9 de julho: Por que este deve ser um dos dias mais curtos da história da Terra
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Sabe aquela sensação generalizada de que um dia não é suficiente para resolver todas as pendências que temos pela frente?
Pois saiba que na quarta-feira (9/7) essa noção poderá se tornar parcialmente verdadeira.
Isso porque há uma grande probabilidade de este ser um dos dias mais curtos da história de nosso planeta.
Embora nenhum cientista saiba exatamente o que está por trás desse fenômeno (entenda mais a seguir), estudos recentes revelam que o movimento de rotação — aquele que a Terra realiza ao redor de seu próprio eixo — parece estar se acelerando nos últimos cinco anos.
Mas fique tranquilo: a mudança é tão sutil que não há necessidade de fazer quaisquer ajustes nos ponteiros dos relógios, embora alguns equipamentos mais sensíveis (como satélites ou GPS) possam necessitar de acertos técnicos.
Rotação acelerada
O alerta foi feito pelo astrofísico Graham Jones, do site timeandate.com, que realiza medições precisas do tempo com o auxílio de ferramentas avançadas.
Numa publicação, o especialista explica que o movimento completo de rotação da Terra dura exatamente 86.400 segundos — o equivalente a 24 horas.
No entanto, desde 2020, o planeta parece estar mais apressado.
Nos períodos de verão no Hemisfério Norte e inverno no Hemisfério Sul, ele tem concluído a rotação alguns milissegundos mais rápido do que o esperado.
Para colocar em perspectiva, um milissegundo é algo muito ligeiro e equivale a 0,001 segundo. Uma piscada de olho demora 100 milissegundos. E uma batida de asas da abelha leva ao redor de 5 milissegundos.
Mas voltemos à discussão do momento: segundo Graham, antes de 2020, o dia mais curto até então registrado por relógios atômicos (que fazem uma medição muito precisa do tempo) teve -1,05 milissegundos.
Na prática, isso significa que a rotação completa no próprio eixo foi concluída momentos antes do relógio completar os 86,400 segundos.
E isso tem se repetido com frequência recentemente: nos últimos anos, esse encurtamento do dia se repetiu todos os anos.
Foram registrados -1,66 milissegundos em 5 de julho de 2024 (o novo recorde), além de -1,47 em 9 de julho de 2021, -1,59 em 30 de junho de 2022 e -1,31 em 16 de junho de 2023.
Os especialistas projetam que essa “perda de tempo” deve se repetir agora em 2025.
E, segundo Jones, isso pode acontecer em três datas específicas nas próximas semanas: 9/7, 22/7 e 5/8.
Nesses dias, a Lua está mais afastada da Linha do Equador e exerce uma menor influência gravitacional.
E a predição é que a rotação se conclua entre -1,30 a -1,51 milissegundos nessas datas estipuladas.
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Por que isso está acontecendo?
Mas, afinal, o que explica essa “pressa” da Terra?
Os cientistas ainda não têm muita certeza sobre isso. Num artigo escrito por Jones no site timeandate.com, são citadas algumas possíveis explicações.
“Variações de longo prazo na velocidade de rotação da Terra podem ser afetados por uma série de fatores, como os movimentos complexos do núcleo do planeta, os oceanos e a atmosfera”, escreve ele.
O fato de termos relógios atômicos capazes de medições mais precisas apenas a partir dos anos 1950 também dificulta o entendimento dessa dinâmica ao longo de um período mais prolongado.
No mesmo texto, o pesquisador Leonid Zotov — descrito como uma autoridade global nos movimentos de rotação da Terra — admite que ninguém esperava um fenômeno desses.
“A maioria dos cientistas acredita que isso tem algo a ver com o interior do planeta. Modelos oceanográficos e atmosféricos não são suficientes para explicar essa grande aceleração”, pontua o especialista, que atua na Universidade Estadual de Moscou, na Rússia.
Zotov projeta que a tendência para os próximos anos é de uma reversão do fenômeno. Com isso, o planeta que habitamos vai entrar numa fase de desaceleração.
Em entrevista ao programa Today, da BBC Radio 4, no Reino Unido, a professora Hannah Fry observou que, “ao longo da História, nós sempre definimos nosso tempo pelo ritmo de rotação da Terra”.
“Mas nosso planeta não é lá muito bom em termos de medição do tempo. Afinal, habitamos uma pedra meio desengonçada que flutua no espaço”, brincou ela, que é professora de entendimento público da Matemática na Universidade de Cambridge, na Inglaterra.
Fry destaca que a rotação não é um movimento consistente e sofreu variações importantes ao longo das eras geológicas.
“O planeta costumava girar muito mais rápido no passado. A gente pode ver isso ao analisar corais ancestrais e contar os anéis internos que eles apresentam, de uma forma parecida ao que fazemos com as árvores”, explica ela.
“Há cerca de 430 milhões de anos, tínhamos 420 dias ao longo de um ano”, exemplifica ela.
“Ou seja, havia muito mais noites entre um aniversário e outro.”
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A percepção de tempo
Já para o filósofo Julian Baggini, que escreveu sobre como o conceito de tempo é percebido por diferentes culturas, a experiência humana sobre o tempo é muito distinta do entendimento científico puro.
“Na Física, não há presente, passado ou futuro. Tampouco há uma direção para a qual o tempo está indo”, avaliou ele, também em entrevista ao programa Today da BBC Radio 4.
No entanto, continua o filósofo, há uma enorme variação cultural na forma como observamos o passar de anos, estações do ano, meses, semanas, dias, horas, minutos, segundos — e, por que não, milissegundos.
“É interessante pensar que nós, seres humanos, experimentamos o momento presente, como outros animais. Mas, ao mesmo tempo, temos essa noção de futuro e de passado, de planejar e de preservar memórias”, reflete ele.
Por fim, Baggini destaca que, em diferentes momentos da História, a forma de perceber o tempo variou bastante.
“No mundo ocidental contemporâneo, temos essa noção do tempo ter uma direção, um propósito.”
“Na época de Cristo, o tempo era visto como um caminho para a salvação.”
“Já comunidades tradicionais encaram essa passagem através dos ciclos: o nascer e o pôr do sol, as estações do ano…”
“Era uma ideia de que tudo volta onde estava antes”, conclui ele.