Trump e África do Sul: a ‘emboscada’ a Ramaphosa na Casa Branca com alegação de ‘perseguição a brancos’
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- Author, Redação
- Role, BBC News Mundo
O presidente americano acusou o governo sul-africano de confiscar terras de fazendeiros brancos, promulgar políticas discriminatórias contra brancos e adotar uma política externa antiamericana.
Trump recebeu seu homólogo sul-africano com uma agenda focada em comércio e cooperação tecnológica, mas no pano de fundo estava um cenário de deterioração na relação bilateral, após vários conflitos diplomáticos nos últimos meses.
Em fevereiro, Trump cortou todo o financiamento à África do Sul ao emitir uma ordem executiva acusando o governo de Ramaphosa de apoiar inimigos dos EUA pelo mundo, como o Irã e o grupo palestino Hamas.
A reunião começou cordialmente, com Trump descrevendo Ramaphosa como “um homem verdadeiramente respeitado em muitos círculos” — embora tenha dito depois que, em outros meios, o sul-africano seria “considerado um pouco controverso”.
O presidente sul-africano, por sua vez, afirmou que o objetivo de sua visita era “restabelecer relações com os Estados Unidos”.
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Mas, então, as luzes no Salão Oval foram diminuídas, e Trump apresentou um vídeo mostrando Julius Malema, líder da oposição sul-africana, cantando uma música polêmica que inclui a frase “atirar no bôer” — uma referência à comunidade branca de origem holandesa do país africano.
“É algo terrível, nunca vi nada parecido”, comentou Trump enquanto as imagens eram projetadas, afirmando que “estão matando essas pessoas” e repetindo a palavra “genocídio”.
Visivelmente desconfortável, o presidente sul-africano defendeu o sistema democrático de seu país e destacou que “a criminalidade na África do Sul afeta tanto brancos quanto negros”.
Ramaphosa enfatizou que Malema e seu partido não fazem parte do governo e que as declarações destes não representam a política oficial.
Quando Trump perguntou se o sul-africano sabia onde o vídeo havia sido gravado, Ramaphosa respondeu: “Não. Gostaria de saber, porque nunca o vi.”
Trump rebateu: “É na África do Sul”.
O presidente dos EUA também mostrou notícias sobre pessoas brancas assassinadas na África do Sul.
O americano afirmou que brancos estariam saindo da África do Sul por questões de segurança.
“Suas terras estão sendo confiscadas e, em muitos casos, elas estão sendo mortas”, disse.
“Quando eles tomam a terra, matam o fazendeiro branco.”
Ramaphosa reconheceu que já ocorreram assassinatos de fazendeiros brancos sul-africanos, mas argumentou que, segundo os dados, esse tipo de crime compõe uma pequena fração no quadro geral da criminalidade.
Em relação à desapropriação de terras, uma lei de 2024 permite que o governo confisque terras, sem compensação, para fins públicos.
Análise: ‘Trump arma emboscada para Ramaphosa’
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Por Bernd Debusmann Jr., correspondente da BBC na Casa Branca
Desde que Trump voltou à presidência, vários líderes estrangeiros visitaram a Casa Branca — mas esta é a primeira vez que vemos esse tipo de emboscada contra um deles.
O vídeo projetado por Trump parece ter sido preparado com antecedência: Trump estava pronto para se dirigir às telas (que normalmente não ficam no Salão Oval) assim que o assunto do “genocídio” de fazendeiros brancos fosse mencionado novamente.
Em determinado momento, Trump chegou a falar enquanto o vídeo era exibido, narrando aos presentes o que estava sendo dito.
A atmosfera na sala mudou, com Trump folheando furiosamente uma pilha de papéis sobre a violência na África do Sul.
A delegação sul-africana parecia não saber como reagir.
Dessa vez, Trump chegou preparado, munido de materiais que ele acreditava sustentar seus argumentos.