Guerra na Ucrânia: como ligação entre Trump e Putin muda o rumo das negociações para a paz
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- Author, Anthony Zurcher
- Role, Correspondente da BBC News na América do Norte
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- Reporting from Washington DC
Na semana passada, ele disse que a situação não seria resolvida até que ele e o presidente russo, Vladimir Putin, pudessem “se reunir” e discutir o assunto pessoalmente.
Na segunda-feira (19/05), a situação mudou novamente.
Após um telefonema de duas horas com Putin, Trump disse que as condições de um acordo de paz só poderiam ser negociadas entre a Rússia e a Ucrânia — e talvez com a ajuda do papa Leão 14.
Ainda assim, o presidente americano não perdeu o otimismo em relação à perspectiva de paz, ao publicar nas redes sociais que os dois lados “iniciariam imediatamente” as negociações para um cessar-fogo e o fim da guerra.
Mas esse sentimento parece estar em desacordo com a visão russa.
Putin apenas disse que seu país está pronto para trabalhar com a Ucrânia na elaboração de um “memorando sobre um possível futuro acordo de paz”.
Conversas sobre memorandos e um “possível futuro” de paz dificilmente parecem ser o tipo de base sólida sobre a qual acordos duradouros são construídos rapidamente.
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Putin enfatizou novamente que qualquer resolução teria que abordar as “causas profundas” da guerra — que a Rússia alegou no passado ser o desejo da Ucrânia de estreitar os laços com a Europa.
Após a ligação telefônica, Trump compartilhou na rede Truth Social que a Rússia e a Ucrânia “iniciarão imediatamente as negociações” para um cessar-fogo.
O presidente americano acrescentou que “as condições para isso serão negociadas entre as duas partes”.
Mas existe a possibilidade de que a recente posição de Trump sobre a guerra na Ucrânia seja um sinal de que os EUA podem abandonar a mesa de negociações.
Mais tarde na segunda-feira, Trump afirmou que não se afastaria da mediação das negociações entre os dois países, mas reconheceu que tinham uma “linha vermelha na cabeça”, em alusão às limitações de uma mediação americana.
“Grandes egos envolvidos, mas acho que algo vai acontecer”, disse ele.
“E se não acontecer, eu simplesmente recuarei e eles terão que continuar.”
Tal movimento, no entanto, traz consigo um conjunto próprio de questões — e riscos.
Se os EUA “lavarem as mãos” sobre essa guerra, como o vice-presidente, J.D. Vance, e o secretário de Estado, Marco Rubio, também ameaçaram, isso significa que o país também encerraria qualquer apoio militar e de inteligência à Ucrânia?
E, se for este o caso, então pode ser um desdobramento que a Rússia, com mais recursos em comparação à Ucrânia, acolheria com satisfação.
Essa perspectiva é suficiente para preocupar o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
“É crucial para todos nós que os Estados Unidos não se distanciem das negociações e da busca pela paz”, disse ele, também na segunda-feira, após o telefonema entre Trump e Putin.
O presidente dos EUA expressou frustração tanto com Putin quanto com Zelensky, à medida que os esforços para resolver o conflito de três anos se arrastam.
Ele acusou o líder ucraniano de “apostar na Terceira Guerra Mundial” em uma reunião explosiva que aconteceu em fevereiro na Casa Branca.
Em abril, ele disse estar “muito irritado” com Putin depois que as negociações continuavam estagnadas.
Se deixarmos de lado a retórica de segunda-feira, parece que Ucrânia e Rússia estão prontas para continuar algum tipo de conversa — e qualquer tipo de negociação é um progresso após quase três anos de guerra.
Resta saber se a equipe diplomática russa será maior do que a delegação de baixo escalão que viajou a Istambul, na Turquia, para se encontrar com os ucranianos no dia 16 de maio.
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Trump mantém a promessa de redução das sanções à Rússia — e novos acordos comerciais e investimentos econômicos — como o incentivo que levará Putin a um acordo de paz.
Ele mencionou essas ofertas novamente em seus comentários após a ligação telefônica.
Por outro lado, não foram discutidas quaisquer consequências negativas à continuidade do conflito, como novas sanções aos bancos russos e às exportações de combustíveis.
O presidente dos EUA alertou no mês passado que não toleraria que Putin o manipulasse e disse que a Rússia não deveria ter como alvo áreas civis.
Mas nessa mesma segunda-feira (19/05), a Rússia lançou seu maior ataque de drones contra cidades ucranianas.
Portanto, a ligação telefônica entre os dois líderes mundiais deixa claro que qualquer cessar-fogo ou acordo de paz ainda parece bem distante.