca Katz.
Crédito, Reuters
Os ataques de Israel a Damasco nesta quarta-feira (16/7) surgiram após o início de conflitos armados entre combatentes beduínos sunitas e milícias drusas no sul da Síria, ocorrido no fim de semana passado.
A violência eclodiu na cidade predominantemente drusa de Suweida no domingo (13/7), dois dias depois que um comerciante druso foi supostamente sequestrado enquanto viajava na estrada para Damasco.
Na terça-feira (15/7), depois de dois dias de conflitos mortais, Israel declarou ter bombardeado forças do governo sírio em volta de Suweida.
As forças sírias foram acusadas de também atacarem os drusos. O governo do país não respondeu a acusações específicas, mas condenou os ataques à minoria e afirmou que suas tropas estão presentes para restaurar a ordem na região.
Crédito, Reuters
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou ter ordenado ataques às forças e armamentos na região porque o governo da Síria “pretendia usá-los contra os drusos”. Já a Síria condenou o envolvimento de Israel.
Pelo menos 200 pessoas foram mortas desde o início dos conflitos no domingo, segundo informou, na terça-feira (15/7), o grupo de monitoramento britânico Observatório Sírio para os Direitos Humanos.
Em declaração, a presidência da Síria classificou os combates em andamento entre as milícias drusas e as tribos de beduínos como inaceitáveis em qualquer circunstância e contrárias aos seus princípios.
Israel começou a intervir no conflito recentemente, afirmando sua intenção é proteger a comunidade drusa contra os ataques.
A declaração destacou ainda que eles irão reafirmar seu “total compromisso” com a investigação de todos os incidentes relatados e não permitirão que os responsáveis saiam sem punição.
O governo sírio afirmou que trata com a mais alta prioridade a “proteção da segurança e da estabilidade” em todo o país e que a justiça é o seu padrão de operações.
A nota concluiu reafirmando para os moradores de Suweida (uma cidade síria predominantemente drusa) que seus direitos sempre serão protegidos e que eles não permitirão que ninguém prejudique sua segurança ou estabilidade.
Quem são os drusos
A fé drusa é um ramo do Islamismo xiita, com identidade e crenças próprias. Eles ocupam historicamente uma posição precária no ordenamento político da Síria.
Metade dos seus cerca de um milhão de seguidores vive na Síria e compõem cerca de 3% da população do país. Existem também comunidades menores no Líbano, Israel e nas Colinas de Golã ocupadas.
No início deste ano, Benjamin Netanyahu alertou que não iria “tolerar nenhuma ameaça à comunidade drusa no sul da Síria” pelas novas forças de segurança do país.
O primeiro-ministro israelense também exigiu a desmilitarização completa de grande parte do sul. Ele afirmou que Israel considera o Hayat Tahrir al-Sham (HTS) — o grupo islâmico sunita do novo presidente da Síria, Ahmed al-Sharaa — como uma ameaça.
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Os ataques israelenses à Síria podem parecer um show de força, mas eles refletem mais do que um simples braço de ferro, segundo a correspondente da BBC no Oriente Médio, Lina Sinjab.
“O governo da Síria pós-Assad ainda está na infância”, informa ela de Beirute, no Líbano. “Seu exército e suas forças de segurança são fracas, fragmentadas e lutam para manter o controle.”
Imediatamente após a queda do ex-ditador sírio Bashar al-Assad, em dezembro passado, Israel lançou uma esmagadora onda de ataques aéreos ao país, atingindo mais de 400 instalações militares em apenas 48 horas.
“A intenção foi clara: evitar qualquer militarização rápida que pudesse ameaçar a segurança de Israel, particularmente perto da sua fronteira ao norte”, segundo a correspondente.
“A nova liderança da Síria sinalizou que não tem disposição para uma guerra regional e negociações secretas com Israel podem estar em andamento, com o apoio dos Estados Unidos.”
“Mas Israel considera uma linha vermelha a presença do que qualifica como forças alinhadas ao Islamismo perto das comunidades drusas e da zona tampão de Israel”, segundo Sinjab. “Os ataques são um instrumento tanto de dissuasão, quanto de alerta.”
Mas a jornalista destaca que a campanha traz suas consequências.
“Ela está despertando a ira nas ruas da Síria e até dividindo opiniões entre os drusos. Parte deles rejeita qualquer associação com Israel.”
“Em última análise, estes ataques são políticos, além de militares”, explica Sinjab. “Eles se destinam a moldar a emergente ordem pós-Assad antes que ela se estabeleça.”