‘Ou falseou a verdade na polícia ou está falseando aqui’: Moraes confronta general Freire Gomes em depoimento sobre suposto plano de golpe
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O depoimento de Freire Gomes, ex-comandante do Exército e general da reserva, ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (19/05) foi marcado por momentos de tensão entre o militar e o ministro Alexandre de Moraes, que conduziu a audiência das testemunhas em processo sobre uma suposta trama golpista.
Em determinado momento, Moraes chegou a advertir Freire Gomes sobre a necessidade de ele dizer a verdade em seu depoimento.
A advertência aconteceu quando o procurador-geral da República, Paulo Gonet, perguntou a Freire Gomes sobre qual teria sido a reação do almirante Almir Garnier, ex-comandante militar da Marinha, durante a apresentação da minuta de um decreto que, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), continha medidas golpistas.
Em sua resposta, Freire Gomes disse não ter visto “conluio” entre Garnier e o ex-presidente Jair Bolsonaro — ambos réus no processo.
“Expus a ele a importância de avaliar todas as condicionantes, inclusive o dia seguinte de uma tomada de decisão que fosse… Eu estava focado na minha lealdade de ser franco ao presidente do que nós pensavamos”, afirmou Freire Gomes.
“O brigadeiro Baptista Jr. foi contrário a qualquer coisa naquele momento (…) Que eu me lembre, o que o ministro da Defesa fez foi ficar calado. E o almirante Garnier tomou a postura dele, eu acho que ele também foi surpreendido por aquilo tudo ali e que não tinha opinião efetiva naquele momento. (…) Apenas demonstrou, vamos dizer assim, o respeito ao comandante em chefe das Forças Armadas. Não interpretei como qualquer tipo de conluio”, afirmou o general.
Em seguida, Moraes tomou a palavra e advertiu Freire Gomes sobre a necessidade de o general falar a verdade em seu depoimento.
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Moraes citou o depoimento dado por Freire Gomes à Polícia Federal em que o ex-comandante do Exército disse que Garnier teria se colocado “à disposição” do presidente.
“Ou o senhor falseou a verdade na polícia ou está falseando a verdade aqui”, disse Moraes.
Ao retomar a palavra, Freire Gomes negou que estivesse mentindo.
“Com 50 anos de Exército, eu jamais mentiria. O que eu quis relatar aqui foi o que eu relatei agora… Que eu e o brigadeiro Baptista Jr. nos colocamos contrários ao assunto (…) Que eu não me recordo efetivamente da posição do ministro da Defesa, e que o almirante Garnier tomou essa postura de ficar com o presidente.”
“Eu não posso inferir o que ele [Garnier] quis dizer com estar com o presidente.”
“Não omiti o dado. Eu sei plenamente o que eu falei (…) Agora a intenção do que ele [Garnier] quis dizer com isso não me cabe”, disse o militar.
A audiência com Freire Gomes foi a primeira em uma série de depoimentos que o STF colherá no processo sobre o chamado núcleo 1 de uma suposta trama golpista — que foi denunciada pela PGR e, após ser aceita pela Primeira Turma do STF, tornou-se um processo.
Esse é considerado o núcleo crucial, de onde teriam partido as principais decisões e ações da suposta trama. Nele, estão Bolsonaro e mais sete réus.