8 frutas raras que você só pode provar na Amazônia
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- Author, Nic Stevens
- Role, BBC Travel
A Amazônia não é apenas o maior e mais biodiverso ecossistema do mundo — é também um dos mais saborosos. Entre as milhares de espécies nativas, cerca de 220 árvores são conhecidas por produzir frutos comestíveis, muitos que nunca saíram da floresta.
Alguns são delicados demais para exportação, enquanto outros são pouco conhecidos fora das comunidades que os cultivam há gerações. Mas, ao longo do Rio Amazonas e de seus afluentes — desde as florestas das terras altas do Peru até as planícies alagáveis do norte do Brasil — viajantes podem encontrar bancas de mercados e balcões de café repletos de sucos que capturam o sabor da floresta.
São frutas que dificilmente você consegue encontrar engarrafadas ou em pó, geralmente usadas para fazer sucos — poucas horas depois de serem colhidas —, que são servidos gelados no calor tropical.
Aqui estão oito frutas que valem a pena ser descobertas, seja pelos sabores intensos, pelo significado cultural ou pela experiência de provar algo novo.
1. Aguaje
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Nas encostas orientais dos Andes, onde os rios despencam em dramáticas cachoeiras rumo à Bacia Amazônica, os viajantes encontrarão o aguaje, fruto da palmeira moriche.
Na pequena cidade peruana de Tingo Maria, as prateleiras dos mercados ficam cheios do fruto de aparência semelhante a um tatu.
Os moradores locais deixam o aguaje de molho na água por um ou dois dias, antes de tirar a casca marrom que revela uma polpa alaranjada. A polpa é então molhada, amassada e transformada em aguajina, uma bebida cremosa.
Alguns moradores dizem que o fruto contém compostos semelhantes ao estrogênio, e que os homens devem consumir com cuidado, sem exagero, embora haja pouca evidência científica sobre isso.
“A aguajina é muito útil — para os ossos, para a pele, para o rosto — especialmente para as mulheres”, diz Gianina Pujay, que vende o suco no mercado de frutas de Tingo Maria.
2. Cocona
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Na mesma região, a cocona, uma fruta tropical parente do tomate, dá origem a um suco ácido que lembra uma mistura de abacaxi com mamão, com uma textura espessa e quase oleosa.
“Muitas frutas amazônicas são consumidas em forma de suco porque a polpa é ácida, fribosa ou difícil de comer crua, como é o caso da cocona”, explica Miluska Carrasco, pesquisadora e nutricionista no Instituto de Pesquisa Nutricional do Peru.
“É também uma forma prática de usá-la rapidamente antes de estragar.”
3. Camu-camu
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Descendo pelas encostas dos Andes até a Bacia Amazônica, os rios se acalmam e se transformam em verdadeiras vias de atividade comercial.
Às margens do Rio Ucayali está Pucallpa, uma cidade portuária fluvial que marca o ponto mais distante que o sistema rodoviário do Peru alcança no coração da Amazônia.
Lá, onde balsas com contêineres, barcos de passageiros e canoas movimentam mercadorias por toda a floresta, o suco de camu-camu é uma bebida indispensável, que qualquer um deveria provar.
O camu-camu, um fruto pequeno, ácido e parecido com uma ameixa, tem gosto de morango azedo com uma pitada de pêssego, e é o preferido dos vendedores de suco no local.
“Tem mais vitamina C do que as laranjas”, diz Carrasco, “e também outro compostos bioativos”. Enquanto uma laranja fornece cerca de 6mg de vitamina C por 100g, o camu-camu contém mais de 2.000 mg na mesma quantidade de polpa.
A safra do camu-camu é curta, geralmente entre janeiro e março, então não deixe de aproveitar esse suco quando tiver oportunidade. Os moradores também comem a fruta com sal — é só lembrar de cuspir as sementes.
4. Tucumã
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No coração do estado mais extenso do Brasil, o Amazonas, a cerca de 1.100 quilômetros leste de Pucallpa em linha reta (e pelo menos uma semana ou mais de viagem de barco), as palmeiras de tucumã produzem um fruto alaranjado que só está em época entre fevereiro e agosto.
Durante esse período, o tucumã é consumido no café da manhã com farinha de mandioca e é um ingrediente essencial do x-caboquinho, um sanduíche típico do estado, que combina fatias da fruta com queijo coalho e pedaços de banana frita.
Para transformar o tucumã — conhecido pela sua polpa fibrosa — em suco, os vendedores o descascam, batem no liquidificador e depois coam para reduzir as lascas da fruta a uma polpa. Em seguida, o líquido é filtrado.
De acordo com Francisco Falcão, um agricultor da comunidade de Bom Jesus, na Floresta Nacional de Tefé, “as pessoas dizem que o tucumã é bom para comer e faz bem para a vista e para a pele”.
De fato, a fruta é rica tanto em manganês quanto em cálcio. Enquanto um kiwi, que tem uma quantidade relativamente alta de cálcio, contém cerca de 30 mg de cálcio por 100 g, o tucumã pode conter cerca de quatro vezes mais.
5. Pupunha
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Também na região de Tefé, “há uma palmeira da qual as pessoas comem a fruta”, conta Falcão.
“A pupunha é uma planta que a gente começa a colher em dezembro e termina em fevereiro.”
Nas partes da Amazônia em que as pessoas falam espanhol, essa fruta oleosa da palmeira é conhecida como pejibaye ou pijuayo, e é uma fonte de gorduras naturais, além de vitamina B1 e vitamina E.
A pupunha cresce em cachos de frutos alaranjados ou avermelhados, com formato que lembra pequenas bolotas. Ela não pode ser consumida crua, mas, uma vez que é cozida, torna-se um lanche consistente, parecido com uma batata-doce.
A fruta também pode ser transformada em um suco cremoso e alaranjado, quando completamente processada. No Peru, comunidades da floresta fermentam a polpa para preparar uma bebida alcoólica chamada de chica ou masato, especialmente durante o período de colheita.
6. Cupuaçu
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Em Manaus, capital do Amazonas, a refrigeração permite que os moradores e visitantes aproveitem as frutas de várias formas.
A casca espessa do cupuaçu guarda uma coleção de sementes envolvidas por uma polpa branca, que pode ser transformada em um suco levemente ácido. Mas, recentemente, os moradores têm incorporado o suco ao sorvete, uma tendência que já chegou em outras partes do Brasil.
O cupuaçu tem gosto de um abacaxi cremoso, o que é surpreendente, já que a fruta é um parente próximo do cacau.
“É do mesmo gênero do cacau e as pessoas fazem cupulate [um chocolate de cupuaçu]”, explica Daniel Tregidgo, pesquisador no Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.
“Quando você vai aos mercados, vê pilhas de sementes de cupuaçu. Eu olho para aquilo e penso: isso é chocolate hipster.”
Por que, então, muitas pessoas ainda não ouviram falar do cupulate?
Na opinião de Tregidgo, “é uma questão de investimento. Se você pega algo do meio da Amazônia e tenta levar para o mercado global sem explorar, isso é um pouco complicado”.
As barras feitas a partir do cupuaçu têm gosto de chocolate, mas preservam uma leve acidez.
7. Jenipapo
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No delta do Amazonas, o jenipapo é conhecido pelo seu tradicional uso como corante azul e tinta de tatuagem temporária. A fruta, por si só, que cresce tanto na Amazônia quanto no litoral brasileiro, tem uma polpa amarelada e é uma ótima fonte de vitamina B1 e zinco.
Embora o jenipapo possa ser consumido na forma de suco fresco, que lembra um pouco damascos secos, vale a pena provar o licor de jenipapo, uma cachaça infusionada servida em pequenos bares e botecos na Amazônia.
8. Açaí
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Em Belém, por exemplo, os vendedores usam prensas pneumáticas para extrair a polpa da fruta, que é vendida em sacos transparentes e consumida diretamente em tigelas, com colher.
Fora de sua área natural, em outras partes do Brasil, as pessoas costumam consumir a polpa em iogurtes e sorvetes, ou versões adoçadas e congeladas.